Carros elétricos mudam perfil de oficinas e de mecânicos
O pedido dos mecânicos 'acelere para eu ouvir o motor' e as manchas de óleo no chão das oficinas prometem tornar-se história, à medida que a opção por carros elétricos cresce. E até os nomes vão mudar.
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"Estamos num centro de assistência de veículos elétricos e baterias", diz à agência Lusa o presidente executivo (CEO) da EVolution, Carlos Jesus, enquanto mostra os espaços de um armazém do Prior Velho, em Loures, onde está vedada a entrada de veículos com motores de combustão. A não ser para se tornarem elétricos e mais 'amigos' do ambiente.
Por ali também há carros elevados para a mecânica estar acessível, mas é fácil assinalar outras diferenças em relação às oficinas tradicionais: os avisos escritos de alta tensão e as baias a isolar uma mesa cheia de baterias elétricas.
"É claramente diferente, não só pelo cheiro e pelo barulho, mas pelo tipo de trabalho que se faz aqui, a nossa especialização é só na parte elétrica", embora não se ignorem pastilhas de travão, amortecedores e suspensão, garante o CEO, que sublinha a "assistência muito especializada", especialmente na parte elétrica de alta tensão.
E, por isso, na equipa deste centro há especialistas na área da engenharia mecânica, mas sobretudo na engenharia eletrotécnica e/ou mecatrónica.
"O futuro das oficinas é contratarem pessoas altamente especializadas", prevê Carlos Jesus, cujos planos de expansão da sua empresa passam por 'franchisar' o conceito, numa altura em que vê a faturação crescer a dois dígitos quando completa um ano de atividade.
Com os olhos no futuro, esta espécie de oficina já faz experiências na conversão de um todo-o-terreno de 1990, com um motor 2.5 tdi, tração integral e mais de 450 mil quilómetros. Tudo começou com os 'tuk tuk', os pequenos veículos que transportam sobretudo turistas.
João Guerra, diretor de 'marketing' da empresa, nota a contradição deste 4x4 ter sido concebido "supostamente 'amigo' do ambiente", "porque é um meio natural onde ele anda, só que depois polui muito".
Mas, na década de 90 do século XX, não havia outra alternativa, como neste século XXI e, por isso, procura-se dar uma "nova vida" ao todo-o-terreno e garantir ao condutor uma "experiência mais agradável, porque sendo elétrico tem muito mais binário, mas também pode ouvir todos os sons da natureza que o rodeiam"
A tração deste Land Rover Discovery é um dos desafios da lista de 'dores de cabeça' que inclui o desenvolvimento de baterias para cumprir o objetivo de uma autonomia real de 130 a 150 quilómetros e carregamento rápido, e garantir que o motor ou motores vão gerir potência necessária.
O projeto é apresentado como um "bom exemplo do que é a economia circular", porque estão a ser reaproveitadas partes de outros veículos em final de vida ou sinistrados, que não podem estar na estrada, mas cuja componente elétrica de baterias e de motores pode ser aproveitada.
À pergunta sobre se todos os carros podem ser convertidos para elétricos, não há hesitação na resposta afirmativa. Mais reservas surgem quanto a custos.
"Eu acredito que com o passar do tempo e com o preço das baterias e de todos os componentes a baixar, o que está efetivamente a baixar, daqui a uns meses, um ano, provavelmente, já começa a compensar converter qualquer tipo de carro", previu João Guerra.
O mesmo responsável comentou que esta pode ser uma solução face à existência de cada vez mais restrições de carros mais poluentes circularem nos centros das cidades.
Para a história também vão entrar os 'roncos' dos motores destes todo-o-terreno, apesar de 'softwares' os poderem simular. Mas João Guerra garante que mesmos 'motards' já se renderam ao barulho do vento que as motas elétricas proporcionam.
"E quem oiça a natureza acho que não vai querer ouvir ruído, pelo menos o ruído do motor", prevê.
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