A evolução que está a atravessar a indústria automóvel dita que os carros a que estamos habituados venham a mudar de alguma forma nos próximos anos. A condução autónoma, especificamente, poderá alterar para sempre a forma como interagimos com os nossos veículos, sobretudo a nível do volante.

É precisamente o volante, um dos elementos mais clássicos de um automóvel, que foi motivo de conversa com o Product Manager da Audi, Pedro Sevinate Sousa. Em perguntas colocadas via e-mail, procurámos saber como se espera que o volante possa evoluir no futuro e como a Audi está preparada para desenvolver o ‘volante do futuro’.

Pode ler abaixo a entrevista completa e a visão da Audi para o futuro.

Porque é que o volante é um elemento tão pouco afetado pela evolução que temos vindo a obter na indústria automóvel? É o ‘controlador’ definitivo para o carro ou ainda há trabalho a fazer?

Pelo contrário, o volante tem evoluído e muito, sobretudo nos últimos anos, com tecnologias cada vez mais complexas e sofisticadas, com o objetivo de continuar a aperfeiçoar as sensações de quem conduz não comprometendo a manobrabilidade dinâmica e o conforto. Por outro lado, e isso é facilmente visível, o volante tornou-se um centro de comando de elevada tecnologia, tanto dos sistemas de assistência à condução, como dos de comunicação e das funções de ‘infotainment’. 

O volante será sempre alvo de uma evolução que acompanha outros setores da indústria automóvel, tanto em nome da segurança, como também do conforto, do design e da capacidade de estarmos ligados a um mundo cada vez mais digital onboard e ligados ao mundo.

Todo o processo, desde a concepção do ‘layout’ e a seleção de materiais até à produção dos protótipos iniciais para os testes de resistência e a produção do modelo, pode levar quatro a cinco anos.

Sente que os condutores estão prontos para uma revisão do volante? Como é o caso do recente jugo da Tesla?

No caso da Audi podemos falar da evolução do volante vista através do Q4 e-tron e Q4 Sportback e-tron. Além de oferecermos novos padrões de design, ergonomia e funcionalidade, as funções disponíveis passam a ser operadas pela primeira vez através de ecrãs tácteis com um aspeto de painel preto, em que a iluminação destaca quais as que não sobrecarregamos o volante. 

Outra novidade passa pelo aro do volante, que é plano pela primeira vez na parte superior e inferior, dando um efeito mais futurista e que facilita a entrada e saída do veículo. Além de tudo isto, temos de destacar o deslocamento axial, o que significa que o volante está minimamente deslocado (7,5 milímetros), o que permite melhorar não só a visão do condutor sobre os comandos, o espaço para entrar e sair do veículo e as características de rotação do volante.

Se olharmos para trás, o volante tem sido a característica dominante no interior do carro há mais de 120 anos e que teve uma das alterações mais profundas através do engenheiro francês Alfred Vacheron ao desenvolver pela primeira vez uma alternativa para otimizar os controlos sobre a precisão de direção das rodas dianteiras com o seu ‘volant’. Pouco tempo depois o volante evoluiu para o padrão mundial.

Portanto, há uma base histórica e de hábitos que tem vindo a evoluir ao longo do tempo e no caso da Audi consideramos que o caminho que temos trilhado e prevemos percorrer no futuro será o mais adequado.

Qual é a visão da Audi para o futuro do volante? O que está a fazer para que o condutor saiba que está a conduzir um carro da "próxima geração"?

Os condutores de veículos atuais da Audi podem executar até 18 funções através dos botões multifunções, desde comunicação ao info-entretenimento até às características de conforto de cada veículo. Os volantes da Audi evoluíram para verdadeiros centros de comando. Há algo em comum em todos os volantes atuais: o design desportivo característico da Audi, a facilidade de utilização, intuitiva e altamente funcional, e os requisitos ergonómicos.

O número de empresas envolvidas ou que trabalham em automóveis autónomos está a crescer de dia para dia. É esta uma área que vos interessa como fabricante de automóveis?

Além da qualidade e caráter premium, estamos focados na condução autónoma, na mobilidade elétrica, serviços e digitalização. A condução autónoma tem o potencial de melhorar substancialmente a mobilidade. Até 2020, a subsidiária até então detida pela Audi, a Autonomous Intelligent Driving GmbH, registou centenas de patentes diretamente relacionadas com a Condução autónoma.

Através da “joint venture” entre a subsidiária Autonomous Intelligent Driving GmbH e a ARGO AI, o grupo Volkswagen pretende enfrentar os desafios da transformação de forma ainda mais eficaz, com um posicionamento otimizado e estruturas eficazes

Será que o volante vai pertencer a este tipo de carros autónomos? Não irá contra o conceito de um automóvel autónomo?

No caso do ‘concept’ Skysphere, o volante será opcional, isto é, quando acionado o modo GT conduzido de forma autónoma, o volante e os pedais são recolhidos aumentando assim o espaço a bordo que pode servir para diversas interatividades entre os ocupantes ou mesmo através de recursos digitais.

Quando se passa para o modo de utilização do volante, a experiência passa a ser feita através de um sistema de direção ‘by-wire’, ou seja, são feitas regulações e desmultiplicações de direção, tornando-a mais pesada ou leve, mais direta ou desmultiplicada consoante a situação ou por decisão do condutor.

Portanto, acreditamos que o volante será um complemento aos veículos autónomos tornando a experiência a bordo muito mais completa e ajustada sempre às preferências do condutor.

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