Filipe Albuquerque confiante para Daytona: "Rolex's nunca são demais..."
O Auto ao Minuto falou com Filipe Albuquerque antes de mais uma edição das 24 Horas de Daytona, que arrancam no dia 29 de janeiro.
© Getty Images
Auto Daytona
Confirmado na United Autosports e na Wayne Taylor Racing, Filipe Albuquerque vai lutar em 2022 pelo título mundial no WEC e pelo título norte-americano no IMSA. E foi antes da primeira grande corrida do ano nos EUA que o Auto ao Minuto falou com o piloto português de 36 anos.
Depois de vencer duas vezes as míticas 24 Horas de Daytona à geral, Albuquerque vai tentar dar vida ao ditado 'não há duas sem três'. A famosa prova norte-americana concede um Rolex a cada piloto da equipa vencedora e, por isso, Filipe Albuquerque deixou bem claro que nas prateleiras de sua casa há espaço de sobra para mais um.
O piloto do Acura #10 tem como objetivo começar a época da melhor forma possível para alcançar o tão desejado título, que em 2021 escapou por... 0,5 segundos.
Senti-me um alvo. Vinham para as redes sociais dizer que faziam ultrapassagens no braço quando não tinha nada a verA época passada começou da melhor maneira possível com uma vitória em Daytona. Achaste logo que o objetivo do título estava, como se costuma dizer, no ‘papo’?
Ao longo da minha carreira soube sempre que a vitória nunca era garantida. Mesmo no excelente ano de 2020, apesar de uma pessoa ganhar mais e estar no topo de forma, as vitórias nunca eram garantidas. É difícil chegar ao topo, mas também mantermo-nos no topo. Até mesmo pelo trabalho dos outros pilotos… Vi uma imensa necessidade de me quererem ultrapassar, de mostrarem que me ultrapassavam.
Vinham para as redes sociais dizer que faziam ultrapassagens no braço quando não tinha nada a ver. Isso, no entanto, não quer dizer que eu desse por garantidas as vitórias. As 24 Horas de Daytona, como toda a gente viu, foram muito suadas e mesmo quando estava a liderar o campeonato nunca senti que nada estava ganho. Claro que todos têm se’s quando perdem um campeonato, mas nós se calhar foi apenas um azar em Road America, quando tive um pequeno furo, que nos fez perder vários pontos.
Filipe Albuquerque a festejar a vitória nas 24 Horas de Daytona em 2021
Sentiste que em pista eras o alvo a abater pelos outros pilotos?
Sentia, sentia. Houve um tipo que até nuns treinos livres me ultrapassou, a duas ou três curvas de entrar na box. Até pensei para mim: ‘Caramba, mas por que é que ele fez isto? Foi para me chamar a atenção?’. Senti que tinha a necessidade de se afirmar, de me dizer que ele estava ali. Foi uma realidade engraçada sentir isso. Tenho só de manter a calma e estar quieto.
Apesar de teres tido uma época positiva, a mesma esteve longe de superar a de 2020. Houve algum tipo de desilusão da tua parte?
Não. Acho mesmo que qualquer piloto, equipa ou engenheiro não pode garantir vitórias ou títulos. Podemos colocar um carro com capacidade de vencer e é só isso. Comecei o ano de forma brilhante, a liderar os dois campeonatos (IMSA e WEC). Mesmo em Le Mans, apesar de todos os percalços do início da corrida, sabia o carro que tinha para lutar pela vitória. Chegámos a liderar a corrida e estávamos a discutir o triunfo, mesmo eu não me sentindo muito confiante. Não conseguimos ganhar, mas isso não foi culpa minha ou da equipa. Foi culpa dos azares que estão inerentes a Le Mans. É o que é…
No IMSA há certos azares que também não facilitaram. Agora vai soar um bocado a desculpa, mas foi o que eu disse à Wayne Taylor Racing. O Balance of Performance do Acura no IMSA não foi, de todo, o mais vantajoso. Numa segunda fase de corridas que favoreciam um bocadinho mais o Cadillac, fez-nos perder preciosos pontos. Temos, no entanto, de dar também os parabéns ao carro #31 da Whelen Racing, que andou muito bem. Quando temos de ser perfeitos, estas coisas acontecem. Não vejo vergonha nenhuma em perder um campeonato por meio segundo, por um ponto ao fim de 10 corridas e ao fim de 10 horas. Mesmo que tivesse ganho, tinha de dar o mérito todo à Whelen por estar tão perto. Não pode haver demérito nesta derrota.
No WEC foi mais uma vez um azar. Com isto das restrições da Covid-19, tivemos uma dupla ronda no Bahrain, que não nos favoreceu. Cancelaram Fuji, mas e se tivéssemos, por exemplo, uma dupla ronda em Spa? Como é que acabaria? As coisas são o que são e não se pode culpar ninguém, mas quando tentamos encontrar justificações aos patrocinadores, equipas e a mim próprio, temos de analisar os factos de todas as maneiras e não só a apontar o dedo.
Tenho perfeita noção que dei o meu melhor e por alguma razão a United Autosports me quis contratar para 2022 antes das 24 Horas de Le Mans de 2021O facto de não conseguires fazer mais deixa-te mais tranquilo em relação à não conquistas de títulos, é isso?
Já é algo que vem detrás. Primeiro tem de se aprender a perder, antes de saber ganhar. Só que antes de chegar ao topo, vamos perder tanta vez. E eu perdi muita vez. Agora sabia perfeitamente que não seria fácil manter-me no topo. Tenho perfeita noção que dei o meu melhor e por alguma razão a United Autosports me quis contratar para 2022 antes das 24 Horas de Le Mans de 2021. Nunca tinha recebido um contrato tão antecipado até hoje, por isso alguma coisa está a correr bem. Claro que tenho a pressão de ganhar, mas também é bom para mim e para a minha realização pessoal saber que continuo no topo e que sou desejado pelas equipas.
No início do ano passado, depois de ganhares praticamente tudo em 2020, tinhas dito que o teu grande objetivo era seres campeão nos EUA. Depois de um 2.º lugar, manténs esse como o teu grande objetivo de 2022?
Sem dúvida alguma. Nunca tinha pensado em chegar tão longe na minha carreira. Podia ter ido ainda mais longe e ter chegado à Fórmula 1, mas aí toda a gente que conhece sabe que são políticas além das nossas capacidades. Estou onde quero, cheguei a um nível em que estou muito orgulhoso e o meu objetivo é ganhar tudo. Já ganhei o WEC, o ELMS, e falta-me o IMSA, onde fiquei em segundo a um ponto do primeiro. Faltam-me ganhar duas grandes provas, que gosto muito: Sebring e Petit Le Mans. Já estive muito próximo, mas nunca ganhei. Hei de quebrar esse enguiço.
Filipe Albuquerque ao volante do Acura #10 da Wayne Taylor Racing
E no fim do mês, o objetivo é certamente trazer mais um Rolex para casa?
Exatamente, o meu objetivo e o da equipa. Acho que Rolex’s nunca são demais. Ao fim ao cabo é o prazer de ganhar mais uma grande corrida, mas acho que temos todos os condimentos para ganhar. O ano passado foi quase um milagre o que conseguimos fazer. Fizemos a corrida perfeita, correu-nos tudo bem. Só que é muito raro isto acontecer (risos). Estou para ver como será este ano, só vão haver dois construtores, Acura e Cadillac, mas claramente que o objetivo é ganhar.
Preferes ter dois campeonatos do IMSA ou duas vitórias em Daytona como eu tenho? É uma pergunta que já fiz a vários pilotos
Se te derem um papel em branco para 2022 onde podes assinar a corrida que mais anseias ganhar. Qual é que escolhes?
(Risos) Ahhhh. Difícil… mas tem que ser sempre Daytona, tem que ser. Há uma grande pergunta que até já fiz a vários pilotos, e em particular ao Felipe Nasr. Tu preferes ter dois campeonatos do IMSA, como ele tem, ou duas vitórias em Daytona como eu tenho? (risos) Nós somos exatamente o oposto nisso. É um piloto que admiro e respeito bastante, e não deixa de ser engraçado.
Não consegui ficar indiferente à tua ultrapassagem em Petit Le Mans, que acabou por se tornar viral. Uma manobra daquelas… Consideras que foi uma das melhores da tua carreira?
Não vou dizer que foi das melhores. Acho que foi uma das que foi apanhada nas televisões. Sem dúvida alguma que correu bem. Estava tão concentrado, sabia muito bem o que estava em jogo, ver o #31 em primeiro estava a matar-me por dentro, e quando cheguei próximo dele estava muito alerta para realizar a ultrapassagem. Já tinha feito aquela manobra no passado, mas só agora foi filmado. Quase que fiquei contente por isso… Contudo, há o outro lado. Agora com o onboard revelado, já sei que ali, naquela curva, vão tentar fazer aquela ultrapassagem porque já sabem como se faz. Nós aprendemos muito com o que os outros fazem. Agora não vou conseguir fazer aquela ultrapassagem tão cedo porque toda a gente no IMSA já sabe como a fazer. Ainda assim foi ótimo, gostei muito do momento ter sido captado, mas não sendo a minha melhor ultrapassagem, foi uma das boas.
Ainda sobre ultrapassagens. No Bahrain, numa prova do WEC, o António Félix da Costa conseguiu deixar-te para trás a poucos minutos do fim. Deixando de lado quem passou quem, foi um momento bonito em pista entre dois portugueses. No entanto… Esta é uma manobra que vais querer vingar este ano?
Não, sinceramente não. A grande diferença do WEC para o IMSA é que a grande maioria das ultrapassagens no WEC acontecem porque um dos carros está com um andamento muito superior. Naquela altura, o António estava com pneus menos desgastados e era inevitável. Ele estava um segundo ou um segundo e meio mais rápido, ia sempre passar-me. Depois, a pista do Bahrain é tão larga que dá para fazer mil e uma linhas de ultrapassagem. Até senti um bocado de alegria quando ele me estava a apanhar porque a corrida estava a ser uma seca tremenda, não conseguia apanhar os da frente. Não havia grande coisa que pudesse fazer, à imagem do que aconteceu com o Hamilton e o Verstappen, por exemplo. Quer dizer, um está com pneus novos macios, o outro com pneus duros com 40 voltas. Nunca é uma grande ultrapassagem, o Verstappen tinha muito mais aderência, e o Hamilton nunca se conseguiria defender nunca. Diverti-me enquanto o estava fechar naquelas duas voltas, mas nada mais.
Antes de finalizarmos, que balanço fazes do teu ano, o primeiro, na Wayne Taylor Racing?
Foi um ano espetacular, muito, muito bom. Acho que o ambiente de trabalho é muito bom. Temos um grande grupo, um grande espírito, começando pelo Ricky Taylor, que é um piloto que não precisa de provar nada a ninguém. Se às vezes me considero boa pessoa, ao lado dele não sou assim tão boa pessoa, porque ele consegue ultrapassar-me em termos de boa pessoa que é (risos). Tenta sempre ver o lado bom de cada um e depois em pista é extraordinário. Ajudamo-nos muito um ao outro, exatamente pela nossa maneira de ser. Ele é parecido comigo e é isso que nos faz tão fortes ao longo do ano. Partilhamos os nossos pontos fracos, os pontos fortes, e fazemos com que cada um de nós seja mais competitivo. Acho que nenhum de nós esperava ter este relacionamento e não sabíamos que nos poderíamos dar tão bem. É quase como uma relação amorosa. Uma pessoa pensa que se vai dar bem com a outra, mas para as coisas fluírem tão bem é preciso passar por elas. Vamos para mais um ano muito motivados.
Leia Também: "Hamilton prova que é o melhor de sempre se sentar Russell por completo"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com