Mercado do Bolhão renovado com rendas cinco/seis vezes mais caras
Quando o Mercado do Bolhão, ícone do Porto, reabrir depois do restauro, os vendedores históricos vão pagar cinco/seis vezes mais de renda, comparando com o que pagam no Mercado Temporário, mas a maioria está conformada e anseia melhores condições.
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Casa Porto
Nuno Fernandes, filho da proprietária do restaurante "D. Gina", conta que atualmente paga cerca de 200 euros pelo espaço de restauração com 38 metros quadrados (m2) no Mercado Temporário do Bolhão.
No novo espaço do Mercado do Bolhão irá pagar uma mensalidade a rondar os 1.100 euros, mas vai ter direito a 98 m2 com capacidade para 70 lugares.
"As rendas vão ser mais caras, mas que remédio", exclama Nuno Fernandes, ciente que vai pagar para ter "condições melhores e mais dignas" para trabalhar.
"Antigamente era só baratas", recorda Nuno Fernandes, assumindo que está ansioso para regressar ao Bolhão, e crente que no final de agosto deve acontecer o "milagre" do regresso ao mercado restaurado.
Em maio fará quatro anos que os vendedores históricos estão a trabalhar no Mercado Temporário, localizado no piso -1 do Centro Comercial La Vie, a cerca de 200 metros da entrada Norte do Bolhão.
Para uma parte dos históricos do Bolhão, o valor do m2 custa "8,88 euros", mas para os novos comerciantes a base do m2 vai ser o dobro, ou seja, 16 euros por m2, podendo chegar aos 21 ou até 50 euros, conforme os pisos, respondeu à Lusa fonte da autarquia.
Nuno Fernandes revela que o projeto do seu restaurante "está em andamento" e acredita que vai regressar este verão ao Bolhão.
José Pintainho, dono do restaurante "O Pintainho 36", espaço que existe no Bolhão há 45 anos, também crê num regresso ao mercado no verão.
"Eu ia para lá amanhã sem máscara, porque é triste estar aqui há quatro anos sem ver a luz do dia. Entro às 09:00 e saio às 17:00. Não vejo o sol, nem a chuva", desabafa José Pintainho.
No Bolhão renovado, o "Pintainho 36" vai ter 90 m2 e capacidade para 60 lugares. A renda vai rondar os 1.500 euros/mês.
"Não tenho medo da renda, porque estou esperançado que com o final da pandemia da covid-19 o Porto volte ao normal e o Bolhão volte a respirar. Volte a ofegar", declara aquele "histórico", recordando que naquele mercado, com a explosão do turismo e sem a crise da pandemia, os seus antigos "30 lugares eram todos os dias transformados em 60 lugares", com mesas e cadeiras que os clientes conseguiam reunir.
A cafetaria "Tass" está atualmente a pagar 70 euros de renda mensal no Mercado Temporário e no novo espaço do Bolhão vai pagar mais de cinco vezes esse valor (500 euros), mas Mónica Moreira também diz estar ansiosa para regressar e nem a renda mais cara a assusta.
"Gostava de já lá estar. Estou cansada de estar enfiada oito horas num buraco. É doentio", lamenta.
Na padaria "Madalena", cuja renda atual é de 50 euros mensais, a operadora Amélia Babo conta que também está impaciente para regressar ao Bolhão, pois confessa que no Mercado Temporário o negócio está complicado.
"Estou com muita vontade de regressar ao Bolhão original e espero que o negócio volte a ser o que era, pois tinha dias de vender 300 pasteis de nata e agora há dias que nem três natas vendo", lamenta, afirmando que só os clientes antigos é que continuam a vir, mas muitos desistem.
Na banca de peixe e marisco congelado, a vendedora Rosa Maria, que começou a trabalhar no Bolhão com 14 anos e hoje tem 58, a vontade de regressar ao mercado antigo também é grande.
Sabe que pelo novo espaço vai ter de pagar um valor bem acima dos atuais 90 euros mensais, mas está ciente que as rendas para os vendedores históricos não vão subir muitos devido ao seu estatuto.
A maioria dos vendedores históricos do Mercado do Bolhão contam os dias para deixar o Mercado Temporário "sem luz e sem alma" e, embora admitam que as rendas vão ser mais caras, sabem que esse é o preço a pagar por mais espaço, para dizer adeus às baratas do mercado antes do restauro e olá a "melhores e mais dignas condições de trabalho".
Os novos empresários que vão chegar ao Mercado do Bolhão renovado vão pagar o que oferecerem, no âmbito de um concurso cuja base da licitação começa em 16 euros, mas pode subir muito mais, conforme a oferta avançada, por carta fechada.
"Os novos vão pagar os preços que se praticam na cidade. É a lei da oferta e da procura", conclui José Pintainho, referindo que é possível que nas lojas maiores do Bolhão, com mezzanine, se chegue aos "sete mil euros por mês" de renda.
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