FMI sugere amortecedor contra risco da exposição da banca ao imobiliário
O FMI sugere que o BdP considere uma reserva de capital anticíclica ou uma reserva setorial de risco sistémico contra potenciais riscos da exposição da banca ao imobiliário e defende uma recomposição gradual dos níveis de capital.
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Casa Imobiliário
"Uma vez que a recuperação esteja bem estabelecida, o Banco de Portugal (BdP) poderia considerar a introdução de uma reserva de capital anticíclica com notação positiva ou uma reserva setorial de risco sistémico contra potenciais riscos macrofinanceiros das exposições imobiliárias dos bancos", sugere o Fundo Monetário Internacional (FMI), nas conclusões da avaliação anual a Portugal, divulgadas hoje.
Num briefing com a imprensa hoje, Rupa Duttagupta, que liderou a missão do FMI a Portugal, salientou que o sistema bancário resistiu "relativamente bem" aos dois choques duplos -- pandemia e guerra - até agora.
"Os níveis de capital aumentaram no ano passado, o crédito malparado diminui e, em geral, a rentabilidade dos bancos é ligeiramente superior. Tudo isso é uma boa notícia", disse.
Contudo, alertou que "existem alguns riscos domésticos que felizmente não se materializaram, mas não desapareceram".
Nas conclusões da avaliação a Portugal, o FMI assinala que o acompanhamento atento da qualidade de crédito dos bancos continua a ser essencial, advertindo que o impacto do fim das moratórias e de novos riscos, inclusive do mercado imobiliário, sobre a qualidade do crédito deverão continuar a ser fontes de incerteza durante algum tempo.
"As autoridades prudenciais estão a monitorizar ativamente a qualidade de crédito dos bancos e confirmam que a materialização do risco de crédito, até agora, não foi tão significativa quanto o esperado no início da pandemia. As estratégias para reduzir os NPLs estão a dar frutos, mas alguns bancos ainda não concluíram seus processos de ajustamento", pode ler-se nas conclusões.
Ainda, assim, Rupa Duttagupta considerou que Portugal deverá continuar "atento" ao impacto do fim das moratórias.
O FMI considera que os riscos de aumento dos preços imobiliários, ainda que contidos, também devem ser "monitorizados de perto".
Rupa Duttagupta precisou que "esses riscos não são elevados neste momento, mas podem aumentar se os preços das casas continuarem a subir".
Para a responsável do FMI para evitar esses riscos é necessário "construir gradualmente" 'buffers' (quando, na estrutura de capital, o capital regulatório mantido é maior do que o mínimo exigido pelo regulador) de capital onde são menores, mas também tornar o sistema bancário mais resiliente.
"A recomposição dos 'buffers' de capital deve ser feita de forma gradual e as distribuições de dividendos e recompras de ações devem ser cautelosas até que as incertezas sobre as necessidades de capital, também à luz de novos choques económicos, sejam melhor avaliadas", explica a instituição.
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