A Netflix anunciou, na semana passada, a produção de um documentário sobre a história real que inspirou a série de sucesso da plataforma de streaming 'Rabo de Peixe'.

O anúncio deixou o empresário Rúben Pacheco Correia, natural desta famosa vila açoriana, surpreendido. É que o jovem está a preparar há mais de um ano um livro e um documentário sobre a "verdadeira história" do que aconteceu em 2001, quando um barco naufragou ao largo da ilha de São Miguel, com quase 500 quilos de cocaína a bordo.

Em exclusivo ao Notícias ao Minuto, Rúben revelou que "o projeto começou por ser, primeiro e apenas, um livro". No entanto, "depois de perceber que a história estava já a tornar-se muito mais interessante" do que alguma vez imaginou e que conseguia chegar a pessoas que nunca tinha imaginado - como Antonino Quinci, um dos tripulantes do barco em questão - "tinha mesmo de considerar o documentário".

Cheguei ao que, supostamente, era impossível. Consegui, com a investigação que levei a cabo durante o último ano, chegar à família do protagonista de toda esta história, Antonino Quinci

O empresário e a sua equipa de filmagem passou, inclusive algum tempo na Sicília a gravar, onde esteve até "recentemente". Por isso, não tinham ainda falado com "nenhuma produtora, nem com nenhuma plataforma". Queriam ter "todas as histórias garantidas" e "tudo pronto" para pensar nos "contactos depois".

"Cheguei ao que, supostamente, era impossível. Consegui, com a investigação que levei a cabo durante o último ano, chegar à família do protagonista de toda esta história, Antonino Quinci. E, através deles, consegui chegar a ele. Falei com o irmão mais velho, 'chefe' da família Quinci, com o sobrinho que, aliás, foi ajudar em 2001 o tio à ilha… e descobri mil e uma histórias dentro desta grande história que hoje, embora superficialmente, conhecemos. Posso revelar que o transporte da cocaína que deu à costa em São Miguel não foi um caso isolado… a família já se dedicava ao transporte de droga desde 1982… naturais da Sicília, que ligação terão com a máfia siciliana, por exemplo? De que cartel pertencia a droga? Enfim, tantas questões para as quais revelaremos as respostas com este trabalho", contou.

Netflix pretende entrevistar Antonino Quinci. Rúben tem contrato de exclusividade com ele

No sábado, Rúben foi surpreendido pelo telefonema de uma advogada da plataforma de streaming. "A Netflix pretende entrevistar o Antonino Quinci e eu é que tenho o contrato de exclusividade com ele. Fiz o meu trabalho de casa primeiro. Queriam perceber como podiam ficar com o Antonino no seu documentário", explicou ao Notícias ao Minuto, garantindo que não tem "preço" e que não pretende ceder às pressões.

"A verdade é bem mais 'interessante' e dura do que a ficção"

"O meu único preço é repor a verdade sobre toda a história e dar a conhecer verdadeiramente Rabo de Peixe, aos olhos de quem lá vive e nasceu.  Neste momento, a equipa que a Netflix montou para fazer o documentário não tem legitimidade para fazê-lo. Então vão buscar as pessoas que criaram a série de ficção para agora contar a verdade? De que forma a 'verdade' não será condicionada àquilo que contaram na série, como uma forma de se justificarem? Não há independência na visão que nos prometem apresentar e, mais do que isso, sou eu que tenho os protagonistas principais de todo este enredo. Vamos ouvir na primeira pessoa toda a história. Muito em breve!", atirou, acrescentando, ao Notícias ao Minuto, que tanto o livro como o documentário serão lançados já no próximo ano.

"Deixarei para o livro e para o documentário – que sairá muito em breve – a verdadeira história, os verdadeiros protagonistas e todos os lugares onde a história teve repercussões, dos Açores à América… da América a Itália, enfim, só posso dizer que a verdade é bem mais 'interessante' e dura do que a ficção", disse.

'Rabo de Peixe' "serviu para encher os bolsos a meia dúzia de pessoas"

 

 

 

 

 

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Já sobre 'Rabo de Peixe', Rúben realça que a série da Netflix "não é uma história sobre essa vila e as suas gentes" é uma "história ficcionada é à volta de um acontecimento verídico que teve lugar na Ilha de São Miguel e onde Rabo de Peixe foi, também, um dos muitos lugares que, infelizmente, sofreu com esta situação".

"A série tenta dar ideia de que a história ganhou dimensão por ser em Rabo de Peixe, que tivemos uma espécie de grupos de crime organizado que perseguiu, intimidou e matou pessoas – o suposto companheiro de viagem do Italiano, o gajo que é posto dentro de uma das caldeiras, etc. Toda a história dá-nos ideia que Rabo de Peixe foi o palco de toda esta catástrofe e dá uma imagem da vila como uma terra muito pobre, cujo seu único destino é emigrar. Uma terra muito ligada ao tráfico, ao analfabetismo, e enfim. Não é a imagem que tenho de Rabo de Peixe, que conheço e onde nasci com assumido orgulho", realçou.

Para Rúben, "a série serviu sim para encher os bolsos a meia dúzia de pessoas" e nem foi "aos atores, que foram pagos como se tratasse de uma produção nacional, quando se tratava, como foi visível, de uma produção internacional".

Parte dos lucros de Rúben serão doados a Rabo de Peixe

"Rabo de Peixe não ganhou absolutamente nada com a série. Alguém pensou em, por exemplo, doar uma percentagem – como pretendo fazer com o livro e documentário – a alguma associação de Rabo de Peixe que trate mesmo da droga como um assunto sério e urgente? Serviram-se de Rabo de Peixe e não serviram Rabo de Peixe. Por isso, como defensor da minha terra e, sobretudo, como defensor da verdade, desde o primeiro episódio que vi comecei logo a investigar toda a história verdadeira, para escrever e produzir um documentário onde a verdadeira seja genuinamente reposta. Então se querem falar de Rabo de Peixe – e sobre esta história em particular que teve lugar em 2001 – falemos do que realmente aconteceu", concluiu.

Depois de ser contactado pela advogada da Netflix, Rúben expôs o caso nas redes sociais. A publicação já foi vista por milhares de pessoas e tem quase 700 'gostos', entre os quais vários famosos com quem o empresário tinha partilhado a sua ideia, como é o caso do humorista Raminhos, do artista João Murilo e até uma das guionistas da telenovela da TVI 'Festa é Festa', que partilhou mesmo uma story sobre o tema.

O Notícias ao Minuto contactou a representação da Netflix em Portugal, que indicou não ter comentários a fazer.

"Em 2021, num belo jantar, Rúben falava do seu projeto sobre Rabo de Peixe. Que possas contar a verdadeira história! Aquela que, muito emocionado, nos contaste sobre a tua terra", escreveu Eva Jesus Gonçalves.

Recorde-se que a série 'Rabo de Peixe', que estreou em maio de 2023, foi um sucesso internacional. É uma produção da Ukbar Filmes para a Netflix, a partir de uma ideia de Augusto Fraga, que co-realizou a primeira temporada com Patrícia Sequeira.

O êxito foi tanto que a Netflix já anunciou não só a segunda temporada da série, como uma terceira.

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