Projeto de arquivo digital preserva memória dos grupos de cante
Lançado este ano, o Arquivo Digital do Cante quer contar a história deste património classificado pela UNESCO através da preservação da memória dos respetivos 'atores', os grupos de cante alentejano, disponibilizando 'online' os seus acervos, alguns deles quase 'perdidos'.
© Global Imagens
Cultura Cante alentejano
"O nosso objetivo é digitalizar tudo isto e escrever a história do cante e salvar a memória dos grupos de cante", disse à agência Lusa Florêncio Cacête, presidente da Alentejo, Terras e Gentes - Associação de Defesa e Promoção Cultural do Alentejo.
Segundo o responsável, também investigador da Universidade de Évora (UÉ), o projeto, lançado em maio deste ano, pretende 'resgatar' a memória dos grupos do cante alentejano "através da disponibilização 'online' deste tipo de arquivos".
Este trabalho, no ano em que o cante celebra uma década como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) -- a efeméride é assinalada na quarta-feira -, tem na sua génese três promotores.
A associação presidida por Florêncio Cacête, o Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da UÉ e a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL) são os impulsionadores do Arquivo Digital do Cante, que conta também com apoio de diversas entidades.
O projeto desta plataforma digital do cante alentejano, acessível em https://arquivodigitaldocante.pt, consiste na digitalização dos acervos documentais dos grupos, para construir "um arquivo digital desta expressão patrimonial ao longo do tempo".
Florêncio Cacête exemplificou que "há grupos que já acabaram, mas os arquivos estão na casa de algumas pessoas ou estão em algumas coleções particulares" e também foram abrangidos.
A recolha de dados e o tratamento, preparação e disponibilização dos documentos envolve investigadores ligados a diversas áreas científicas, como História, Museologia, Turismo, Património Cultural e Arquivos.
As três equipas envolvidas neste processo estão "a recolher tudo o que o que se relaciona com documentos, fotografias, cartazes, diplomas, certificados de participação e correspondência recebida e expedida".
A partir desta documentação, "queremos ir construindo a memória e, em alguns casos, estamos até a ajudar na construção da história dos próprios grupos", para que "possam reconstruir os seus arquivos", revelou.
O projeto permite "potenciar outras abordagens ao cante", já que, com os acervos disponíveis 'online', várias áreas científicas poderão recorrer a eles.
Segundo Florêncio Cacête, "do ponto de vista da Antropologia e até da História, tem-se feito um trabalho extremamente interessante e de um valor científico muito rigoroso e tem sido muito positivo".
Mas, agora, "se um aluno de Belas-Artes quiser estudar, do ponto de vista artístico, quais as linhas gráficas e estilos utilizados na grafia dos cartazes de promoção do cante em Lisboa, de 1926 e 1950, vai passar a ter algum material de estudo disponível", exemplificou.
Em termos históricos, apontou ainda, há documentos que "mostram qual era a composição do grupo, o que faziam, as profissões", enquanto, em termos sociológicos, "há grupos que têm fichas de inscrição dos seus componentes", pelo que "também dá para ir percebendo quais eram as alterações".
"Com este trabalho, estamos a trazer à luz do dia novas fontes para o desenvolvimento de estudo e conhecimento" e, ao mesmo tempo, o projeto trava uma "luta contra o tempo", para evitar que "mais coisas se percam".
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