"Tenho uma 'desrotina', sou até um bocado desregulado"
O Notícias Ao Minuto entrevistou Sérgio Godinho numa semana em que há álbum novo ao vivo, ?Liberdade?, e se contam as horas para o momento em que vai subir ao palco do mítico Rivoli.
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Cultura Sérgio Godinho
O novo disco de Sérgio Godinho, o álbum ao vivo ‘Liberdade’, chega às lojas na mesma semana em que o músico se prepara para subir ao palco do Rivoli, no Porto, nos dias 1 e 2 de novembro. Dia 22 é a vez do coliseu de Lisboa. Antes, o Notícias Ao Minuto esteve à conversa com o “trovador por quimera”.
Os concertos que aí vêm vão contar com alguns dos clássicos do autor de ‘A Noite Passada’, mas também com pérolas mais recentes, como é o caso de ‘Rua António Maria’, música que Zeca Afonso nunca editou. O tema remete para a rua onde a PIDE teve a sua casa, numa altura em que a polícia repressiva se transformava em DGS, num Estado Novo que, de velho, procurava mudar a sua imagem.
“Ouvi o Zeca cantar isso quando estava exilado e ele nunca gravou porque sabia que seria interditado, seria um tiro no pé”, conta-nos sobre a música que agora é também sua.
Mas pelo palco do Rivoli passará também Capicua, a rapper com sotaque do Norte e lírica versátil, a quem Sérgio Godinho chama de “grande criadora, a nível da palavra e a nível da musicalidade”. ‘Vayorken’, em que Capicua canta ‘ai de quem dissesse mal do Sérgio Godinho’, será um dos momentos da noite.
Sobre os concertos, e pensando na carreira de décadas de quem está do outro lado da linha, aproveitamos para perguntar se ainda há algum ‘nervoso miudinho’ antes dos grandes concertos. Serenamente, corrige-nos: “[um concerto é] um direto em que não se pode voltar atrás”. O que há é responsabilidade e a noção de “partilha”. Um conceito que lhe diz muito, relata-nos, apercebendo-se da facilidade e frequência com que recorre à palavra para explicar o que faz.
'Vidadupla' de partilha
De partilha é também feita outra faceta que estamos agora a testemunhar de Sérgio Godinho. Em outubro, ‘vidadupla’ chegou aos escaparates. Trata-se de uma coleção de contos onde o mestre da métrica assume a prosa. A palavra, aqui, é a escrita. O tom, no entanto, é de poética e isso sente-se à medida que vamos conhecendo as personagens que nos apresenta, sempre “na primeira pessoa, uma escolha narrativa”, diz-nos.
Os textos “não são extensos mas são burilados, são trabalhados”. E são também momentos em que “se é outra pessoa, uma pessoa que nós próprios criamos e que nos interpela do outro lado”, conta-nos sobre a sua experiência na escrita. Preferiu-os assim, como contos, para abrir narrativas que não precisava de resolver. Foi uma escolha: a de “contenção”.
Sobre esta aposta na palavra escrita, Sérgio Godinho explica com voz calma como surgiu: “acho que as coisas aparecem quando têm de aparecer e foi assim uma espécie de uma atração fatal”, elucida-nos o homem que diz não ter propriamente uma rotina de trabalho. “Tenho uma ‘desrotina’, sou até um bocado desregulado”, brinca.
Ainda assim, sabe dizer de onde vieram estas palavras: “foi um impulso que tive de seguir”.
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