Obra de arte com significado humanitário leva artista a um par de sapatos
O desejo de criar uma obra com um significado humanitário levou a artista Cristina Rodrigues ao encontro da marca de calçado portuguesa Fly London, para quem acabou por criar um par de sapatos que é apresentado na hoje em Londres.
© iStock
Cultura Cristina Rodrigues
'Urban Dwellers' é uma manta em crochê de fitas de cetim com 20 metros de comprimento e cerca de 70 quilos de peso, que repete um tema na obra da artista, o da ideia da maternidade no gesto da mãe que cobre o seu filho à noite.
A instalação é completada por dezenas de sapatos dispostos em redor que usam fitas de cetim vermelhas e amarelas como cordões, símbolo dos laços de sangue entre as diferentes pessoas.
A ideia surgiu a Cristina Rodrigues após ver na imprensa francesa fotografias de um protesto silencioso em Paris em 2015, poucas semanas depois dos atentados terroristas, em que sapatos foram dispostos nas ruas da capital francesa.
"Achei fortíssima aquela homenagem às pessoas e criei a obra 'Urban Dwellers'. Na altura falei com a Fly London para que doassem 600 sapatos para integrar esta instalação de arte contemporânea e foi aí que surgiu esta parceria", disse à agência Lusa.
A primeira versão da manta foi exposta primeiro no ano passado em Sevilha e foi visitada pelo presidente executivo da marca de calçado, Amílcar Monteiro, que desafiou a artista a desenhar um par de sapatos para a coleção outono-inverno.
O resultado foram umas botas em pele disponíveis em quatro cores e que tem como cordões as fitas de cetim como aquelas usadas por Cristina Rodrigues na sua instalação.
"Quando eu desenhei as 'Interstellar', havia uma coisa que para mim era importante, que era passar um pouco da memória da instalação 'Urban Dwellars' para o ADN da bota, porque é uma história que eu acho que é extremamente relevante e é algo que nós temos de refletir bastante sobre que futuro queremos para esta Europa", explicou.
Os sapatos, que já estão à venda em todo o mundo, vão ser lançados hoje em Londres, ao lado da obra 'Urban Dwellers'.
"Esta é uma instalação que eu queria muito fazer, é algo que fala do nosso tempo, que fala de um grande problema que existe na sociedade contemporânea, que tem a ver com a imigração, que tem a ver com os atentados, tudo interligado, e eu queria falar deste problema numa obra", vincou a artista.
A crítica de arte e curadora do evento na galeria Menier, a iraniana Tara Aghdashloo, elogia o trabalho da portuguesa, que tem formação em arquitetura mas que nos últimos anos desenvolveu trabalho com artesãos e técnicas tradicionais de regiões como Idanha-a-Nova e Castelo Branco.
"É muito revigorante quando se tem uma artista como a Cristina, com mais experiência, com vários tipos de conhecimento e formação, para chegar e produzir algo mais diferente. Não se vê muita tapeçaria na arte contemporânea. Há poucos artistas que vão em busca destas formas de arte tradicionais e lhe dêem uma injeção de ideias contemporâneas", enalteceu.
A colaboração de Cristina Rodrigues com a Fly London vai continuar na próxima coleção primavera-verão, para a qual vai desenhar dois pares de sapatos.
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