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"Quando acabar, quero olhar e ver os títulos que ganhei. É isso que fica"

Jogador português de 33 anos cumpre sexta temporada ao serviço do Columbus Crew da MLS. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Pedro Santos explica que já se sente um "bocadinho americano" e que até já imagina o futuro pós-futebol longe de Portugal.

"Quando acabar, quero olhar e ver os títulos que ganhei. É isso que fica"
Notícias ao Minuto

08:09 - 31/03/22 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

Pedro Santos continua de pedra e cal no Columbus Crew, clube ao qual chegou em 2017 e onde conquistou dois títulos que entram diretamente para os momentos mais marcantes da sua carreira. A iniciar a sexta temporada no clube norte-americano, o jogador português de 33 anos revela a ambição de sempre e garante sentir-se bem a jogar numa posição nova. 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Pedro Santos também assume que existe a possibilidade de ficar nos EUA depois de terminar a carreira de jogador, mas não esconde continuar bem atento ao que se passa no futebol português. 

O único jogador português que venceu a MLS e com mais jogos na prova deixa, ainda, elogios à recente aposta do Sp. Braga na formação e lamenta que o antigo companheiro de equipa e amigo Ricardo Horta não tenha o devido reconhecimento, isto por conta de não ser chamado à seleção nacional. 

Tenho conseguido compreender bem o jogo e olhando para trás consigo ver que evolui bastante

Iniciou agora a sexta temporada no Columbus Crew e a jogar na MLS. Quais os objetivos para esta nova época?

Em termos coletivos, passa pelo mesmo dos últimos anos: fazer uma boa classificação, alcançar os playoffs e, depois, lutar pelo título. A nível individual, quero fazer uma boa época e tentar ajudar a equipa. Dar sempre o meu máximo e, no final, sair de cabeça erguida e com a consciência de que o trabalho foi bem feito. 

Falando em termos individuais, de que forma evoluiu enquanto jogador ao longo deste tempo a jogar nos EUA?

Obviamente que, agora, tenho mais experiência. Tenho tido muita regularidade a jogar e sou um jogador mais maduro, que vê o jogo de uma outra maneira. Tenho conseguido compreender bem o jogo, e, olhando para trás, consigo ver que evolui bastante. Isso também me ajudou a fazer boas épocas, e é por isso que cá continuo. 

Já sente que tem aquele estatuto de ídolo por entre os adeptos do Columbus Crew? 

Sim, sinto que sou bastante acarinhado pelos adeptos. Sempre me demonstraram isso, e claro que me deixa satisfeito, porque sempre dei tudo por este clube e por esta equipa. Sentir que eles reconhecem isso, que me elogiam... É muito gratificante. 

Notícias ao Minuto Pedro Santos é um dos jogadores mais populares por entre os adeptos do Columbus Crew. © Getty Images  

E já se sente também um bocadinho americano?

Sim, sinto um bocadinho até porque o meu segundo filho nasceu aqui. O meu outro filho também já está adaptado à língua e ao país. Seguimos a cultura americana. No fundo, já me adaptei. 

Essa estabilidade familiar que encontrou nos EUA também ajuda a explicar a já longa passagem pelo Columbus Crew?

Claro que sim. Para todos os jogadores a família é a base e o suporte para uma boa carreira. Felizmente, a minha família adaptou-se muito bem aqui, ao país, e isso acaba por dar uma boa estabilidade a nível profissional e pessoal. Tivemos essa estabilidade e isso facilita sempre as coisas. 

Ainda assim, presumo que tenha saudades de Portugal... 

Claro! Tenho saudades da família, do clima, da comida, dos amigos... Mas sinto-me bem e feliz aqui. Custa sempre um pouco estar longe do nosso país, mas a verdade é que me sinto feliz aqui. 

Isso quer dizer que também pensa ficar pelos EUA mesmo depois de se retirar do futebol profissional? 

Sim, pode acontecer. Com o aproximar do final da minha carreira, tenho pensado nisso. A minha família está bem aqui, especialmente a minha mulher, e, portanto, é uma possibilidade que está em aberto. Só o futuro dirá. Se cá ficar, tenho de encontrar um novo desafio ligado ao futebol, e, se tal não acontecer, tenho de ir a outro lado procurar. Mas, sim, para já a ideia passa por ficar por aqui. 

Não há perdas de tempo, porque os adeptos não gostam disso e a mentalidade dos americanos não é essa

A MLS parece que vai ganhando cada vez maior dimensão. Sente que há, de facto, sinais evidentes de uma evolução positiva? 

Sim, tenho sentido uma evolução bastante grande. E vejo, cada vez mais, grandes jogadores a virem para cá e não naquela fase final de carreira. Temos o exemplo do Shaqiri, que veio agora, e do Insgine, que chega em agosto. São jogadores que ainda são jovens e que decidiram mudar-se para aqui. A MLS tem crescido no que diz respeito à qualidade dos jogadores, mas também no número de adeptos. As equipas têm apostado em construir estádios nos quais não falta nada. Os adeptos aderem e tenho sentido que a MLS tem crescido imenso. 

Que diferenças encontra entre o futebol norte-americano e o futebol português?

Essencialmente, aqui olha-se para o futebol da melhor forma: um espetáculo. Os adeptos vão aos estádios para desfrutar do jogo. As equipas querem ganhar e o futebol é aberto. Não há perdas de tempo, porque os adeptos não gostam disso e a mentalidade dos americanos não é essa. É sempre um futebol muito corrido e dinâmico. Isso atrai os adeptos, porque gostam de ver ataques, defesas, remates e golos. Em Portugal o futebol é muito tático e, por vezes, acaba por ser mais aborrecido. Aqui, o futebol é muito mais aberto. 

Quando vemos um jogo da MLS, fica sempre a sensação de que pode haver muitos golos. 

Exato, porque a mentalidade é mesmo essa: atacar e fazer golos. Mesmos os jogos que terminam empatados, há sempre inúmeras oportunidades de golo para as duas equipas. Isso é um ponto atrativo para os adeptos, que gostam de ação. 

Acaba por ser mais intenso fisicamente? 

Sim, se calhar é mais físico. Agora, temos o sistema de GPS e percebemos que corremos aquilo que se corre na Europa, mas aqui talvez façamos mais sprints. Além disso, o trabalho aqui é mais exigente na parte do ginásio. Em Portugal, não era uma coisa que se trabalhava muito, pelo menos quando eu lá estava. Essa foi uma diferença que notei. 

Sente que existe uma maior preocupação física além do futebol jogado?

A nível de ginásio e de preparação para o jogo e ficar mais forte para o choque, sim. A nível de nutrição, acho que ainda não ligam muito. Temos nutricionista, mas não é igual ao nível de exigência que existe no futebol europeu. Aqui, os jogadores comem comidas com muitos molhos e essas coisas. Na Europa, os jogadores não podem comer isso. Mas, agora, até já sinto que existe uma maior preocupação em saber o que os jogadores comem e bebem durante a semana. 

Notícias ao Minuto Pedro Santos acumula um total de 150 jogos e 25 golos ao serviço do Columbus Crew. © Getty Images  

É uma boa montra para os jogadores portugueses que querem dar o salto? 

Eu falo sempre nisso. Esta é uma Liga que encaixa no jogador português. Nós, portugueses, somos trabalhados a nível tático desde muito jovens, e isso ajuda muito para quem vem jogar para a MLS. Se um jogador tiver esse conhecimento tático, isso ajuda muito na adaptação. Além disso, como são sempre jogos muito abertos, isso também facilita nos movimentos e na criação com bola. Há mais espaço para jogar. Mas por outro lado, é uma Liga exigente e pode ser difícil a adaptação. Eu mesmo passei por esse período, em que as coisas não me estavam a correr bem, mas depois consegui adaptar o meu estilo de jogo e encaixar na equipa. 

Sente que qualquer clube da MLS reúne melhores condições financeiras do que os clubes da I Liga portuguesa? 

Sim, aqui, em termos financeiros, as coisas são bastante controladas, porque existe o teto salarial. Mas, por exemplo, os jovens aqui se calhar recebem o mesmo que um jogador mais velho que jogue numa equipa que luta pela permanência na I Liga portuguesa. Para os jovens que estão em Portugal, aqui iriam ganhar um bocadinho mais, e, em termos de qualidade de vida, não lhes faltará nada. Além disso, as coisas também são bastante controladas e certinhas. Em Portugal, por vezes, temos clubes que falham [salários] um, dois ou três meses e complicam a vida aos jogadores. 

Entretanto, também já deve ter uma relação confortável com a língua inglesa. 

Quando vim para cá não falava praticamente nada de inglês. Sabia algumas coisas, mas não dominava por completo. No entanto, há muita gente que fala espanhol aqui nos EUA, e, ao início, isso ajudou-me bastante na adaptação. Agora, já me sinto mais confortável a dominar o inglês. 

E já teve oportunidade de explorar o resto dos EUA? 

Quando vamos jogar fora de casa, temos a liberdade de sair umas horas e passear pelas cidades. Eu aproveito sempre para conhecer cidades que ainda não conhecia. Quando tenho uns dias de folga, também gosto de ir mais para a zona sul, onde faz mais calor, e desfrutar das praias. 

Aposta do Sp. Braga na formação surpreendeu-me

Voltando ao futebol português. Tem acompanhado a I Liga? 

Sim, vou conseguindo ir acompanhando. Tento estar sempre a par do que se passa no futebol português. Acho que está um campeonato disputado, com o FC Porto com mais seis pontos com o Sporting. Nem um nem outro podem baixar o nível porque qualquer deslize pode ser fatal. E mesmo o Benfica, estando mais longe, ainda se pode intrometer em caso de deslize dos rivais. No entanto, acho que o FC Porto está bastante bem e se continuar a jogar assim vai ser difícil para Sporting e Benfica conseguirem subir na classificação. 

Também temos o Sp. Braga em bom plano na Liga Europa.

O Braga tem estado muito bem. O sorteio com o Rangers até nem foi um mau sorteio. Acho que têm condições para chegar à próxima fase e depois logo se vê até onde podem ir. 

O Sp. Braga mudou algumas coisas desde a sua passagem por lá. Como é que tem visto esta aposta na formação?

Para mim foi um bocado surpreendente. Como já não estou tão a par, não estava à espera que eles mudassem a filosofia. Mas tem sido uma surpresa agradável. Estão a fazer um campeonato regular e com bastantes jovens a aparecer. Se esta aposta continuar, acho que no futuro vão ter muito a ganhar, mesmo a nível de vendas. O Sp. Braga pode ficar com uma equipa mais forte no futuro. Os jogadores vão ganhando mais experiência e maturidade e isso é sempre positivo. 

Do seu tempo, ainda está lá o Ricardo Horta. Esperava que ele ficasse por lá tanto tempo e que se tornasse numa figura histórica? 

Não esperava que ele ficasse tanto tempo. Não por falta de qualidade, precisamente pelo contrário. Eu já tinha jogado com ele no Vitória FC e sei bem que ele é um goleador e um grande jogador. Esperava que ele já tivesse tido uma oportunidade maior. No ano passado, até teve, mas não aceitou. Mas acredito que ele está feliz em Braga e pode continuar a fazer história por lá, até porque já lhe faltam poucos golos para se tornar no maior goleador do clube. Acho que vai alcançar isso sem grandes dificuldades. Por outro lado, também acho que já merecia uma chamada à seleção nacional. Tem demorado algum tempo, mas acredito que ele, a manter este nível, tem de ter direito a uma oportunidade na seleção. 

Não consigo compreender o porquê de o Ricardo Horta não ser chamado à seleção nacional

Por falar em seleção nacional. Não sente alguma mágoa por nunca ter tido uma oportunidade? 

Mágoa não sinto, mas claro que o sonho de qualquer jogador é representar o seu país. Eu também tive esse sonho e essa esperança, principalmente quando estava no Braga. Não sei por que razão, mas é muito difícil para os jogadores do Sp. Braga chegarem à seleção nacional. Agora, é o caso do Horta. Não consigo compreender o porquê de não o convocarem. Não consigo mesmo. Tive essa esperança e esse sonho, mas já é algo que ficou de parte. Não mancha em nada a carreira que tenho feito. Não era bem um objetivo, era mais um sonho. Ficou por aí. 

Mas acha que jogar na MLS também afasta os jogadores portugueses do radar da seleção? 

Acredito que sim, mas só da seleção de Portugal. É algo que não consigo perceber. Eu bem sei que há muita qualidade nos jogadores portugueses e que aparecem cada vez mais jovens com qualidade. Mas, se formos olhar para todas as seleções do mundo, há jogadores que jogam na MLS e que são convocados. Portugal, não sei... Ou não olha para a Liga ou não sei... Se calhar, não acham a MLS uma Liga relevante. Mas também acho que a qualidade dos jovens que têm aparecido nos últimos anos tem dificultado mais a chamada dos jogadores que jogam em clubes mais pequenos. 

Por outro lado, também temos vistos jogadores jovens a saírem da MLS para clubes europeus. Acha que isso vai começar a ser cada vez mais recorrente? 

Acredito que sim. Há muitos jovens com qualidade e que são muitos bons. Os que têm saído têm mostrado ser viáveis e com qualidade para jogar na Europa. Assim sendo, os clubes europeus podem acabar por ver na MLS uma oportunidade de mercado. Conseguem fazer contratações mais baratas, mas levam jogadores com qualidade. 

Voltando à sua carreira. Qual foi, até agora, o momento mais alto?

O momento mais alto da minha carreira foi ter sido campeão aqui nos EUA. É sempre o momento mais alto para qualquer jogador. Foi sempre um dos meus sonhos. Sem dúvida, é esse o ponto mais alto da minha carreira. 

Quando aceitou o convite do Columbus sentia que podia alcançar o título da MLS? 

Quando assinei pelo Columbus, o treinador da altura, que agora é o selecionador dos EUA, disse-me que a MLS é uma Liga competitiva e que qualquer equipa pode lutar pelo título. São praticamente dois campeonatos diferentes: a fase regular e os playoffs. Chegando aos playoffs, qualquer equipa pode ser campeã. Foi com esse pensamento que eu vim para aqui. No primeiro ano, perdemos a final da Conferência para o Toronto, que acabaria por ser o campeão. A partir daí, achei que era possível. É uma Liga muito difícil de ganhar, mas existe sempre a possibilidade de ser campeão. Se olharmos para os últimos anos percebemos que há praticamente um campeão diferente em todos os anos. 

Sente que o facto de existir uma fase regular pode ser mais desmotivador? 

Não digo que os jogadores fiquem mais desmotivados, mas acho que muda um bocadinho a mentalidade. Quando as equipas jogam em casa, a mentalidade é sempre vencer. Mas quando se joga fora, o empate já é visto como um bom resultado. Aí sim, afeta um bocado. Se houvesse descidas, talvez fosse diferente. Mas a luta pelos playoffs é muito intensa. A Liga não perde a competitividade. 

Aos 33 anos que objetivos é que ainda tem por alcançar? 

O objetivo continua a ser lutar por troféus e títulos. O ano passado, ganhámos mais um troféu importante, o Campeones Cup, que é o vencedor da MLS contra o vencedor da Liga do México. Conseguimos vencer e, este ano, queremos lutar por mais troféus. Quando terminar, quero olhar para trás e ver quantos títulos que conquistei. É isso que fica. A nível individual, quero continuar a jogar até me sentir bem. Neste momento, sinto-me bastante bem e até estou a jogar numa nova posição. Neste momento, sinto que posso jogar durante mais alguns anos, mas o futuro nunca se sabe. 

Agora passou a jogar como lateral esquerdo... 

É uma posição que me deixa mais afastado dos golos e isso também fez com que mudasse os meus objetivos. Agora, quero fazer mais assistências do que golos. Se puder marcar, melhor, mas estou mais focado em ajudar a equipa. Na época passada já fiz metade dos jogos a lateral, porque houve uma vaga e as coisas correram bem. Já não é uma posição estranha para mim. 

Notícias ao Minuto Pedro Santos a celebrar a conquista da Campeones Cup com os dois filhos e uma bandeira de Portugal. © Getty Images  

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