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"Gostava de chegar ao topo. Cada subida de degrau tem de ser aproveitada"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Miguel Fonseca, jogador dos sub23 da Belenenses SAD deu-se a conhecer, contando a história de uma carreira que ainda mal começou. Aos 18 anos, já joga no meio de profissionais e sonha poder chegar ao mesmo nível.

"Gostava de chegar ao topo. Cada subida de degrau tem de ser aproveitada"
Notícias ao Minuto

08:03 - 04/04/22 por Tiago Antunes

Desporto Exclusivo

A agenda desportiva desta segunda-feira indica que Sporting e Belenenses SAD têm jogo marcado para o apuramento para a Taça Revelação, do escalão de sub23. É nesse escalão que joga Miguel Fonseca.

Aos 18 anos, é um dos mais jovens do plantel, algo que já o assustou. Fez formação entre vários clubes da região de Lisboa e foi na Belenenses SAD que esteve em maior evidência. Tem mentalidade de líder, daí ter sido capitão de juniores, e sonha poder chegar à I Liga. Até lá, reconhece que ainda há trabalho a fazer, mas sente que está mais perto que nunca de o conseguir.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Miguel Fonseca deu-se a conhecer, contou como tudo começou no mundo do futebol e como chegou a onde está hoje, feliz e motivado em busca dos objetivos de carreira. 

A minha ideia sempre foi ser jogador de futebol

De onde veio o interesse pelo futebol?

Quando era pequeno, o meu pai levava-me ao parque, levava-me brinquedos e tudo mais para me divertir no parque. Só que, mal eu visse um rapaz com uma bola de futebol, eu largava tudo e ia jogar à bola. Desaparecia de perto dele. Ele começava a procurar-me, não sabia onde eu estava, e eu estava dentro do campo a jogar futebol. A paixão pelo futebol também ganhava força quando eu via jogos de futebol com o meu pai, adorava.

E quando é que começou a jogar?

Quanto tinha quatro anos, o meu pai perguntou-me se queria ir jogar futebol, eu disse que sim. Depois chateava-o sempre para irmos jogar, quando saía da escola, quando estávamos em casa, perguntava sempre quando podíamos jogar. Pedia para me comprarem chuteiras e bolas de futebol para mostrar aos meus amigos na escola. Pouco depois, o meu pai começou a recolher informações sobre clubes para eu começar a jogar, nem todos os clubes tinham equipas em escalões para a minha idade. Aconteceu poder começar no GS Carcavelos.

Então, sempre quis ser jogador de futebol.

Sempre. Nunca tive outra ideia. O meu sonho sempre foi este, sempre pensei que queria ser isto. Mesmo tendo vários exemplos de polícias, de engenheiros na minha família, nunca surgiu ser como, por exemplo, o meu pai ou o meu tio. A minha ideia sempre foi ser jogador de futebol.

Não tem familiares ligados ao desporto?

Não. Tenho primos que gostavam de jogar futebol e de conversar sobre futebol. Agora são mais velhos e não conseguiram chegar a um nível alto. Faz parte. 

Ficaram mais velhos e já não o podem fazer. Considera, então, que o futebol tem um prazo para o jogador se destacar?

Não diria um prazo. O futebol é um processo e a fase mais importante do futebol, sem dúvida, é a formação. Tem tudo a ver com o trabalho, com o esforço, com a dedicação. Quando gostamos de alguma coisa, se nos empenharmos, conseguimos lá chegar. Se eu quisesse ser médico, estudava bastante na área de ciências para lá chegar. No futebol não é diferente, trabalho todos os dias para atingir o objetivo. Depois, é uma vida muito incerta. Podemos ter lesões, quebras de rendimento, é tudo um processo. O segredo é o trabalho e a dedicação no que gostamos.

Muitas pessoas vão aos meus jogos, mas eu desligo, nem olho para as bancadas

Que jogadores gostava de imitar em campo?

Eu fascinava-me com as estreias de jogadores. Gostava de ver o Renato Sanches, por ser médio. Gosto muito de avaliar os médios, perceber as ideias deles e poder fazer o mesmo. De lá de fora, seguia muito o Pogba. Gostava muito dele quando estava no auge da carreira.

Com que jogador se identifica mais?

Eu gosto muito do Pizzi. Gosto da forma como ele encara os jogos, é muito forte no drible, na qualidade do jogo. Consigo ver ali o meu reflexo porque sou um jogador que gosta bastante de ter a visão do campo e poder fazer aqueles passes de rotura, as tabelas a meio campo, o virar o jogo. Gosto de fazer a ligação da defesa ao ataque.

Pegando no caso do Pizzi, e olhando para a situação em que ele esteve envolvido neste temporada, na sua opinião, como é que um jogador de futebol encara as críticas vindas de fora e ganha vontade de voltar a jogar futebol no dia seguinte?

Pelas experiências que já conheci de outros jogadores de futebol, pelas histórias que me contaram, sei que não é fácil, principalmente quando se é famoso. Têm a vida praticamente toda exposta ao mundo e não é fácil encarar, mas o apoio da família e o não ligar tanto ao que se diz fora ajudam bastante. Das entrevistas a jogadores que eu vejo, o que eu retiro da mensagem deles é 'Tento desligar-me das críticas de fora, do que surge no mundo dos media porque muitas coisas podem ser falsas'. Muitas vezes, as pessoas de fora não percebem o que realmente é verdade, hoje elogiam e, amanhã, depois de uma polémica, estão a criticar. Aí, a família deve ser o maior apoio.

Alguma vez se deparou com uma situação dessas?

Sinceramente, não sei. Muitas pessoas vão aos meus jogos, mas eu desligo, nem olho para as bancadas. Eu, muitas vezes, nem sei onde está o meu pai, nem o tento procurar. Prefiro que seja assim para me sentir mais à vontade porque, se eu souber que está lá aquela pessoa ou outra, eu fico com medo de falhar e pensarem algo errado de mim. Tento ser o mais natural possível, o que tiver de acontecer vai acontecer, tento focar-me no meu papel, que é jogar futebol.

Se chegar a profissional, considera-se preparado para essa fama ligada ao futebol?

Nunca pensei nisso porque o meu foco não é a fama, é o chegar lá e jogar. Tenho de esperar para ver como vou reagir. Com certeza que vou receber o apoio de amigos e família, caso isso aconteça.

O Miguel é um jogador forte a nível psicológico?

Sim, não gosto de deixar nada a meio por estar a perder. Mesmo que o jogo esteja a correr mal para mim ou para a equipa, gosto de ir até ao fim. Mesmo que oiça críticas do treinador, o que é bom, faz-nos crescer e aprender, não posso deixar-me ir abaixo. É a mesma coisa de quando era criança. Se eu fizesse algo errado, gostava que me chamassem à atenção e que me repreendessem. Foi assim que fui aprendendo o que era errado e no futebol penso como posso fazer melhor para a próxima.

O meu pai dizia-me que tinha de ser mais egoísta, mas eu gostava de ver os meus colegas felizes por marcaremSentiu dificuldade de adaptação a algum escalão da formação?

Quando eu tinha 16 anos, era juvenil. Nessa idade, fui chamado aos juniores, ou seja, para jogar com pessoal acima dos 18. Foi a primeira vez que joguei com alguém mais velho que eu e cheguei a pensar que, por serem mais velhos, tinham mais capacidades que eu, mas eu sabia que não podia pensar dessa forma. Se estava ali, era mérito meu, então tentava trabalhar e esforçar-me tanto como eles. Num treino, se o mister dissesse que tínhamos de fazer 100 flexões, eu tentava fazer todas como os outros, nunca queria estar abaixo, queria estar ao mesmo nível. Foi aí que comecei a crescer, quando lidei com pessoal mais velho. Senti que, nesse período, cresci mais rápido.

Como foi o início da carreira no GS Carcavelos?

Comecei muito jovem. Acredito que tenha sido difícil para o meu treinador pelo grupos de miúdos que ali apareceu. Nunca é fácil, quer-se brincar, jogar à apanhada, fazer tudo, mas o mister passava aquela imagem de brincar com o sério. Sei que era cedo, mas ele começou desde o início a passar-nos noções de futebol, só que incentivava ao dizer 'Se fizermos isto bem, no final do treino há jogo' e nós ficávamos contentes e queríamos dar o melhor. Com os meus sete anos, comecei a competir em torneios e, mais tarde, em campeonatos. Aí pensei que queria dar mesmo tudo, fazer o máximo que podia. Depois tinha outro incentivo, o meu pai. Recebia recompensas dele quando marcava golos.

Que recompensas recebia?

Ele dizia 'Se marcares um golo, dou-te um euro'. Aí, comecei a ganhar motivação. Num jogo, marquei quatro golos e disse-lhe 'Hoje foram quatro, é perto de cinco. Podias dar uma notinha' e ele lá aceitava. Era uma motivação para mim, comecei a crescer, continuei a ter gosto pelo jogar e, com a motivação que o meu pai me dava, eu só queria fazer golos.

Prefere marcar ou dar a marcar?

Sempre foi característica minha o gostar de assistir. O meu pai dizia-me que tinha de ser mais egoísta, mas eu nem ligava porque gostava de ver os meus colegas felizes por marcarem. 

Continuando com a formação.

Eu passei para o futebol de sete e entrei em campeonatos da federação. Aí já tínhamos objetivos de época, já se jogava contra Benfica, Sporting... Ficávamos encantados por ser um clube de I Liga. Muitos pensavam que, porque eles eram do Sporting, por exemplo, eram melhores que nós. Eu não aceitava e dizia que tínhamos de mostrar que éramos os melhores ali. Lembro-me de um jogo contra o Estoril, debaixo de chuva intensa, tinha eu nove anos, eu disse a toda a gente que tínhamos de dar tudo até ao final e aí vi o esforço e o empenho de todos. Éramos só miúdos, era tudo mais na brincadeira, mas vi um grupo muito unido.

É um líder de equipa.

Exatamente. Nesse ano, fui escolhido para capitão. O mister considerava-me a pessoa com mais cabeça naquele grupo, gostou da minha personalidade. Aquilo que eu ouvia do meu pai, eu tentava passar aos meus colegas. Sentia que o meu pai estava a ajudar-me. Sempre falei com todos para motivar, para ajudar, era a voz do grupo, fazia o grito. Principalmente, gostava muito de ajudar.

Qual é a responsabilidade de se ser um capitão?

Não é só a braçadeira, é muito além disso. Gosto de estar com o grupo, conversar, saber como estão os meus colegas, gosto de dar uma palavra antes, durante e depois dos jogos, gosto de falar com o mister. Também faço a ligação entre o plantel e o treinador. Por vezes, quando um colega está em baixo pelos seus motivos, eu não gosto de saber o porquê, eu gosto é de mostrar que estou ali para ajudar e dar apoio. 

Ser capitão é sê-lo dentro e fora de campo.

Exato. Neste momento, jogo nos sub-23 da Belenenses SAD, já nem treino com os juniores. Eu dei a minha opinião e disse que, apesar de continuarmos ligados, eu estava disposto a deixar de ser o capitão de equipa. Pensei que era injusto, mas eles decidiram que queriam continuar assim, talvez tenham sentido que o meu apoio é bom.

Sentia-me cansado, era puxado, não estava felizFoi nessa fase que mudou para o Belenenses

Foi aos 10 anos. Estava a jantar e um um senhor do Belenenses ligou ao meu pai. Eu estava a tentar ouvir a conversa e pensava no que estavam a falar. O meu pai colocou a chamada em alta voz e perguntou-me se queria jogar no Belenenses. Eu fiquei sem grande reação, só a tremer, até suei. Já tinha tido oportunidades de ir treinar ao Sporting e ao Benfica. Quando se chega a esse patamar de clube de I Liga, sem menosprezar os outros, percebe-se que é outra coisa, com outras condições. Só tinha de dizer que sim ao Belenenses, não por não estar feliz no GS Carcavelos, mas tratava-se de uma grande oportunidade. Foi a altura em que comecei a acreditar mais em mim e foi o sítio onde aprendi mais de tudo, tive uma evolução bruta. Gostei muito de lá estar. Também foi aí que conheci muita gente do futebol, muito graças ao meu pai. Conheci o Jorge Andrade porque os filhos dele jogavam comigo, ainda tenho uma forte ligação com eles. É dessa altura que também tenho vários exemplos. O meu pai perguntava-me 'Conheces aquele senhor ali?', eu dizia que não conhecia e ele contava-me que tinha jogado futebol no tempo dele, que tinha sido um craque. Entretanto, no Belenenses passei do futebol de sete para o de 11 e aí comecei a notar grande diferença.

Foi uma adaptação mais complexa?

Senti um bocado ao início. O mister passava-nos a ideia de que aquilo era muito diferente do futebol de sete. Eu, antes, tinha facilidade no posicionamento e podia fazer 'arrancadas' de uma ponta à outra do campo por ser de dimensões reduzidas. No futebol de 11, não dá para isso. Aí foi a altura mais difícil, mas fui trabalhando, fui evoluindo ao longo dos anos.

A seguir, mudou para o CAC.

Tive de sair do Belenenses porque cheguei ao ponto de não conseguir conciliar tudo. Tinha de focar-me nos estudos, tinha treinos às 11 horas da noite, chegava a casa para lá da meia noite e tinha de acordar às sete da manhã para ir para a escola. Sentia-me cansado, era puxado, não estava feliz.

Colocou o sonho de parte para se reorganizar.

Pensei que tinha dois caminhos. Tinha de me concentrar na escola, os meus pais exigiam-no, mas nunca tirei o foco do futebol. 

Como foi a experiência no CAC?

Aí joguei pela primeira vez o Campeonato Nacional, contra equipas de todo o país. Fui treinado pelo Jorge Andrade, isso foi uma oportunidade única por ser um exemplo a seguir. Ouvi muitas histórias dele e recebi muito conhecimento dele. Éramos crianças e gostávamos de jogar contra Vitória SC e FC Porto, porque as viagens eram divertidas.

Tenho a ambição de chegar à I LigaEntretanto, surge o projeto Belenenses SAD. Aí, tudo se tornou mais sério.

Quando mudei para a Belenenses SAD, pensei 'Ok, é isto mesmo'. Saltei depressa dos juvenis para os sub-23 e pensei em lutar mais pelo meu lugar. Quando recebi o telefonema a avisar que ia treinar noutro escalão, acreditei que a oportunidade estava a surgir. O barco está sempre a andar, só temos de saber apanhar o barco no tempo certo. Sempre que tive oportunidades, aproveitei-as, e o melhor é mesmo aproveitá-las porque podem não voltar. Acreditaram em mim, eu treinei, dei tudo, sempre concentrado, o mais natural possível, fazer o meu futebol, com as borboletas na barriga, mas sem pressões. A equipa também me recebeu, muitos já são profissionais e já jogaram I Liga.

Que tipo de jogador é o Miguel?

Tenho muita técnica, mas não me aventuro nas fintas. Isso é para os avançados. Gosto de fazer a equipa jogar, de ser o centro do jogo, não gosto de estar parado, gosto de estar sempre ativo e de fazer a bola rolar.

Caso tivesse de mudar de posição, em qual encaixaria melhor?

Todas menos a guarda-redes.

Pretende chegar à equipa principal da Belenenses SAD e fazer carreira por aí?

Tenho a ambição de chegar à I Liga, qualquer um quer isso. Vai ser o recompensar de todo o esforço que tive, isto não é constante. Vou ficar muito feliz e muito orgulhoso de lá chegar.

E estará para breve ou ainda é preciso dar mais passos?

Já dei um grande passo quando fui dos juniores para os sub23. Aqui, estou mais próximo do que estava nos juniores. Considero que estou muito mais perto de lá chegar e tenho de trabalhar até ter a oportunidade e, depois, mostrar que consigo dar tudo em campo. O clube também me conhece bem, já são muitos anos.

Cada subida de degrau vai ter de ser bem aproveitada

O Desporto ao Minuto tomou conhecimento da possibilidade de o Miguel sair para outro campeonato. Pretende sair da equipa nesta fase?

Eu estou bem onde estou. Estou confortável, ainda para mais nos sub23. Poderei pensar nisso no final da época. Agora, penso em estar na Belenenses SAD e, enquanto aqui estiver, quero dar o máximo pela camisola, esta é a minha casa. Tenho de meter a minha cabeça mais no presente que no futuro e encarar as coisas dessa forma.

Com 18 anos, sente-se preparado para uma mudança de realidade desse tamanho?

Só vivendo a experiência. O mais difícil seria sair da minha zona de conforto, onde cresci e vivi. Mesmo que fosse sair de Lisboa para ir para o Porto, ia sentir-me longe dos amigos e da família, ia ser difícil nos primeiros meses para me adaptar. Mas iria focar-me, ultrapassar essa fase e, em jogo, deixar isso fora do campo.

Até que ponto o Miguel pode chegar como jogador?

Onde eu quiser chegar. Tenho de ter essa ideia na minha cabeça, focar-me ao máximo e acreditar em mim. Cada subida de degrau tem de ser bem aproveitada. Gostava de chegar ao topo.

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