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"70 mil famílias poderão" vir a ter dificuldades com crédito à habitação

O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu hoje o papel dos apoios públicos e da banca, aliado à poupança, para prevenir incumprimentos nos pagamentos dos empréstimos das famílias e recomendou a redução do peso da despesa do Estado.

"70 mil famílias poderão" vir a ter dificuldades com crédito à habitação
Notícias ao Minuto

11:15 - 04/09/23 por Lusa

Economia Mário Centeno

Numa análise ao atual momento da economia, publicada pelo supervisor bancário, o governador, Mário Centeno, alerta que no final deste ano, "cerca de 70 mil famílias poderão vir a ter despesas com o serviço do crédito à habitação permanente superiores a 50% do seu rendimento líquido", recordando que "no final 2021, já eram 36 mil famílias".

"O reforço da poupança e a redução do endividamento, bem como os apoios públicos e o papel do setor bancário na prevenção do incumprimento podem mitigar estes riscos", aponta.

A cerca de um mês da entrega do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), na publicação intitulada "encruzilhada de políticas", o antigo ministro das Finanças considera que "a política orçamental deve continuar a orientar-se pela noção de que não se alterou aquilo que há cinco anos não era financiável".

Numa altura em que a revisão das regras orçamentais de Bruxelas está em discussão, mas a proposta da Comissão Europeia dá mais peso à evolução da despesa primária, Mário Centeno recorda que "o peso da despesa permanente na economia continua acima de 2019", defendendo que "deve reduzir-se para garantir a sustentabilidade ao longo do ciclo económico".

Depois de traçar um retrato positivo da evolução do país desde 2015, Mário Centeno argumenta que "a conclusão da recuperação da crise pandémica, o arrefecimento da inflação e a necessidade de encontrar as fontes de crescimento nos fatores estruturais fazem de 2023 um ano charneira".

Destacando o desempenho da economia no primeiro semestre do ano -- "contas públicas entre as mais equilibradas; endividamento público e privado numa trajetória de redução; e um sistema financeiro estável e aliado da economia"-, salienta, contudo, que se assiste a "uma encruzilhada de políticas para reduzir a inflação e responder ao abrandamento da economia".

Mário Centeno destaca, ainda assim, que o segundo semestre se inicia com o emprego e salários em valores máximos", apontando que "o emprego privado cresceu 9% desde 2019 e há mais 800 mil empregos do que há dez anos", bem como o crescimento de 20% dos salários desde 2019.

O governador dá ainda nota sobre a evolução das qualificações em Portugal, naquilo que frequentemente denomina a "revolução silenciosa", que considera não pode ser abandonada.

Nega ainda "uma suposta 'redução' do número de licenciados", considerando que se trata "de um desvio estatístico, sem sustentação socio-económica".

"Vejamos. Entre 2011 e 2019, a população portuguesa com ensino superior aumentou ao ritmo de 71 mil por ano. Já entre o final de 2019 e meados de 2022 este número teria passado a 180 mil licenciados por ano! Apesar das melhorias do sistema de educação superior, isto é incompatível com o fluxo de alunos formados por ano. Na ausência de fluxos migratórios massivos de entrada de licenciados em plena pandemia, esta evolução não é credível", argumenta.

Neste sentido, explica que "corrigido o desvio, os atuais dois milhões de licenciados correspondem a um aumento, também, de 71 mil por ano desde 2019".

"Nada mudou. O país não está destinado a qualificações que muitos pensavam ser endemicamente reduzidas, nem à emigração", sublinha.

[Notícia atualizada às 11h37]

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