Sindicatos denunciam falta de dinheiro nos CTT para pagar reformas
Sindicatos e a Comissão de Trabalhadores dos CTT denunciaram hoje no parlamento a falta de dinheiro em caixa nos balcões para o pagamento de reformas e o incumprimento da confidencialidade nos postos agenciados pela empresa.
© Lusa
Economia Prestações
"Veem-se cada vez mais idosos a procurar as estações [dos CTT] mais próximas para conseguirem receberem o seu vale de reforma porque falta dinheiro" pouco tempo depois de os balcões abrirem a caixa, contou aos deputados Vitor Narciso, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), explicando ainda que alguns "funcionários à antiga", sensibilizados com as dificuldades financeiras e de mobilidade dos idosos, até prometem guardar dinheiro da caixa para lhes conseguirem pagar no dia seguinte.
João Lopes, do SINCOR - Sindicato Independente dos Correios de Portugal, o primeiro sindicato que foi hoje ouvido pelos deputados no parlamento, denunciou ainda o surgimento de problemas de segurança e de falta de confidencialidade desde que os CTT começaram a externalizar a distribuição de correio a terceiros, que "não têm nem a obrigação nem formação adequada" para o trabalho.
"Num posto de correios que funciona numa mercearia, uma cliente que ia receber o seu vale de reforma de 600 euros teve de ouvir comentários sobre as suas dividas, que o funcionário achava que deviam ser pagas com aquele vale", contou, indignado, aos deputados o sindicalista da SINCOR.
O deputado do PCP Bruno Dias, autor do requerimento para as audições de hoje, questionou se estas são algumas das consequências da privatização dos CTT, ao que o sindicalista do SNTCT respondeu: "Três anos depois, claramente podemos dizer que isto é resultado da privatização e da falta de fiscalização por parte do Governo".
José Rosário, da Comissão de Trabalhadores dos CTT, queixou-se ainda do controlo de qualidade feito pelo regulador ANACOM acerca do serviço prestado pelos Correios, defendendo estar "errada" a forma como é executado esse controlo porque, ao contabilizar uma média, reflete apenas a percentagem de correio entregue em locais como Leiria ou Lisboa, esquecendo que em zonas com menos população a distribuição de correio chega a atrasar quase duas semanas.
"A empresa tem dado prioridade ao atendimento do banco CTT [há filas de atendimento separadas para o banco e o serviço público] e usa o serviço público de correio como uma fonte acessória, que passou para segundo plano", disse aquele elemento da Comissão de Trabalhadores.
O serviço da empresa em algumas localidades do país com pouca movimentação não se nota na estatística, mas, segundo José Rosário, recebem correio de oito em oito ou de nove em nove dias", e noutros há trabalhadores que "têm ritmos de trabalho desumanos", e sem remuneração" dessas horas extraordinárias.
"Há trabalhadores que entram às sete da manhã e saem às 5h00 ou 6h00 da tarde. E também temos conhecimento de alguns que nem param na hora do almoço. Essas situações acontecem em Lisboa, mas também no Norte e no Sul, mas a situação mais grave é nos centros urbanos", afirmou o sindicalista do SINCOR, acrescentando que, apesar disso, "nunca houve tantas queixas por espera" de atendimento aos balcões dos CTT, que chegam a ser de duas horas.
As audições dos deputados acerca dos CTT vão abranger também a autoridade reguladora das comunicações postais e das comunicações eletrónicas, a ANACOM, segundo explicou o deputado do PCP.
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