Macron em Marrocos recebido por Mohammed VI para selar reconciliação
O Presidente francês, Emmanuel Macron, chegou hoje a Marrocos para uma visita de Estado visando restabelecer os laços históricos gravemente afetados por três anos de rutura entre o país magrebino e a antiga potência colonial.
© LUDOVIC MARIN/POOL/AFP via Getty Images
Mundo Rabat
Macron, acompanhado pela mulher, Brigitte Macron, e por uma delegação de ministros, empresários, intelectuais e personalidades do mundo do espetáculo, foi recebido no aeroporto de Rabat-Salé por um longo aperto de mão do rei Mohammed VI, que vestia um fato escuro e se apoiava numa bengala.
O príncipe herdeiro, Moulay Hassan, e o príncipe Moulay Rachid, irmão do rei, também estiveram presentes, ao som da banda de metais da Guarda Real e de 21 tiros de canhão.
Os dois chefes de Estado deslocaram-se em seguida num carro de cerimónia até ao palácio real, atravessando as ruas de Rabat, a capital marroquina, que estavam enfeitadas com as cores de França e repletas de multidões.
Após uma cerimónia solene de boas-vindas na Place du Mechouar, o palácio real, terão um encontro a sós, a que se seguirá a assinatura de acordos sobre energia, água, educação e segurança interna.
"Pretendemos reconstruir [a nossa relação], mas também projetarmo-nos nas próximas décadas", colocando a 'fasquia muito alta', sublinhou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Noël Barrot, ao semanário francês La Tribune Dimanche.
"Esta é uma visita histórica", afirmou Khalid El-Hourri, editorialista do jornal marroquino de língua árabe Assabah.
"Serão discutidos assuntos difíceis, nomeadamente a questão da imigração, que se tornou uma obsessão em França [...] mas esta discussão difícil é ultrapassável", acrescentou o analista Mokhtar Laghzioui no diário al-Ahdath al-Maghribia.
A viagem conta com a presença de nove ministros, entre os quais os do Interior, Bruno Retailleau, da Economia, Antoine Armand, da Educação, Anne Genetet, e da Cultura, Rachida Dati, de origem marroquina.
Com a comitiva de Marcron estão também presidentes e alto funcionários de empresas francesas como a Engie, Alstom, Safran, TotalEnergies, CMA CGM, Suez, Veolia e Thalès Alenia Space.
O mundo cultural franco-marroquino também estará em destaque, com a presença dos escritores Tahar Ben Jelloun e Leïla Slimani, o comediante Djamel Debbouze e o ator Gérard Darmon.
Os dois dirigentes tencionam pôr um ponto final numa série de contenciosos, desde as suspeitas de escutas telefónicas de Macron até à redução para metade do número de vistos concedidos aos marroquinos em 2021-2022 para pressionar Rabat a recuperar os seus cidadãos ilegais expulsos de França.
A prioridade dada pelo Presidente francês à Argélia, após a sua reeleição em 2022, também lançou uma sombra sobre as duas potências magrebinas, divididas por uma profunda rivalidade.
A antiga colónia espanhola do Saara Ocidental, considerada um "território não autónomo" pela ONU, é desde há meio século um pomo de discórdia entre Marrocos e os independentistas sarauís da Frente Polisário, apoiados por Argel.
Depois de Washington ter reconhecido a soberania marroquina sobre o território, Rabat intensificou a pressão sobre a França para que lhe seguisse o exemplo.
Estas múltiplas convulsões levaram repetidamente ao adiamento da visita de Estado de Macron, inicialmente prevista para o início de 2020, após uma primeira deslocação em 2017 e outra em 2018.
Em julho, o Presidente francês optou finalmente por se aproximar de Marrocos, onde a França tem grandes interesses económicos, declarando-se a favor de uma solução para o Saara Ocidental "no quadro da soberania marroquina".
"O Saara é uma causa sagrada em Marrocos [...] A França arrastou os pés por causa da Argélia, é claro. Macron quase que perdeu tudo. Não pode ser amigo de ambos, é muito difícil, outros chefes de Estado franceses já passaram por isso", defendeu hoje o analista marroquino Tahar Ben Jelloun à rádio France Inter.
Rabat espera que este realinhamento da posição da França se traduza num investimento merecido no país, que tem enormes recursos pesqueiros, solares, eólicos e ainda de fosfatos.
A visita poderá também dar origem a uma série de contratos, apesar de as duas partes se terem mantido discretas nas negociações, como o caso da Airbus Helicopters, que poderá vender 12 a 18 'Caracals' à Força Aérea marroquina.
A França também espera continuar a ser o fornecedor preferencial de Marrocos para a extensão da linha ferroviária de alta velocidade entre Tânger e Agadir, após a inauguração do primeiro troço com grande pompa em 2018.
No que respeita à imigração, o novo Governo francês quer obrigar Marrocos a readmitir os seus cidadãos detidos ilegalmente. Mas, após a crise dos vistos, Paris promete avançar num espírito de diálogo.
"Entre os países de origem da imigração para França, Marrocos está em primeiro lugar", sublinhou Patrick Stefanini, ex-prefeito e figura do partido de direita Les Républicains, à estação de televisão BFMTV, esperando que a visita não provoque "uma forte deterioração das relações com a Argélia".
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