"Agente viverá na sua consciência que Odair morreu. Isso é muito pesado"
Catarina Martins refuta as acusações de que o BE também assumiu um discurso extremista perante o caso e que acha que "todos os polícias são bandidos".
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Política Desacatos em Lisboa
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE) e Cecília Meireles, do CDS, debateram, na noite de segunda-feira, na SIC Notícias, os desacatos e as manifestações que tiveram lugar na Grande Lisboa, depois de um homem ter morrido baleado por um agente da PSP, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora.
Para Cecília Meireles a última semana foi de "extremos e polarização, em que todos perdemos" e uma das grandes vítimas da semana foi o motorista de autocarro que ficou gravemente ferido, depois de um grupo de encapuçados ter atirado um 'cocktail molotov' para o interior do veículo, que o deixou com queimaduras de terceiro grau e que o deixou com lesões para o resto da vida.
"Ele não teve manifestações, não teve homenagens, mas ele também estava a trabalhar, também tem um nome, também tem família. Não sei qual é a cor da sua pele, nem acho que isso seja fator, mas é alguém que foi atacado de forma absolutamente selvagem, no seu local de trabalho, que era aquele autocarro e não sabemos como é que será o resto da vida dele nem se algum dia vai voltar a ter a vida que tinha até agora, provavelmente não, e isso é uma tragédia", atirou a ex-deputada do CDS.
Sobre a morte de Odair, a centralista lamentou e espera "que tudo seja investigado e tudo seja apurado".
"No meio disto, foi de facto uma semana de extremos. Parecia que o mundo se dividia entre aqueles que presumem que todos os cidadãos [dos bairros] são criminosos e aqueles que acham que todos os polícias são bandidos. E isso não pode ser assim. Nem é assim. Não posso ter opinião sobre factos que desconheço. E isso impressionou-me. Tanta gente tão vocal a ter certezas absolutas sobre factos que até agora são desconhecidos", atirou, referindo-se ao BE e ao Chega que, na opinião de Cecília Meireles, "corporizaram dos extremos e dois lados de aproveitamento político numa visão de sociedade que é absolutamente maniqueísta".
Já Catarina Martins defendeu que as críticas de Cecília Meireles são "profundamente injustas porque quando nós estamos perante tais ataques ao Estado de Direito como fez o Chega, quando estamos perante problemas estruturais que ninguém quer falar, como o racismo, é preciso falar, não há um ponto de moderação entre apelar à violência e apelar à não violência. É preciso apelar à não violência com muita veemência. Não se pode ficar mais ou menos em cima da ponte. Não há razoabilidade nenhuma em quem pede à polícia para entrar a matar".
Por outro lado, a eurodeputada bloquista não acha que "em cada polícia temos um assassino racista em potência, muito pelo contrário".
"Se há uma coisa que eu tenho bastante clara na minha cabeça é que a primeira vítima foi Odair Moniz, que perdeu a sua vida, que deixa os seus filhos órfãos e, portanto, é a vítima mais trágica e é bom não esquecermos isso. Claro que há também o motorista da Carris, que está ferido, e há também um agente da PSP com 20 e poucos anos que sofrerá as consequências dos seus atos, naturalmente, com a presunção de inocência que deve ter, mas algo que ele já sabe é que viverá na sua consciência com o facto daquele homem ter perdido a vida. E isto é muito pesado", concluiu.
Recorde-se que, no sábado, houve duas manifestações. Uma em homenagem ao Odair Moniz, realizada pela Vida Justa, outra pelo agente da polícia que o baleou, organizada pelo Chega, partido que foi alvo de uma queixa crime por discurso de ódio.
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