Harry e Meghan? "É como um 'Brexit real', mas não se pode sair assim"
Estivemos à conversa com José de Bouza Serrano a propósito do anúncio de afastamento da família real de Harry e Meghan Markle.
© Getty
Fama Harry e Meghan Markle
Esta quarta-feira, dia 8, o príncipe Harry e Meghan Markle surpreenderam o mundo ao anunciar um afastamento da família real inglesa, isto é, comunicando que pretendiam deixar o 'núcleo duro' da instituição monárquica e tornar-se independentes a nível financeiro.
O Fama ao Minuto esteve à conversa com José de Bouza Serrano, o diplomata e antigo chefe de Protocolo do Estado, que nos deu o seu parecer relativamente ao assunto que na sua perspetiva ainda está longe de ser resolvido.
Considera a saída oficial?
O comunicado foi oficial mas pelos próprios, do Palácio de Buckingham houve [apenas] uma reação. Ainda estão desiludidos porque é como se fosse um 'Brexit real', é um Brexit dos duques de Sussex. Não se pode sair assim, a realeza tem as suas regras e penso que ainda está tudo ainda num estágio inicial, ainda vai haver discussão entre eles.
Querem reescrever as regras e não podem porque a instituição é mais forte do que a própria vontadeMas já havia suspeitas de que a saída fosse acontecer...
Nota-se que a duquesa fez de tudo para se adaptar mas é muito violento entrar numa família real, toda a gente se lembra do problema de Lady Di e do assédio [da imprensa]. A Meghan primeiro adaptou-se muito bem, conseguiu cativar a própria rainha, depois lidou com uma série de problemas devido a acusações racistas.
Posteriormente, durante a maternidade ficou um pouco fragilizada, já para não falar de todo o interesse à volta do filho e da falta de privacidade. Uma coisa que pensava que iria conseguir gerir muito bem, porque era atriz, não aconteceu porque a pressão foi muito maior. Querem reescrever as regras e não podem porque a instituição é mais forte do que a própria vontade. Notava-se que qualquer coisa vinha a caminho.
A rainha não gostou nada que o neto não passasse o primeiro Natal em SandringhamUm dos indícios foi no final do ano passado quando não ficaram com Isabel II...
Sei de boa fonte que a rainha não gostou nada que o neto não passasse o primeiro Natal em Sandringham. [Na altura o Harry e a Meghan] Foram embora, primeiro para os Estados Unidos e depois para o Canadá, mas a título privado, sem representar a Coroa.
Mas irão continuar com os títulos de duque e duquesa de Sussex, correto?
Em princípio sim, são vitalícios, claro que se pode sempre tirar [a rainha], mas eles mantêm os seus títulos, apesar de não terem querido nenhum para o filho. Quando a rainha desaparecer é o príncipe Carlos que vai ser rei e depois é ele que decide quem são os membros da sua casa, mas sendo um filho, claro que sim.
Como é que analisa a linguagem usada no tão polémico comunicado?
Eles tiveram o cuidado de dizer que seriam sempre fiéis à rainha mas não se pode ajudar de fora. Tudo isto e a maneira como foi feito vai criar aqui uma certa fricção, até porque com os problemas do príncipe André não é um bom momento para virem com esta saída da família real.
Neste tipo de atitudes é que se percebe como a Meghan não pertence à realezaAgora, vê-se que ele gosta muito dela e ela tem uma mente diferente. Neste tipo de atitudes é que se percebe como a Meghan não pertence à realeza, foi uma aquisição, uma adesão por amor. Claro que muitas pessoas reais abdicavam e faziam da sua vida muitas coisas por vontade própria, amor e tudo isso, mas eles são educados para nunca o fazer.
Mas neste caso não foi uma abdicação...
Não é uma abdicação, mas é a renúncia a um estatuto do qual não se pode abdicar livremente. Quem determina o estatuto, os privilégios, entre outras coisas, é a rainha, ou o pai deles quando for rei. A ideia que eu tenho é que ainda está no começo, vão ter de justificar, de voltar atrás, de discutir com a família, a própria rainha e o príncipe de Gales, e não vão poder sair assim de qualquer maneira.
A Meghan precisava de um 'banho de normalidade', que nunca vai ter. O problema é que eles não podem andar pelo mundo sem escoltas, sem seguranças. É uma prisão para a vidaConsidera que a rainha Isabel II foi apanhada de surpresa por isto?
Acho que sim, queria ter a certeza, espero poder confirmar que foi. A rainha e até o próprio príncipe Carlos. A Meghan precisava de um 'banho de normalidade', que nunca vai ter. O problema é que eles não podem andar pelo mundo sem escoltas, sem seguranças. É uma prisão para a vida. Tem as suas compensações, pode ser uma gaiola dourada, mas não podem de repente dizer: ‘Ah, eu deixo de ser!’.
E é possível essa independência financeira que referem?
Isso podem porque têm bens próprios. Ela tinha uns milhões quando se casou e ele tem a herança da mãe e da avó. Não dá é para aviões privados e essas coisas todas, é um nível de vida completamente diferente.
As coisas indicavam uma certa dissidência e autonomiaAs coisas indicavam uma certa dissidência e autonomia. Ela tem muita personalidade e ele gosta muito dela e tudo isso pesa. É difícil. Como é que não sendo membros da família real em full-time mantêm os patronatos? Está tudo em aberto, mas eles precipitaram-se talvez em dizer isto.
E agora o que vai acontecer?
Longas negociações. Vai haver uma intervenção do pai e do irmão [príncipe William]. Eles têm todas as vantagens do estatuto, mas têm de ter os inconvenientes de seguir as regras. Tem um caminho de entrada e não de saída. A saída infelizmente é a morte, é horrível dizer assim, mas não se pode sair quando se quer. Não é como um clube que se deixa de pagar as quotas e sai-se.
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