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"Ser famoso não me fascina. É por isso que não tenho redes sociais"

Estivemos à conversa com o ator Fernando Pires.

"Ser famoso não me fascina. É por isso que não tenho redes sociais"

Fernando Pires, o ator que não planeou sê-lo. Tornou-se conhecido com a personagem de Tony na série da RTP 'Conta-me Como Foi' e, desde então, nunca mais parou. Entrou para o mundo da representação por causa do pai, mas sempre a pensar que seria apenas um "part-time". Quis a vida que esta se tornasse numa paixão a tempo inteiro.

Bem-disposto, descontraído e simples. A conversa com o ator foi no mínimo animada. Tivemos a oportunidade de conhecer o seu outro lado, aquele que vai para além do pequeno ecrã.

Benfiquista ferrenho, confessa-nos que esta é a única coisa que o tira do sério. O resto é um copo meio cheio. Aos 36 anos e ao contrário de grande parte dos artistas, não tem redes sociais. Diz-nos que tem a sorte de não precisar delas. Tem uma cadela, "muito gorda", a Zezé, que precisa de fazer uma dieta. Gosta muito de comer e de ver canais de culinária. Tem um pequeno estúdio com vários instrumentos em casa, entre eles um cavaquinho. Está a aprender a tocar piano. E já lhe dissemos que adora futebol e o Benfica? Gosta tanto que falou desta sua "chama imensa" algumas vezes...

O que é que aprendeu com o Tony na série 'Conta-me Como Foi'?

Aprendi que podia ser ator. Na altura tinha entrado para a faculdade e o meu pai tinha morrido. Nunca ponderei ser ator, foi sempre um part-time. Só quando comecei a fazer o 'Conta-me' é que decidi que era aquilo que queria.

Notícias ao Minuto Fernando Pires como Tony em 'Conta-me Como Foi' © DR

O Tony trouxe-lhe uma maior consciência a nível político e social ou já dava atenção a esses assuntos?

Sempre dei porque os meus pais e os amigos deles foram revolucionários. O meu pai chegou a estar a preso. A minha mãe punha Zeca Afonso e José Mário Branco para eu adormecer. Fui ensinado a ter essa consciência política. Não sou muito ativo politicamente, nunca fui, porque cada vez acredito menos nisso, mas já tinha as bases para perceber o quanto o 25 de Abril foi importante.

Como eram os bastidores da série?

Criou-se uma ligação grande entre nós, família. Ainda hoje nos tratamos como mano, mana, mãe, pai, avó. Não me custava ir trabalhar de manhã.

Notícias ao Minuto Fernando Pires e a família Lopes na série da RTP 'Conta-me Como Foi' © DR

O pai do Fernando ainda o chegou a ver na série?

Já não...

Mas ficaria muito orgulhoso, é certo...

Sem dúvida nenhuma. Comecei como ator aos oito anos porque o meu pai trabalhava no estúdio Mário Viegas como sonoplasta. Na altura iam fazer a peça 'À Espera de Godot' de Samuel Beckett e precisavam de uma criança. O meu pai disse: 'Epá, eu tenho lá uma em casa, se calhar vem cá desenrascar'.

Lembra-se do momento em que subiu ao palco?

Com oito anos não se faz a mínima ideia. Lembro-me que dois ou três dias antes de estrear disse ao meu pai: 'Olha, afinal não quero isto'. O meu pai 'panicou' bastante, mas lá me conseguiram convencer [diz, entre risos].

Comecei a fazer televisão para ganhar uns trocos, era giro, mas o que queria mesmo era ser jogador de futebol

E a televisão como é que apareceu?

Faço essa peça de teatro, depois vou trabalhar para a 'Barraca'. Entretanto, uma pessoa da Endemol vai ver uma peça e pergunta-me se queria ir fazer um casting para uma série, 'Querido Professor' (2000). Fiquei e foi assim que entrei para o mundo da televisão. Comecei a fazer TV para ganhar uns trocos, era giro, mas o que queria mesmo era ser jogador de futebol [afirma, sem resistir a uma gargalhada]. Queria estudar e ter uma vida normal.

Ainda chegou a licenciar-se...

Quando comecei a fazer o 'Conta-me' estava em Matemática, era a única coisa em que era bom aluno e queria ser professor. Depois com a série já não deu porque era preciso dedicação. Como não queria parar de estudar, licenciei-me em Marketing e Publicidade. Era mais fácil, tinha um lado criativo e ainda fui a umas festas de faculdade.

Sempre foi bom aluno?

Sim, não tinha medo de comunicar. Uma vez num teste de Filosofia não sabia nada e enchi uma página com uma coisa qualquer e a minha professora escreveu lá assim: 'Escreves bem mas não me encantas' [conta, sem conter uma boa gargalhada].

O facto de aparecer na televisão atraiu mais atenção feminina?

Não acho que seja por aí... Falava-se na altura, mas as pessoas que me conhecem sabem que sou parvo por natureza, não é por ser ator.

O lado de ser famoso não é coisa que me fascine muito. É uma das razões pela qual não tenho redes sociaisE nem sentiu a aproximação de pessoas mais interesseiras?

Não, porque como ator a coisa de que gosto menos é precisamente esse lado de ser conhecido. Gosto de brincar e sou muito gozão. Claro que é bom quando vais na rua e as pessoas dizem que gostam muito do teu trabalho, mas o lado de ser famoso não é coisa que me fascine muito. É uma das razões pela qual não tenho redes sociais.

Mas não sente que perde oportunidades por não ter Instagram, por exemplo?

Posso dar-me a este luxo porque nunca me faltou trabalho. Cada vez isso acontece mais, ser escolhido baseado no número de seguidores. Tenho tido sorte. A minha agência chegou a pedir-me [para criar uma página de Instagram] e há a mítica rede social 'FernandoPires_todo nu'. Tirei uma foto da Internet e nunca lá fui... mas existe! Gozam comigo por causa disso.

Notícias ao Minuto
© Instagram

E não lhe faz confusão um ator ser escolhido por causa do número de seguidores?

Faz, porque acho que não é por aí que se devem escolher os atores, mas não quer dizer que uma pessoa com muitos seguidores não tenha jeito para a coisa. Considero-me um exemplo de que escolhem pessoas sem redes sociais. Contudo, penso que se me faltasse trabalho se calhar recorreria a isso. Não julgo ninguém.

Então como faz naquelas situações com os amigos em que estão todos a olhar para o telemóvel e ninguém fala?

Isso aí é coisa que não pode acontecer porque não permito [afirma, divertido]. Se começo a ver o pessoal todo agarrado ao telefone digo logo para largarem. Imponho-mo e falo: 'Vamos aproveitar agora!'.

Mas também não gostava de partilhar alguns momentos?

Mas eu faço isso. Partilho uma fotografia com um grupo de WhatsApp onde tenho os meus amigos mais próximos.

E em relação aos fãs, a sua mãe continua a ser a maior de todos?

Sim. Agora não está muito bem a nível de saúde, mas acredito que será para sempre a minha maior fã. Mesmo que tenha estado mal, ela diz que estive muito bem.

E o que é o que motiva na profissão?

Gosto de ir trabalhar não pela cena de ir representar. Se for com pessoas de quem eu gosto, para mim, é um tempo bem passado.

É a loucura, loucura, loucura e depois dizem ação e entramos em personagemE como lida com as pessoas mais difíceis?

É importante saber respeitar o espaço do outro. Há casos muitos concretos: a Rita Blanco e o Miguel Guilherme que foram os meus 'professores', por exemplo. Atores do melhor que temos e com métodos de trabalho completamente diferentes. Eu fui mais para o lado da Rita... é a loucura, loucura, loucura e depois dizem ação e entramos em personagem. A coisa bonita da representação é essa, não há uma forma correta de se fazer. Eu sou muito gozão mas consigo perceber que há pessoas que não gostam e respeito.

Tenho um plano que é juntar dinheiro para viver até aos 85 anos e mal consiga ter suficiente para uma mensalidade de mil euros por mês, considero-me reformadoO que é que ainda gostava de fazer na vida? Tem algum plano B?

Sou uma pessoa organizada na minha forma desorganizada. Tenho um plano que é juntar dinheiro para viver até aos 85 anos e mal consiga ter suficiente para uma mensalidade de mil euros por mês, considero-me reformado.

E trabalhar lá fora?

Não... enquanto pessoa nunca fui muito ambicioso, se calhar foi algo que faltou na minha vida. Contento-me com pequenas coisas.

Já me disseram que se me dedicasse poderia ser um ator do caraças, mas esse não sou eu. Sou muito espontâneoJá me disseram que se me dedicasse poderia ser um ator do caraças, mas esse não sou eu. Sou muito espontâneo. Mesmo a representar tive sorte. Nesse aspeto, penso que o trabalho de ator é injusto. Pode acontecer darem-te um papel e tu, nunca tendo representado na vida, sais-te muito bem.

Notícias ao Minuto Fernando Pires como Tony em 'Conta-me Como Foi' © DR

Então o método de trabalho do Fernando é mesmo ser espontâneo?

Nos ensaios estou sempre a gozar e dão-me na cabeça, dizem-me para levar aquilo a sério. Respondo que não. Só levo a sério quando me dizem que é para gravar. É a minha forma de me preparar, preciso daquele espaço de brincadeira.

Estávamos a gravar isso e de repente quebro, descontrolo-me completamente e começo a chorar. Quando acabo a cena até os câmaras estavam a chorarPor exemplo, uma das cenas mais míticas do 'Conta-me' é quando o Tony diz que vai para a guerra. Estávamos a gravar isso e de repente quebro, descontrolo-me completamente e começo a chorar. Quando acabo a cena até os câmaras estavam a chorar. Não faço a mínima ideia de como o fiz, foi o sentimento que passou por mim, sei lá, encarnei a personagem.

Estando fora das redes sociais, para quem não o conhece, como é que se apresentaria?

Sou uma pessoa perfeitamente normal que gosta muito do Benfica e que gosta de jogar de futebol. Sou bem-disposto e um pouco acelerado.

Notícias ao Minuto Fernando Pires © DR

Não me lembro da última vez que me zanguei. Não é que seja mais feliz ou infeliz, simplesmente vejo sempre o copo meio cheio

E é fácil alguém se tornar amigo do Fernando?

Sim. Digam-me um bom dia ou boa tarde, sejam simpáticos e têm aqui um amigo para a vida. Não me lembro da última vez que me zanguei. Não é que seja mais feliz ou infeliz, simplesmente vejo sempre o copo meio cheio. A única coisa que me tira do sério é o Benfica. A forma como aquilo mexe comigo é algo que me chateia porque não posso fazer nada. Fico zangado o dia todo e apetece-me ir logo para cama.

Tem lidado bem com o confinamento?

Já comecei a trabalhar, portanto nem me posso queixar. Estou a gravar uma nova novela da TVI. Tenho tido muita sorte.

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