Melânia Gomes relata abuso na infância: "Salvei-me e quero salvar outros"
A atriz destacou a importância de se apoiarem as vítimas, de ouvir as crianças e de se estar atento aos sinais.
© Facebook - Melânia Gomes
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Melânia Gomes abriu o coração numa conversa franca, mesmo dura, sobre um dos episódios mais difíceis da sua vida: o abuso sexual que sofreu na infância perpetrado por uma pessoa da família quando tinha entre cinco/seis anos de idade.
Numa série de confissões a Daniel Oliveira, no programa 'Alta Definição', a atriz e apresentadora apelou a que os pais e educadores estejam atentos às crianças e aos sinais, mesmo os mais subtis, que vão dando quando são vítimas de abuso sexual.
Melânia notou que podia ter sido mais protegida pela família. "Há muito aquela ideia que o que acontece de mal às crianças elas vão esquecer e não vão. A mente até pode reprimir, mas a vida vai-te pondo coisas pelo caminho que te levam a ter de enfrentar e a fazer as pazes com isso", reflete.
Posteriormente, fala do seu caso: "Reprimi e volta e meia tinha imagens mais concretas. Da mesma forma que vinha, ia. Batia na pessoa, chorava ou ficava sem reação nenhuma. Foi preciso bastante tempo para começar a trabalhar nisto".
A artista sublinha que este tipo de casos são muitos comuns e que podem acontecer em qualquer família. Os agressores, alerta ainda, podem aparentar ser pessoas "intocáveis e credíveis".
"Estes crimes acontecem desde sempre e a criança nem sabe que aquilo não está certo", diz, entre lágrimas, referindo que os abusadores "roubam a inocência" às vítimas que, na maioria das vezes, nem têm consciência sobre o lado sexual do próprio corpo.
A convidada destaca que as pessoas que estão diariamente com as crianças devem estar atentas aos mais pequenos sinais, que muitas vezes passam despercebidos ou que são ignorados. "É importante conhecimento, formação, alerta, isto não acontece só em cenários de guerra, acontece em todo o lado", reafirma.
Por outro lado, e num claro tom de indignação, Melânia mostrou-se revoltada com um movimento que hoje se vê em que há um tratamento condescendente dos agressores. "É assustador este movimento que agora existe do 'ah, coitadinhos destes pedófilos', agora são tratados como 'pessoas atraídas por menores'. Quem precisa de apoio são as crianças, que são inocentes", destaca.
Dando pormenores sobre o seu próprio caso, Melânia relata que aconteceu durante umas férias que foi passar a casa do abusador. Este aproximava-se da atriz quando estava sozinha a brincar, a dormir ou até mesmo a tomar banho. Na altura, percebendo que algo de errado se passava, telefonou à mãe a dizer que queria ir embora. Quando chegou a casa contou o sucedido, contudo a mãe teve esperança que a atriz esquece-se, o que não veio a acontecer.
"Em mim acreditaram, mas havia uma esperança muito grande que fosse esquecer, isso não aconteceu, eu reprimi", alerta, sublinhando que fala deste tema agora porque o agressor já morreu.
"O pedófilo normalmente é manipulador, carinhoso, sabe iludir a criança de forma lúdica. 'Vamos fingir que sou médico, que isto é um tratamento e um exame'. Para a criança, até se sentir mal, é uma brincadeira. É roubar a inocência", destaca.
A atriz conta, inclusive, que durante o seu processo de cura foi rever desenhos que fez à época. Num deles tinha "um órgão sexual masculino desenhado no meio da sua saia", confissão que surpreendeu Daniel.
"No meu caso não me senti culpada, não quis que aquilo acontecesse. Mas há muitas crianças que não sabem, porque estamos a falar do corpo, porque há reações que são superiores a nós e que eles podem utilizar isso contra ti próprio. Não está certo, não é suposto. Não quero imaginar quando isto acontece anos e anos", afirma, revelando-se sensibilizada com outros casos que teve conhecimento.
Tendo isto em conta e como mãe de uma menina, Melânia tem cuidados redobrados com a mesma. "A minha filha nunca vai dormir fora, não fica na casa de ninguém, só nos avós. E tem esta formação: se ela acorda de noite, ela conta-me tudo. Ninguém anda de boleia no banco de trás com a minha filha".
Melânia lamentou ainda a impunidade que existe em Portugal relativa a estes crimes, bem como o facto de as vítimas terem um prazo para denunciar o crime.
Ainda assim, mostra-se com esperança no futuro, garantindo que o seu objetivo é chamar a atenção para o tema. "Salvei-me e agora quero salvar outras pessoas", completa.
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Se estiver a sofrer com alguma doença mental, tiver pensamentos auto-destrutivos ou simplesmente necessitar de falar com alguém, deverá consultar um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral. Poderá ainda contactar uma destas entidades:
SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 213 544 545
Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159
SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020
Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535
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