Prolactina pode não ser responsável por período refratário pós-ejaculação
A libertação da hormona prolactina durante a ejaculação poderá não ser o principal fator responsável pelo período refratário dos homens, sugere um estudo de investigadoras da Fundação Champalimaud publicado hoje e que contraria uma teoria dominante.
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Num artigo publicado na revista científica Communications Biology, a equipa das investigadoras Susana Lima e Susana Valente põe em causa a ideia de que a prolactina -- associada nas mulheres à produção de leite materno -- é a justificação para o período variável após a ejaculação em que a maior parte dos homens perde a sua capacidade sexual.
Os resultados da investigação põem também em causa supostos tratamentos que se propõem reduzir o período refratário através da redução dos níveis de prolactina.
As investigadoras reconhecem que a hormona terá um papel determinante no comportamento sexual masculino, mas defendem que "é muito improvável que a prolactina seja a causa" do período refratário.
Esta conclusão vem de encontro ao objetivo inicial da investigação, que assumidamente era "investigar mais detalhadamente os mecanismos biológicos através dos quais a prolactina estaria a provocar o período de refração", refere a bióloga e neurocientista Susana Lima.
Estudos científicos comprovam que aquela hormona é libertada, quer nos homens quer nos ratinhos usados nos laboratórios, na altura da ejaculação, o que a tornaria uma provável causa para o período refratário.
Os níveis elevados de prolactina no corpo também são indicadores de diminuição da resposta sexual, dificuldade em atingir o orgasmo ou disfunção ejaculatória.
Apesar de nunca ter sido demonstrada uma ligação direta entre a hormona e o período refratário pós-ejaculação, "esta teoria afirmou-se de tal forma que aparece em manuais escolares e na imprensa", refere Susana Lima.
A primeira autora do estudo, a bióloga Susana Valente, afirma que a equipa usou ratinhos nas suas experiências porque "a sequência do comportamento sexual é muito semelhante à do homem", registando-se também um aumento dos níveis de prolactina durante a atividade sexual nos animais de laboratório.
Os níveis de prolactina nos ratos foram aumentados artificialmente antes da atividade sexual e os investigadores esperavam que houvesse uma inibição no comportamento dos ratinhos machos, mas isso não aconteceu.
Da mesma forma, inibir a libertação da prolactina não resultou numa recuperação mais rápida da capacidade sexual pós-ejaculatória dos animais.
Susana Lima salienta que há estudos que apontam "para um papel da prolactina no desenvolvimento do comportamento parental" dos homens.
Além disso, os níveis de prolactina aumentam durante todo o processo de acasalamento nos ratos, enquanto nos homens a hormona só é libertada na altura da ejaculação.
"Podem existir algumas diferenças no papel que desempenha nas diferentes espécies", admite, defendendo que os resultados da investigação colocam os cientistas "em melhor posição para avançar nesta linha de investigação e descobrir o que realmente está na base deste processo fisiológico".
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