Nova epidemia: "Obesidade é uma doença crónica, inflamatória e biológica"
A propósito do Dia Mundial da Obesidade que se assinala hoje, dia 4 de março, estivemos à conversa com o Dr. Carlos Oliveira, presidente da ADEXO – Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal.
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Lifestyle Entrevista
A obesidade é uma das doenças que mais preocupa a medicina e que mais pode condicionar a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo. Estima-se que, somente em Portugal, o excesso de peso e obesidade afetem aproximadamente 68% da população.
Trata-se de uma condição médica decorrente de múltiplos fatores, sendo normalmente associada ao estilo de vida – má alimentação e sedentarismo. Contudo, e conforme explica Carlos Oliveira, a obesidade é de facto uma doença estimulada por múltiplos fatores e daí a sua complexidade.
"A obesidade é uma doença crónica, inflamatória, biológica, multifatorial e recidivante. Como exemplo biológico, a maioria das pessoas com obesidade são resistentes à Leptina e só conseguem queimar gordura em situações extremas", diz o presidente da ADEXO.
A obesidade carateriza-se pela acumulação anormal ou excessiva de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde, sendo o cálculo do índice de massa corporal (IMC) o que mais facilmente pode detetar este problema.
Adicionalmente, mais de 200 doenças podem ser associadas à obesidade, colocando-a no topo das patologias mais fatais. Diabetes, problemas cardiovasculares, depressão, problemas articulares, doenças ósseas, cancro e Alzheimer são algumas das consequências mais diretas e penosas do excesso de peso, que afeta adultos e crianças de forma alarmante.
De modo a tentar entender todas as subtilezas e características desta epidemia global, o Dr. Carlos Oliveira explica nesta entrevista aquilo que tem mesmo de saber sobre a obesidade.
Obesidade afeta cerca de 71% dos homens e 65% das mulheres entre 25 e 75 anos
O que é a obesidade?
A obesidade é uma doença crónica, inflamatória, biológica, multifactorial e recidivante. Como exemplo biológico, a maioria das pessoas com obesidade são resistentes à Leptina e só conseguem queimar gordura em situações extremas. Ninguém consegue viver uma vida inteira em situações extremas.
Existe mais de um tipo?
Sim, como disse atrás existem múltiplas causas para a obesidade.
Quais são as principais causas da condição?
A resistência à Leptina, mutações genéticas, inflamações e causas químicas.
Como é calculada a obesidade?
Atualmente por um processo simples, mas não muito fiável: o cálculo do IMC Índice de massa corporal. Pode ainda ser complementado por medição do perímetro abdominal e por um método eficaz de leitura de massas por bioimpedância.
Que medidas preventivas podemos tomar?
Quando a doença está instalada, o que pode acontecer em qualquer altura das nossas vidas, a principal consequência é que pessoa vive permanentemente com fome e com disponibilidade para comer uma vez que o cérebro não tem conhecimento da quantidade de energia que está armazenada no corpo devido à resistência à Leptina que já mencionei. Assim, a procura de ajuda em equipas multidisciplinares especializadas no tratamento da obesidade é fundamental.
Quais são os números da obesidade em Portugal e no mundo?
Em Portugal, o excesso de peso e obesidade atingem cerca de 68% da população.
Está por trás de outras doenças?
A obesidade está por trás de cerca de 200 outras doenças.
Afeta ambos os sexos na mesma proporção?
Não, em adultos afeta cerca de 71% dos homens e 65% das mulheres entre 25 e 75 anos.
Como é que se trata a obesidade?
A obesidade é uma doença crónica logo não tem tratamento. Tem sim formas de controlo relacionadas com a alimentação, exercício físico, medicamentos e cirurgias.
Considera importante alertar as crianças para esta doença e promover uma maior educação alimentar?
Sim claro, desde muito novas que as crianças devem criar hábitos alimentares saudáveis, criados na infância eles ajudam no resto das suas vidas a não chegar à doença ou a controlá-la melhor.
Quais são os custos da condição para o sistema de saúde?
Um estudo recente do custo e carga da obesidade relativo ao ano de 2018 revela que os custos do tratamento da obesidade representaram apenas 13,3 milhões de euros e que os custos de saúde, associados ao excesso de peso e obesidade foram estimados em cerca de 1,15 mil milhões de euros, cerca de 0,6% do PIB e 5,8% das despesas de saúde em Portugal.
Como é que acha que o quadro da obesidade vai evoluir nas próximas décadas?
Se nada se fizer para parar a evolução desta pandemia, o número de pessoas com obesidade vai ser a maioria da população dos países industrializados nas próximas duas décadas .
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