O impacto que o conflito na Ucrânia está a ter no sono das crianças
A Dra. Nádia Pereira, pediatra no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade - Consulta do Sono Pediátrica - explica no artigo de opinião que se segue de que forma o conflito na Ucrânia está a impactar no sono das crianças. Saiba mais.
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Muitos têm sido os pais que relatam que, neste período em que vivemos o conflito na Ucrânia, os filhos passaram a dormir pior.
Inevitavelmente as imagens da guerra, dos bombardeamentos, de crianças a chorar ao colo dos pais, que nos chegam diariamente e às quais dificilmente ficamos indiferentes, têm um impacto no nosso bem-estar emocional, que se poderá traduzir em perturbação de sono.
Isto também será verdade para as crianças, que dependendo do seu grau de desenvolvimento e capacidade cognitiva, podem manifestar este stress emocional na hora de dormir.
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No período que atravessamos, têm sido frequentes as queixas de insónia inicial, e de manutenção nas crianças. Ou seja, os pais referem que as crianças demoram mais tempo a adormecer, solicitam mais atenção na hora de ir dormir, e frequentemente observa-se uma regressão na autonomia, necessitando do conforto dos cuidadores até adormecer. Esta regressão na autonomia pode condicionar o aumento dos despertares noturnos em que é necessário a presença dos cuidadores para readormecer.
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Outra das perturbações de sono que também tem sido referida é o aumento da frequência dos pesadelos, que sendo uma parassonia, pode tornar-se mais significativa em períodos de maior ansiedade.
O que podem os pais fazer para reduzir o impacto do stress emocional no sono das crianças?
- Medidas comuns de higiene do sono. Ter uma rotina prévia ao deitar que se repita diariamente, e que não inclua atividades muito estimulantes ou exposição a pequenos ecrans. Esta rotina deve incluir, idealmente, momentos de interação com o adulto cuidador, como por exemplo cantar uma canção ou ler uma história. Reforçar a autonomia da criança no momento do adormecer, sendo que no final da rotina há um carinho e uma mensagem de tranquilidade, devendo depois adormecer no seu quarto sem a presença do adulto.
- Não ignorar o problema. Não se pode esconder que a guerra está acontecer. Mas podemos reduzir um pouco a exposição às imagens mais chocantes, e estar disponíveis para falar sobre este assunto sempre que as crianças o solicitarem.
- Mostrar segurança. A nossa família tem de ser o nosso porto seguro. Como tal, devemos tanto quanto possível passar uma mensagem de segurança, proteção e esperança na resolução breve deste conflito.
- Mostrar empatia e compreensão, mas manter as rotinas e as regras. Sabemos que é um período difícil, e estamos presentes para apoiar e conversar. Mas se a criança sempre adormeceu sozinha na própria cama, deve manter este hábito.
Na maioria dos casos estas alterações do sono são transitórias e sem consequências significativas para a criança e família. Se persistentes, ou com expressão intensa, traduzindo-se em ansiedade importante e sintomas de privação de sono, deve procurar-se ajuda com o pediatra assistente ou em consulta de sono pediátrica.
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