No período da Idade Média, não existiam os conceitos de heterossexualidade e de homossexualidade que existem hoje, criados apenas durante a era Vitoriana, na Inglaterra do século XIX, como explica a historiadora Paula Vermeersch, professora catedrática da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

“Antigamente, as pessoas não viam a própria sexualidade confinada a apenas uma opção”, explica a investigadora. 

Os Reis

Vários monarcas nessa época mantinham aventuras com parceiros do mesmo sexo. Há relatos que o rei inglês Ricardo I, conhecido como 'Coração de Leão' (1157 - 1199), antes de assumir o trono, mantinha um relacionamento com o rei francês Felipe II.

Já na Península Ibérica, dominada pelos mouros a partir de 711 até 1492, havia uma grande tolerância relativamente à homossexualidade.

Historiadores apontam que os reis que dominaram a região, como Abderramão III, Aláqueme II, Hisham II e al-Mutamid, mantinham inclusivé haréns masculinos.

Para o historiador espanhol Miguel Cabañas Agrela, a realeza vivia a sua sexualidade livremente, sem preconceitos ou receio de punição. “Nenhum tribunal ousaria comprometer um rei por questões referentes à sua vida privada. Não faltavam rumores, mas as acusações eram feitas na esfera privada”, conta no seu livro 'Reyes Sodomitas'. 

A Igreja

Mesmo dentro da Santa Sé, registavam-se relatos sobre a prática, inclusive, com a participação do Santo Padre, o Papa João XII (955 d.C. a 964 d.C.), que chegou a ser afastado devido à sua alegada participação em  orgias bissexuais, por exemplo.

Outros papas, como Bento XIX (três papados, entre 1032 e 1048) e Paulo II (pontífice entre 1464 e 1471 d.C.) também são conhecidos pelos polémicos relacionamentos que mantiveram com outros homens.

Porém, a própria Igreja começou a perseguir os homossexuais a partir do Terceiro Concílio de Latrão, em 1179.

Idade x Condenação

A partir do século XIII, em muitos reinos da Europa, existiam três formas de punição para quem se relacionava com parceiros do mesmo sexo.

Os acusados com menos de 15 anos eram detidos durante três meses. Acima dos 15, eram presos e pagavam uma multa. Se não pagassem, eram espancados, os seus genitais amarrados e, depois eram obrigados a desfilar nus pela aldeia ou cidade, e no final eram expulsos daquela povoação. 

Quando maiores de 33 anos, os indivíduos eram julgados sem direito a se defenderem e, caso fossem condenados, os seus bens eram confiscados e queimados. 

A Peste Negra

Uma das mais devastadoras pandemias na história humana, que resultou na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Europa e na Ásia, a peste negra foi usada para perseguir aqueles que por algum motivo eram apelidados de 'pecadores'.

O pecado humano passou a ser apontado como a causa da doença e de outras catástrofes, como fomes e guerras. O que levou à perseguição de minorias como os judeus, os pagãos e os homossexuais.

Em Florença, na Itália, por exemplo, em 1432 surgiram os 'agentes noturnos', cuja tarefa era supervisionar os cerca de 40 mil habitantes da cidade e recolher provas que incriminassem as minorias. Ao todo foram presas 17 mil pessoas, das quais três mil foram condenadas por sodomia.