Inquérito ao atentado à jornalista Caruana Galizia responsabiliza Estado
Um inquérito independente sobre a morte da jornalista Daphne Caruana Galizia hoje divulgado concluiu que o Estado de Malta "deve assumir a responsabilidade" pelo assassínio devido à cultura de impunidade promovida pelas mais altas esferas do Governo.
© MATTHEW MIRABELLI/AFP via Getty Images
Mundo Malta
A família de Caruana Galizia moveu um inquérito sobre o atentado à bomba em 16 de outubro de 2017 que destruiu o carro que conduzia em Malta, perto de sua casa, e que vitimou a jornalista.
O assassínio neste país da União Europeia (UE) suscitou uma profunda indignação na pequena ilha mediterrânica e pela Europa.
O inquérito concluiu não existirem provas de um envolvimento direto do Estado no assassínio, mas refere que o Estado "tem de assumir a responsabilidade (...) por fomentar uma atmosfera de impunidade, proveniente das mais altas esferas no centro da administração do [gabinete do primeiro-ministro], como um polvo, que se estende a outras entidades, como as autoridades reguladoras e a polícia, motivando o colapso do Estado de direito".
O relatório diz que o Estado e as suas entidades falharam em não reconhecer o risco de vida de Caruana Galizia devido às ameaças que recebia, e também fracassou em não adotar medidas para evitar esse risco.
Yorgen Fenech, um importante empresário com ligações a diversos responsáveis governamentais, é indicado pelos procuradores como sendo o mentor do crime.
Declarou-se não culpado das acusações de alegada cumplicidade na morte e de organizar e financiar o atentado.
Três homens foram acusados de terem perpetrado o ataque, dois ao fornecerem os explosivos e um terceiro por ter servido de intermediário e estão a ser julgados. Um dos acusados já admitiu o seu envolvimento no ataque.
O antigo primeiro-ministro de Malta, o social-democrata Joseph Muscat, demitiu-se no final de 2019 na sequência de amplos protestos que exigiam a verdade sobre o assassínio da jornalista de investigação, e cujas reportagens questionavam o Governo de Muscat mas também a oposição,
O relatório também emite uma série de recomendações para um reforço das leis e uma melhor proteção aos jornalistas em Malta.
O primeiro-ministro Robert Abela apelou a uma "análise matura" do relatório "para além dos argumentos partidários".
"As lições devem ser apreendidas e as reformas devem prosseguir com grande determinação", disse Abela através de uma declaração num 'media' social.
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