Polisário reunida em congresso para "mobilizar energias" contra Marrocos
A Frente Polisário reúne-se a partir de sexta-feira em congresso para eleger uma nova direção e mobilizar energias para a luta pelo referendo de autodeterminação no Saara Ocidental, anexado por Marrocos em 1975, disse à agência Lusa fonte oficial.
© Lito Lizana/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Mundo Saara Ocidental
Omar Mih, representante em Portugal da Frente Polisário, movimento de libertação que exige o referendo e o reconhecimento, como Estado da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), salientou que o 16.º congresso, que se prolonga até terça-feira, é o primeiro desde a violação, por parte de Marrocos, do acordo de cessar-fogo, em 2020, e que, como tal, os esforços terão de se concentrar na frente diplomática.
"É o primeiro congresso que se realiza após a violação do cessar-fogo pelo exército marroquino e do início da guerra e tem como principal tarefa a mobilização de todas as energias do povo em todas as frentes político-diplomáticas e na guerra pela realização do referendo de autodeterminação, bem como na coordenação das aspirações do povo", explicou Mih à Lusa.
À partida, segundo Mih, o atual secretário-geral da Polisário, Brahim Ghali, deverá ser reeleito para um terceiro mandato de três anos, pois tudo indica que a Argélia, tradicional aliado da causa sarauí, irá manter o apoio à atual direção, que tem, contudo, sido contestada internamente.
Em causa estão os sucessivos reveses diplomáticos, que colocaram o próprio Ghali numa posição de fragilidade interna, pois, dizem os críticos, a imobilidade em que o movimento está preso tem causado a fuga de executivos que denunciam a falta de transparência e pluralismo dentro da organização, que acusa a ONU de "falta de vontade política para resolver o conflito".
Ghali colocou personalidades da confiança pessoal a supervisionar a organização do congresso, com o intuito de garantir o controlo do conclave, envolvendo nomes como o do diplomata Mohamed Salem Ould Salek, que exerce as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros da Polisário, Mohamed Yeslem Beissat, o mais alto representante da organização na África do Sul, Jira Bulahi Abad , ministro da Saúde, e o ex-ministro do grupo representante junto à União Europeia (UE), Mohamed Sedati.
Segundo a publicação 'online' franco-espanhola Atalayar, o segundo mandato de Ghali, 74 anos, à frente da Polisário foi marcado pelo início das hostilidades com o exército marroquino após quase três décadas de cessar-fogo, etapa encarada como uma "guerra de baixa intensidade", que se desenrola desde novembro de 2020.
Mas esta situação não é o único elemento de atrito na organização sarauí.
O reconhecimento unilateral da soberania marroquina sobre o Saara Ocidental, formalizado pelo ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2020, e o apoio dos Países Baixos, Alemanha e Espanha à proposta marroquina de autonomia têm posto em causa o argumento da Polisário, que recorre à resolução da ONU, aprovada em 1991, para a realização de um referendo de autodeterminação.
No entanto, nada esconde o descontentamento dentro da Polisário e o surgimento de correntes internas e externas de renovação, lê-se na publicação franco-espanhola, que acrescenta que, a todos estes fatores, junta-se o surgimento do Movimento Sarauí pela Paz (MSP), plataforma dissidente liderada pelo ex-membro da Polisário, Hach Ahmed Bericalla, que denuncia a deriva da organização e a recente demissão do representante do movimento em Bruxelas, Oubi Bouchraya Bachir, devido a desentendimentos com o próprio Ghali.
A ação externa do movimento de libertação tem dependido exclusivamente de Ghali, que corroeu a transparência do grupo na tomada de decisões, segundo os mesmos críticos.
As mesmas vozes têm apontado que Ghali continua a agir sob as ordens da Argélia, aliado histórico da causa sarauí que procura uma saída para o oceano Atlântico, desestabilizando paralelamente o vizinho norte-africano, com quem está em desacordo hegemonia regionais.
O controlo da Polisário foi particularmente fortalecido desde a chegada do experiente diplomata argelino Ramtane Lamamra ao Governo do Presidente Abdelmadjid Tebboune, uma vez que o ministro dos Negócios Estrangeiros quer desempenhar um papel decisivo na sucessão da liderança da Polisário, sucessão que passa pela manutenção de Ghali.
À agência Lusa, Omar Mih desdramatizou a contestação interna e também os apoios internacionais que Marrocos tem conseguido obter, a que se junta sobretudo Israel, com quem assinou vários acordos de cooperação em diferentes áreas, com destaque para a da Defesa, enquanto a Argélia se apoia na Rússia.
"Nos anos 1970, os Estados Unidos, Países Baixos, Alemanha e Espanha apoiaram militar, política e diplomaticamente Marrocos muito mais do que hoje em dia. Marrocos tem muito menos apoios desses países", sublinhou Mih, sem adiantar pormenores.
O 16.º Congresso da Frente Polisário decorrerá até terça-feira nos acampamentos de refugiados sarauís em Dakhla (centro-oeste da costa atlântica), na prefeitura de Wilaia, e contará, segundo Mih, "com mais de 2.400 delegados dos territórios ocupados, da diáspora sarauí, dos territórios libertados, bem como de muitas delegações estrangeiras da África, Europa, América Latina e Ásia".
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