Espanha e Marrocos põem fim a crise bilateral com 1.ª cimeira em 8 anos
Espanha e Marrocos iniciam hoje em Rabat a primeira cimeira desde 2015, com a qual querem selar uma nova fase nas relações bilaterais, que atravessaram uma crise por causa do Saara Ocidental.
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Mundo Rabat
A crise mais recente entre Espanha e Marrocos estalou em abril de 2021, por causa de o líder do movimento independentista sarauí Frente Polisário, Brahim Ghali, doente com covid-19, ter sido tratado num hospital espanhol.
A Frente Polisário defende a autodeterminação do povo sarauí e a independência do Saara Ocidental, uma antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há quase 48 anos, no contexto de um processo de descolonização.
O diferendo estendeu-se até março de 2022 e terminou por iniciativa de Espanha, depois de Marrocos tem feito sentir ao vizinho espanhol como o controlo da imigração ilegal nas fronteiras partilhadas ou as trocas comerciais dependiam de boas relações diplomáticas.
Nesse período de crise, as trocas comerciais caíram, Marrocos fechou fábricas espanholas que estavam no país e permitiu a passagem, em maio de 2021, de milhares de pessoas, a maioria, menores não acompanhados, pelas fronteiras de Ceuta e Melilla, duas cidades espanholas no norte de África, rodeadas de território marroquino e as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com o continente africano.
Para resolver o diferendo, Espanha usou precisamente, como moeda de troca, o Saara Ocidental.
Em março de 2021, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, enviou uma carta ao Rei marroquino, Mohamed VI, na qual afirmava que a proposta apresentada por Rabat em 2007, para que o Saara Ocidental seja uma região autónoma controlada por Marrocos, é "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio".
Espanha defendia até então que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
Sánchez visitou Rabat em abril e os dois países fizeram uma declaração conjunta que normalizou o tráfego fronteiriço e as relações bilaterais.
Nessa declaração, Marrocos reconheceu implicitamente ter fronteiras terrestres com Espanha, ao acordar a instalação de alfândegas em Ceuta e Melilla, territórios que tradicionalmente reclama, considerando-as "cidades ocupadas".
Em 2022, as trocas comerciais entre os dois países aumentaram 33% em relação a 2021, alcançando os 10 mil milhões de euros, e os fluxos migratórios ilegais que chegaram a Espanha desde Marrocos diminuíram 25%.
A cooperação neste âmbito e o novo estado das relações bilaterais ficaram bem patentes em 24 de junho do ano passado, quando milhares de pessoas tentaram saltar a vedação da fronteira de Melilla e pelo menos 23 migrantes morreram.
Organizações não-governamentais (ONG) têm denunciado a repressão violenta dos migrantes naquele dia, com acusações de tortura às polícias dos dois países, mas os dois Governos saudaram a cooperação bilateral e defenderam a atuação policial.
Para a cimeira que hoje arranca em Rabat, e que se vai prolongar até quinta-feira, o socialista Pedro Sánchez levará consigo 12 ministros, nenhum deles do parceiro de coligação no Governo espanhol, a Unidas Podemos, que discorda da mudança de posição em relação ao Saara Ocidental.
A cimeira, que os dois países designam como Reunião de Alto Nível, vai também realizar-se num momento de tensão de Marrocos com a UE, por causa do alegado envolvimento de Rabat no escândalo de corrupção "Qatargate", relacionado com alegados subornos de elementos do Parlamento Europeu.
O Parlamento Europeu aprovou recentemente uma resolução em que pede a Marrocos para respeitar a liberdade de expressão, contra a qual votaram os eurodeputados do Partido Socialista espanhol, liderado por Sánchez.
A cimeira arranca hoje à tarde com um fórum empresarial em que estarão presentes Sánchez e o seu homólogo marroquino, Aziz Ajanuch, e termina na quinta-feira com a assinatura de 20 acordos de cooperação.
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