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2023 foi de solidariedade sem precedentes, apesar de violação de direitos

A secretária-geral da organização Amnistia Internacional, Agnès Callamard, elogiou hoje a "solidariedade sem precedentes" demonstrada em todo o mundo em 2023, apesar de ter sido um ano em que os direitos humanos sofreram regressões significativas.

2023 foi de solidariedade sem precedentes, apesar de violação de direitos
Notícias ao Minuto

08:20 - 24/04/24 por Lusa

Mundo Amnistia Internacional

"As regressões dos direitos humanos em 2023 não passaram despercebidas. Pelo contrário. Pessoas em todo o mundo resistiram à regressão, demonstrando uma solidariedade global sem precedentes", sublinhou a responsável da organização internacional de defesa dos direitos humanos.

O relatório anual da organização não-governamental (ONG) sobre o Estado dos Direitos Humanos no Mundo, hoje publicado, sublinha a mobilização "sem precedentes" de governos e pessoas pela defesa dos direitos humanos.

"Quando muitos governos não cumpriram o direito internacional, vimos outros a apelarem às instituições internacionais para implementarem o Estado de Direito. E onde os líderes de todo o mundo não conseguiram defender os direitos humanos, vimos pessoas galvanizadas a marchar, protestar e pedir um futuro mais esperançoso", afirmou Agnès Callamard, mencionando alguns exemplos verificados à escala mundial durante o ano passado.

"O conflito Israel-Hamas provocou centenas de protestos em todo o mundo" com "as pessoas a exigiram um cessar-fogo para acabar com o sofrimento dos palestinianos em Gaza, bem como a libertação de todos os reféns feitos pelo Hamas e outros grupos armados, muito antes de muitos governos o fazerem", referiu a Amnistia Internacional no relatório.

"O secretário-geral da ONU, os chefes das agências da ONU e as organizações humanitárias tomaram medidas sem precedentes para denunciar os crimes de guerra cometidos no sul de Israel e em Gaza e para apelar a Israel para que respeite o direito internacional", enalteceu a secretária-geral da organização, citada no documento.

A mobilização foi observada também em muitos outros locais, como nas ruas dos Estados Unidos, de El Salvador e da Polónia "para exigir o direito ao aborto, à medida que a reação contra a justiça de género se consolidava".

Por outro lado, relatou ainda a Amnistia Internacional, "milhares de pessoas aderiram ao movimento 'Fridays For Future', liderado por jovens, para apelar à eliminação justa e rápida dos combustíveis fósseis" e, em Taiwan, o movimento #MeToo conseguiu levar o Governo a aprovar uma alteração à Lei de Prevenção do Crime de Agressão Sexual.

No Afeganistão, o ativista Matiullah Wesa foi libertado em outubro, após meses de campanhas e de ter passado quase sete meses na prisão por promover o direito das meninas à educação, e na Turquia, quatro defensores dos direitos humanos acusados de terrorismo foram absolvidos depois de muitas manifestações.

"O direito de protestar é fundamental para esclarecer os abusos e as responsabilidades dos líderes. As pessoas deixaram bem claro que querem direitos humanos", sublinhou Agnès Callamard.

"Dada a sombria situação global, são necessárias medidas urgentes para revitalizar e renovar as instituições internacionais destinadas a salvaguardar a humanidade", defendeu a responsável da Amnistia Internacional, apontando a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU, para que os membros permanentes não possam exercer o seu poder de veto sem controlo.

No ano passado, "muitas pessoas resistiram e perturbaram as forças que empurravam o mundo para trás", disse a representante, considerando que esses protestos "também moldaram o ano 2023, contra todas as probabilidades".

"Espero que em 2048 -- ou mesmo em 3048 --, quando diplomatas e ativistas olharem para o ano passado [2023], descubram que houve muitas, muitas pessoas boas em todo o mundo que fizeram tudo o que podiam, levantando-se e falando", concluiu Agnès Callamard.

Leia Também: AI acusa governo da Venezuela de violar direitos humanos da população

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