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Costa quer avanço das reformas na UE apesar de atualidade "complexa"

O presidente eleito do Conselho Europeu, António Costa, disse hoje que a realidade atual "é mais complexa do que a simplicidade de governar bem ou mal", defendendo que as prioridades europeias têm de ser postas em prática.

Costa quer avanço das reformas na UE apesar de atualidade "complexa"
Notícias ao Minuto

20:03 - 03/10/24 por Lusa

Mundo António Costa

"Do ponto de vista europeu, o caminho a seguir é claro: temos de avançar com a competitividade, a segurança, o alargamento e as reformas internas [da União Europeia] para que tudo possa ser um sucesso", afirmou o ex-primeiro-ministro português, que assume o cargo europeu em 01 de dezembro, no Fórum La Toja, que começou hoje na Galiza, Espanha.

 

Para Costa, o processo "vai ser muito difícil", mas, frisou, "temos que fazê-lo".

"É muito fácil apontar o dedo ao governo que está em funções. O problema é que a realidade que temos hoje é mais complexa do que a simplicidade de governar bem ou mal. Como políticos temos de ter uma grande humildade. E temos de ganhar algum tempo para não cometer erros de avaliação", observou durante um debate no Fórum La Toja.

Costa concluía desta forma a resposta à pergunta da moderadora do debate sobre o surgimento de movimentos políticos radicais em países europeus, durante a qual recordou a geringonça criada em 2015 em Portugal com a aliança do PS ao BE e PCP para conseguir uma maioria no parlamento.

Notando que toda a Europa vive "uma enorme fragmentação política" e um "momento complexo", Costa revelou o diagnóstico que fez relativamente à sociedade atual.

"Temos de entender esta complexidade e teremos de esperar alguns anos para a compreender. O problema é que temos de governar agora. Na minha perspetiva, uma das questões é que, nos países mais desenvolvidos, a globalização aumentou as desigualdades. A globalização tirou da pobreza muita gente em todo o mundo, mas nos países mais desenvolvidos não foi assim, e isso criou mal-estar", indicou.

Por outro lado, prosseguiu, "pela primeira vez, as novas gerações não têm a perspetiva de viverem melhor do que os seus pais".

"Isso é um problema para a sociedade. Os jovens cresceram em casas onde havia dinheiro para responder às necessidades, e agora vivem em casa dos seus pais sem conseguir alugar uma casa", lamentou.

Costa apontou ainda a necessidade de prestar atenção à saúde mental da sociedade como um todo, defendendo que ainda não se falou "devidamente sobre o impacto da covid-19".

"Não é possível termos passado pelo que passamos sem que haja um impacto. Foi muito doloroso e não tivemos a oportunidade de fazer a catarse. Na Segunda Guerra Mundial, houve um dia em que se celebrou o fim da guerra. Ninguém celebrou o fim da covid. Esse momento de catarse não existiu. Isso deixou marcas", sustentou.

E frisou ainda: "Ninguém pensou na possibilidade de, no século XXI, estarmos tão vulneráveis, que a vida era algo tão frágil".

O presidente eleito do Conselho Europeu também falou sobre a polarização da sociedade e do meio político, conceito abordado muitas vezes e confundido regularmente, na sua opinião, com o bipartidarismo.

"O bipartidarismo é um fator de moderação e não de radicalização. Quando tens dois partidos que disputam a maioria, eles têm de disputar o centro. Isso é um fator de moderação", explicou.

O ex-primeiro-ministro português e ex-líder socialista recordou que, em 2015, muitos não compreenderam a aliança feita com a esquerda.

"Quebrei um tabu, porque antes não havia diálogo entre a esquerda. Mas tínhamos de ter um governo maioritário no parlamento", afirmou.

Costa argumentou que deu tal passo por entender que "uma das mais-valias da democracia portuguesa é que a cidadania tem sempre duas alternativas, lideradas por partidos democráticos para liderar o governo".

"Quando estão cansados de um, pode escolher outro. Mas sempre no campo democrático", frisou.

António Costa participou no debate subordinado ao tema "Competitividade e Governança", que também contou com a presença dos antigos líderes do Governo espanhol Felipe González (1982-1996) e Mariano Rajoy (2011-2018).

O Fórum La Toja nasceu há seis anos, na Galiza (Espanha), como um espaço para a reflexão e defesa dos valores que definem as sociedades democráticas.

Leia Também: Alargamento da UE deve ser preparado "desde já", afirma Costa

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