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Sudão. Líder do exército nega interferência externa e agradece veto russo

O líder sudanês, Abdel Fattah al-Burhane, rejeitou hoje "qualquer interferência estrangeira" na guerra do país, um dia após a Rússia ter vetado uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que apelava a um cessar-fogo.

Sudão. Líder do exército nega interferência externa e agradece veto russo
Notícias ao Minuto

16:25 - 19/11/24 por Lusa

Mundo Sudão

O general declarou, numa conferência económica em Porto Sudão (leste), que não aceita soluções impostas e agradeceu a posição de apoio da Rússia, que vetou um projeto preparado em conjunto pelo Reino Unido e a Serra Leoa no qual se apelava à cessação imediata das hostilidades e à proteção dos civis.

 

"Esta decisão inapropriada [proposta apresentada no Conselho de Segurança], que atenta contra a soberania do Sudão, não responde às nossas exigências", disse.

Numerosos esforços de mediação, incluindo dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e da União Africana, falharam em conseguir um cessar-fogo.

Nas últimas semanas, o país assistiu a um novo surto de violência, com ambas as partes aparentemente "convencidas de que podem vencer no campo de batalha", lamentou há alguns dias a subsecretária-geral da ONU para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo.

Al-Burhane reiterou que o exército não vai negociar nenhum cessar-fogo sem a retirada total do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

"O fim desta guerra depende da eliminação completa dos rebeldes", afirmou, acrescentando que só então a vida civil poderá ser retomada, a ajuda poderá chegar a todos os sudaneses e as questões políticas poderão ser abordadas.

Em outubro, peritos das Nações Unidas acusaram ambas as partes de utilizarem "táticas para matar à fome" 25 milhões de civis no Sudão, enquanto três grandes organizações humanitárias alertaram para uma crise de fome de proporções "históricas", com muitas famílias obrigadas a comer folhas de árvores e insetos.

Durante os combates as infraestruturas essenciais são também destruídas, nomeadamente hospitais, e os sistemáticos bloqueios impedem também a chegada de material médico urgentemente necessário.

Um dos últimos hospitais que restam no sul de Cartum é o hospital universitário de Bashir, que presta cuidados de emergência e cirúrgicos, bem como serviços de saúde materna. 

Cerca 16% dos feridos de guerra tratados este ano neste hospital tinham menos de 15 anos, anunciaram hoje os Médicos Sem Fronteiras (MSF).

"Isto representa um em cada seis pacientes, sendo que muitos dos quais sofrem de ferimentos de bala, explosões e estilhaços", lamentaram os MSF.

Desde o início do ano, as equipas dos MSF que trabalham neste hospital "trataram mais de 4.214 pacientes por lesões traumáticas causadas pela violência, incluindo tiros e explosões de bombas".

"O hospital não dispõe de capacidades cirúrgicas avançadas, em parte devido a um bloqueio sistemático do envio de equipamento cirúrgico desde outubro de 2023. É também muito difícil enviar pacientes para fora da zona, uma vez que as estradas ou estão destruídas ou são demasiado perigosas", lamentou.

No meio desta conjuntura onde os cuidados médicos têm cada vez menos capacidade de atuação, a subnutrição tem aumentado em crianças e mulheres grávidas que chegam ao hospital. 

Das 4.186 mulheres e crianças submetidas a rastreio de desnutrição entre 19 de outubro e 08 de novembro, mais de 1.500 sofriam de desnutrição aguda grave e 400 de desnutrição moderada, disseram.

"Estes números sobre a violência e a subnutrição ilustram o pesadelo vivido pela população, incluindo as crianças, em Cartum", disse a coordenadora de emergência dos MSF, Claire San Filippo.

O Sudão é devastado desde abril de 2023 por uma guerra que opõe o exército regular do general Abdel Fattah al-Burhane, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 2021, às RSF, do seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdane Daglo.

O conflito já custou dezenas de milhares de vidas e deslocou mais de 11 milhões de pessoas, incluindo 3,1 milhões fora do país, de acordo com a ONU.

Leia Também: Quase 60% do Sudão do Sul ameaçado pela insegurança alimentar

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