Moscovitas dizem confiar na vitória russa mas muitos preferem não falar
Moscovitas pró-Kremlin disseram hoje estar confiantes na vitória do seu país, um dia depois da utilização de um míssil de última geração na Ucrânia, mas a maioria escusou-se a pronunciar-se perante um meio de comunicação ocidental.
© ANATOLII STEPANOV/AFP via Getty Images
Mundo Ucrânia
No dia a seguir a um discurso do Presidente russo, no qual Vladimir Putin ameaçou o Ocidente, algumas pessoas questionadas em Moscovo pela agência de notícias francesa AFP garantiram acreditar que a Rússia "não cederá" ao Ocidente.
Nas ruas da capital russa, poucas pessoas quiseram comentar os acontecimentos, num contexto de repressão impiedosa de qualquer voz crítica ao Kremlin (presidência russa) e à sua ofensiva na Ucrânia.
Aqueles que aceitaram falar mostraram-se favoráveis à determinação demonstrada pelo Kremlin.
"A Rússia superará tudo (...), ninguém será capaz de a derrotar", afirmou o cidadão Alexei Pechtcherkin à AFP, admitindo achar que Vladimir Putin "faz tudo muito bem".
"Isto não deixa qualquer hipótese para aqueles que querem minar (a segurança da) Rússia", garantiu o canalizador, de 57 anos.
O Presidente russo, que lançou o seu exército para atacar a Ucrânia em fevereiro de 2022, estimou, na noite de quinta-feira, que este conflito tem agora todos os ingredientes de uma guerra "mundial" e alertou que os ataques contra os ocidentais não estão excluídos.
Estas ameaças, que incluíram uma alusão às armas nucleares, surgiram no final de um dia de tensões extremas, tendo a Rússia utilizado um novo míssil balístico de alcance intermédio em território ucraniano (ou seja, a uma distância de até 5.500 km), concebido para transportar uma ogiva atómica.
Um disparo apresentado por Putin como resposta aos ataques levados a cabo pela Ucrânia com mísseis ocidentais com um alcance de cerca de 300 km.
O discurso do Presidente à nação, transmitido na quinta-feira à noite pela televisão pública russa, "deu-me uma sensação de segurança", referiu Alexander Timofeyev, um funcionário ferroviário, de 72 anos.
Apesar de "não descartar" a possibilidade de acontecer uma III Guerra Mundial, considera-a "improvável".
"Não são estúpidos, aqueles (no Ocidente) que procuram intimidar-nos", disse. "Mas têm medo. E o medo às vezes é bom", referiu Timofeyev.
A passear numa praça de Moscovo, Yulia Kim, uma médica de 52 anos, observou que "a escalada de tensão está a aumentar" entre Moscovo e o Ocidente e confidenciou que teme "o início de uma guerra nuclear".
"Mas devemos lutar pela nossa independência e resistir até ao fim", sublinhou.
Também Andreï, um economista de 61 anos que não avançou o seu apelido, disse-se convencido de que "a Rússia tem meios suficientes para defender a sua independência" e assegurou que "a Rússia vai ultrapassar tudo, juntamente com o Presidente".
Alguns moscovitas dizem também estar determinados a aceitar as dificuldades causadas pelos problemas económicos da Rússia, alimentados pelas sanções ocidentais, pela inflação elevada que está a empobrecer os russos e pela queda do valor do rublo.
"A inflação é difícil, mas o que fazer?", admitiu Pechtcherkin, sublinhando que estas dificuldades "são temporárias".
Durante a II Guerra Mundial, "não tínhamos nada para comer (...) e as pessoas continuaram a viver, e compreenderam tudo", recordou.
"É claro que não é nada bom quando há uma guerra, quando as pessoas estão a morrer", observou, reconhecendo desejar que se "sentassem todos à mesa das negociações e conversassem uns com os outros".
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