'Jihadistas' e aliados entram em Alepo, a segunda maior cidade do país
Os 'jihadistas' e seus aliados entraram hoje em Alepo, a segunda cidade da Síria, que foi bombardeada pela primeira vez em quatro anos, após dois dias de uma ofensiva relâmpago contra o regime de Bashar al-Assad.
© AAREF WATAD/AFP via Getty Images
Mundo Síria
Os combates, que fizeram mais de 255 mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), são os mais violentos desde 2020 no noroeste da Síria, onde a província de Alepo, maioritariamente nas mãos do regime de al-Assad, é contígua ao último grande reduto rebelde e 'jihadista' de Idlib.
Hoje, duas testemunhas disseram à agência noticiosa France-Presse (AFP) terem visto homens armados em Alepo e relataram cenas de pânico na grande cidade do norte da Síria.
"Entraram nos bairros do oeste e do sudoeste", disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane.
Segundo Rahmane, os 'jihadistas' tomaram o controlo de cinco bairros da cidade, enquanto as forças do regime "não opuseram grande resistência".
Segundo o OSDH, organização com sede em Londres que dispõe de uma vasta rede de fontes na Síria, o grupo 'jihadista' Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e os grupos aliados, alguns dos quais próximos da Turquia, tinham chegado de manhã às portas da cidade, "depois de terem efetuado dois atentados suicidas com carros armadilhados".
O exército sírio, que enviou reforços para Alepo, segundo um responsável da segurança, afirmou ter repelido "a grande ofensiva dos grupos terroristas" e recuperado várias posições.
Durante a guerra civil que eclodiu em 2011, as forças do regime, apoiadas pela aviação militar russa, reconquistaram em 2016 a parte oriental de Alepo aos insurrectos, após bombardeamentos devastadores.
Hoje, os habitantes de Alepo, contactados telefonicamente pela AFP, manifestaram a sua preocupação.
"Pela primeira vez em quase cinco anos, ouvimos foguetes e projéteis de artilharia a toda a hora, e por vezes aviões. Temos medo que o cenário de guerra se repita e que sejamos obrigados a fugir das nossas casas", disse Sarmad, de 51 anos.
Um correspondente da AFP no lado rebelde relatou hoje intensos combates nos arredores de Alepo. Os combatentes disseram que estavam a receber ordens de uma sala de operações conjunta.
Esta ofensiva permitiu aos 'jihadistas' conquistar cerca de 50 cidades desde quarta-feira, segundo o OSDH.
Hoje, as forças aéreas russas e sírias lançaram ataques intensivos sobre a região de Idlib, segundo a organização não-governamental.
Os combatentes bombardearam Alepo pela primeira vez em quatro anos, tendo como alvo o 'campus universitário', onde foram mortos quatro civis, segundo a agência noticiosa oficial Sana.
"É estranho ver as forças do regime receberem tais golpes apesar da cobertura aérea russa. [...] Estariam as forças do regime dependentes do Hezbollah, que está atualmente ocupado no Líbano?", perguntou Rami Abdel Rahmane, aludindo ao cessar-fogo na guerra entre Israel e o movimento libanês, aliado de Damasco.
Já hoje, o Irão reiterou o "apoio contínuo" à Síria face a esta ofensiva. O Irão é outro aliado da Síria, onde Teerão se envolveu militarmente, enviando conselheiros a pedido das autoridades locais para apoiar o presidente al-Assad durante a guerra civil.
Graças a esta guerra, o HTS, dominado pelo antigo ramo sírio da Al-Qaida, assumiu o controlo de toda a província de Idlib, bem como de territórios vizinhos nas regiões de Alepo, Hama e Latakia.
Segundo o OSDH, hoje os combates atingiram também a cidade estratégica de Saraqeb, na posse do regime e a sul de Alepo, no cruzamento de duas autoestradas.
Por outro lado, a força aérea russa intensificou os ataques aéreos, de acordo com esta fonte, tendo o Kremlin apelado às autoridades sírias para que "ponham ordem na situação o mais rapidamente possível" em Alepo.
Numa conferência de imprensa na quinta-feira, o chefe do autoproclamado "governo" de Idleb, Mohammad al-Bashir, justificou a ofensiva alegando que o regime tinha "começado a bombardear zonas populacionais, o que provocou o êxodo de dezenas de milhares de civis".
O Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA) afirmou que "mais de 14.000 pessoas, quase metade delas crianças, foram deslocadas" devido à violência.
Nos últimos anos, o norte da Síria tem desfrutado de uma calma precária, possibilitada por um cessar-fogo introduzido após uma ofensiva do regime em março de 2020. A trégua foi patrocinada por Moscovo e pela Turquia, que apoia certos grupos rebeldes sírios na sua fronteira.
O regime sírio recuperou o controlo de uma grande parte do país em 2015, com o apoio dos seus aliados russos e iranianos. A guerra civil na Síria causou mais de meio milhão de mortos e deslocou milhões de pessoas.
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