Roménia prepara-se para legislativas enquanto reconta votos das presidenciais
A Roménia começou hoje a recontar os votos das eleições presidenciais, face à contestação dos resultados devido à alegada influência russa e da plataforma TikTok, num cenário de instabilidade que marcará as legislativas do próximo domingo.
© DANIEL MIHAILESCU/AFP via Getty Images
Mundo Roménia
Em todo o país, e no estrangeiro devido aos votos da diáspora, sacos pesados foram levados para os escritórios da Comissão Eleitoral para serem recontados, um processo que poderá durar três dias ou mais, à porta fechada.
Esta decisão do Tribunal Constitucional, que se reunirá na segunda-feira para se pronunciar sobre o pedido de anulação apresentado por um dos candidatos derrotados, foi objeto de críticas generalizadas.
O ultranacionalista pró-russo, Calin Georgescu, a quem as sondagens não davam mais de 6% dos votos nas eleições presidenciais, venceu a primeira volta com 22%, em grande parte devido à forte presença na rede social TikTok, segundo o Conselho Nacional Audiovisual.
O candidato de extrema-direita, inesperadamente vitorioso na primeira volta, defende a legitimidade do voto romeno, mas as autoridades questionam a autenticidade do processo.
Segundo o Conselho Superior de Defesa Nacional, o antigo alto funcionário recebeu "tratamento preferencial" no TikTok, algo que a rede social negou "categoricamente".
Foi também feita referência a "ciberataques" destinados a "influenciar a regularidade do processo eleitoral", notando-se "um interesse crescente" por parte da Rússia "no atual contexto de segurança regional".
O primeiro-ministro cessante Marcel Ciolacu, que foi afastado da corrida por ter ficado em terceiro lugar, o que levou à sua demissão da liderança do Partido Social-Democrata (PSD), levantou a questão de uma "eleição roubada", garantindo que não se recandidataria em caso de novas eleições.
O partido conservador União Salve a Roménia (USR) recorreu da decisão de recontagem junto de um tribunal de recurso em Bucareste, com a sua líder Elena Lasconi, a manifestar surpresa pelos "nove juízes" se oporem "à vontade" de milhões de romenos.
Lasconi ficou em segundo lugar nas eleições com 19,18% dos votos, e deverá disputar com Georgescu a presidência do país, na segunda e última volta, que está prevista para 08 de dezembro.
Os liberais também criticaram a "situação confusa, que só serve para alimentar preocupações e tensões".
A transparência do processo também suscitou dúvidas, uma vez que foi negado o acesso a observadores independentes.
Os partidos políticos preparam-se agora para as eleições legislativas de domingo, num cenário de instabilidade, com a extrema-direita determinada a confirmar o seu avanço.
Após três décadas de vida política caracterizada por dois grandes partidos, os analistas preveem um hemiciclo fragmentado e negociações difíceis na formação de um novo Governo.
De acordo com as sondagens, a extrema-direita é creditada com mais de 30% das intenções de voto, um fenómeno sem precedentes num país que, até agora, tem escapado aos surtos nacionalistas que se alastram pela Europa.
No entanto, o país tem sido abalado pela frustração da população face a uma inflação histórica e a uma classe política considerada incompetente e arrogante.
As eleições legislativas decorrem sob olhar atento do Ocidente, que teme uma mudança estratégica no país vizinho da Ucrânia, membro fiel da União Europeia (UE) e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).
A Roménia encontra-se em plena agitação social, tanto nas redes sociais como nas ruas, na sequência dos resultados das eleições presidenciais de 24 de novembro.
"Uma grande parte da sociedade está chocada, enquanto outra parte está eufórica", afirmou o politólogo Remus Stefureac à agência noticiosa francesa AFP.
"Todas as cartas foram baralhadas", conclui o politólogo, antevendo a possibilidade da formação de um governo de unidade nacional, confrontado com os riscos de segurança colocados pela guerra da Ucrânia à porta da Roménia.
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