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2016: O ano do furacão Matthew que deixou mais de mil mortos no Haiti

O impacto das alterações climáticas nos desastres naturais é cada vez evidente, como o furacão Matthew que, em setembro, deixou mais de mil mortos no Haiti, na maior catástrofe deste ano, em perdas humanas e materiais.

2016: O ano do furacão Matthew que deixou mais de mil mortos no Haiti
Notícias ao Minuto

23:25 - 13/12/16 por Lusa

Mundo Catástrofes

Ainda a recuperar do sismo de 2010 (316 mil mortos), o Haiti foi fustigado pelo "Matthew", que destruiu várias cidades, deixando dezenas de milhares de pessoas desalojadas. Em alguns locais, as perdas agrícolas atingiram os 80% e a única ponte que ligava o centro e o sul do país foi destruída, prejudicando as operações de socorro.

O furação deixou 1,4 milhões de pessoas com necessidades urgentes e um país devastado a lutar contra uma epidemia de cólera.

O "Matthew" passou também pela Jamaica, Cuba, República Dominicana, Bahamas, costa leste dos Estados Unidos, incluindo os estados da Florida, Geórgia, Carolina do Sul e do Norte.

Formado a 28 de setembro, foi o primeiro ciclone tropical da bacia do Atlântico a atingir a categoria máxima (cinco) na escala de furacões de Saffir-Simpson, desde o furacão "Felix" em 2007. O "Matthew" dissipou-se a 10 de outubro.

Peritos mundiais consideram que as alterações climáticas são já responsáveis por 90% de todos os desastres, que afetam especialmente os países de rendimento médio e baixo, que pouco contribuem para as emissões de gases com efeitos de estufa (GEE), mas têm grandes populações expostas a secas, inundações e tempestades.

Entre os países de baixo rendimento, o Haiti está no topo da lista das fatalidades, com quase 230 mil mortos devido a desastres nas últimas duas décadas. Em seguida, surgem a Indonésia (182.136) e a Birmânia (139.515), países que este ano foram também afetados por sismos.

As cheias deste ano em Paris, em junho, causaram prejuízos superiores a dois mil milhões de euros e quatro mortos. Em setembro, os ventos fortes e as chuvas levadas pelo tufão "Megi" desencadearam aluimentos de terras que varreram duas aldeias na China, Sucun e Baofeng, na província de Zhejiang, no leste.

Pelo menos três dezenas de desaparecidos juntaram-se aos oito mortos e aos 33 desaparecidos nos deslizamentos de terras registados em maio, na província de Fujian (sudeste), nas obras de construção de uma central hidroelétrica.

No Canadá, em maio, os incêndios florestais na província de Alberta consumiram mais de 500 mil hectares e destruíram 2.400 infraestruturas, custando à indústria petrolífera do país cerca de 670 milhões de euros.

Em junho, a onda de calor nos Estados Unidos causou pelo menos seis mortos e incêndios nos estados do Novo México, Arizona e Califórnia, onde no final de 2015 se registava uma das piores secas. Ao todo, mais de 55 mil hectares foram completamente devastados.

No penúltimo mês do ano, os incêndios florestais, impulsionados por ventos fortes, na parte oriental do estado do Tennessee (sul dos Estados Unidos) obrigaram a retirar mais de 14 mil residentes e turistas. Pelo menos sete pessoas morreram no estado, que vive a pior seca em quase uma década.

Em geral, terramotos e 'tsunamis' são os que causam mais vítimas fatais, seguidos de perto por desastres relacionados com o clima.

No Equador, a terra tremeu em abril, matando 670 pessoas e deixando 26 mil desalojadas. O governo equatoriano avaliou os prejuízos em três mil milhões de dólares, ou 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Em agosto, o sismo em Amatrice, na região central de Itália, deixou pelo menos 299 mortos e prejuízos avaliados em sete mil milhões de euros pelo governo italiano. Em outubro, quando o centro de Itália voltou a tremer, o número de desalojados rondava os 40 mil.

Na Indonésia, o sismo deste mês causou uma centena de mortos e mais de 45 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas na província de Aceh.

Ao longo dos últimos 20 anos, 90% das 1,35 milhões de pessoas que morreram em mais de sete mil desastres são de países de rendimento médio e baixo, de acordo com a agência da ONU para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR).

A UNISDR pediu aos governos que aumentem os compromissos para a redução das emissões de GEE para impedir um aumento sistemático dos níveis de risco de desastres para as gerações futuras. "É possível que eventos climáticos mais severos aconteçam nos próximos anos", afirmou o diretor da agência, Robert Glasser.

Também o Banco Mundial alertou, num relatório apresentado na conferência do clima da ONU (COP22), em Marraquexe, Marrocos, em novembro, que os desastres naturais atiram para a pobreza 26 milhões de pessoas todos os anos e provocam perdas anuais de 520 mil milhões de dólares no consumo.

"Os choques climáticos severos ameaçam fazer reverter décadas de progressos contra a pobreza", disse o presidente do Grupo Banco Mundial, Jim Yong Kim, citado num comunicado da instituição.

"As tempestades, as inundações e as secas têm graves consequências humanas e económicas, com os pobres a pagarem muitas vezes o preço mais elevado. Construir resiliência aos desastres não só faz sentido em termos económicos, como é um imperativo moral", acrescentou.

A situação está a agravar-se e levou a agência da ONU para a Coordenação da Ajuda Humanitária (OCHA) a anunciar, já este mês, que vai precisar de 22,2 mil milhões de dólares (20,8 mil milhões de euros) para ajudar as vítimas de conflitos ou as pessoas atingidas por desastres naturais.

Este é o maior montante que a OCHA alguma vez solicitou e o objetivo é chegar a 93 milhões de pessoas em 33 países, disse o responsável Stephen O'Brien.

"Mais de 80 por cento das necessidades resulta de conflitos provocados pelo Homem (Iémen, Síria, Sudão)", mas as alterações climáticas e catástrofes naturais, como as provocadas pelo fenómeno 'El Niño', "estão a empurrar muitas comunidades para o limiar da sobrevivência", sublinhou.

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