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Um 'Dom Quixote' no leste da Líbia à procura de consensos

Um comandante do exército líbio está à procura de consensos junto de outros chefes militares das regiões Leste e Sul do país para que os sucessos bélicos de todos se transformem numa aliança política pronta para concorrer a eleições.

Um 'Dom Quixote' no leste da Líbia à procura de consensos
Notícias ao Minuto

10:51 - 03/03/18 por Lusa

Mundo Comandante

É a partir de Benghazi, no litoral norte, cerca de 400 quilómetros a leste de Trípoli, que Marshal Khalifa Haftar, 74 anos, tem estado a tentar capitalizar o sucesso militar conquistado após o derrube do regime de Muammar Kadhafi, depois de o líder líbio, que esteve 42 anos no poder, ter sido morto em Sirte, a 20 de outubro de 2011.

Segundo a edição online do portal The Africa Report, as sucessivas vitórias no campo de batalha e a manutenção da estabilidade nas regiões leste e sul do país levaram alguns observadores internacionais a alcunhá-lo como o "D. Quixote de África", alcunha que pegou, tal é o consenso generalizado e a aceitação como comandante-chefe do exército nacional líbio.

Outro aspeto comum é a unanimidade de opositores e inimigos, de um lado, e apoiantes, do outro, sobre a dificuldade de ler o pensamento de Haftar, destaca o The Africa Report, embora muitos perguntem se, aos 74 anos, o comandante está a seguir o caminho contrário aos ideais "quixotescos" e a avançar para a conhecida ditadura.

Ao apelar à realização rápida de eleições nacionais, Haftar utiliza frequentemente a ideia de contrastar a ordem e estabilidade nas regiões do Leste e do Sul da Líbia, que controla a partir de Benghazi, com a anarquia das milícias em Trípoli.

O argumento, segundo o portal, visa esvaziar os poderes do seu principal adversário político em Trípoli, Fayez al-Sarraj, o primeiro-ministro líbio reconhecido pelas Nações Unidas. "Estamos a dar o nosso melhor para cooperar com al-Sarraj, mas ele está refém das milícias em Trípoli. É-lhe difícil tomar decisões", afirmou o comandante.

A 17 de dezembro de 2017 expirou o acordo político de dois anos assinado em Marrocos, pacto que permitiria unir, na teoria, Trípoli ao resto do país, reconhecendo, paralelamente, al-Sarraj como chefe de um Governo que continua dependente dos humores das numerosas milícias de toda a região da capital.

"Todas as estruturas que foram criadas pelo acordo perderam automaticamente qualquer legitimidade", argumenta Haftar, ao mesmo tempo que anuncia que vai candidatar-se à Presidência da Líbia.

"Temos de organizar eleições antes que os escolhidos [em Trípoli] decidam sobre uma nova Constituição. Têm de ser eleições organizadas rapidamente, de forma transparente e em que o voto deve ser obrigatório", sustenta, assegurando que o Exército -- "o seu exército", como refere o The Africa Report -- "é indispensável" para garantir a segurança da votação.

A preponderância da ação de Haftar é tal que a revista, citando opiniões locais e internacionais, questiona se o comandante de Benghazi poderá emergir como o "homem forte" no norte do continente africano.

"Haftar tem uma longa carreira militar, discursa frequentemente sobre vários temas, em particular o ligado à segurança, tem um ódio profundo à Irmandade Muçulmana e fala com tal convicção que o povo o quer para salvar o país", descreve o The Africa Report.

Promovido a marechal pelo Governo de Tobruk, Haftar tornou-se um dos homens mais poderosos no país e numa das principais personalidades a ter em conta na Líbia, sobretudo a partir do momento em que os dignitários ocidentais já o tratam com o devido respeito.

Em julho de 2017, o Presidente francês, Emmanuel Macron, saudou-o como comandante do Exército Nacional Líbio, fortalecendo a ideia de que o grupo armado de Haftar já há muito que não é uma simples milícia entre tantas outras.

A segurança pessoal é uma das suas maiores preocupações. Raramente aparece em Benghazi, optando pela fortificação militar em Rajmah, a 30 quilómetros da cidade. O acesso ao forte é limitado e as suas tropas retiram todos os dispositivos eletrónicos aos que lhe querem falar.

Em 2014, um carro armadilhado deixado por extremistas islâmicos matou quatro pessoas na sua residência. Além disso, tem a cabeça a prémio por vários milhões de dólares.

As alianças diplomáticas de Haftar na região incluem outros países que se opõem à Irmandade Muçulmana e a vários grupos radicais islamizados, como o Chade, Egito, Emirados Árabes Unidos e, menos próximo, a Arábia Saudita.

Sudão, Turquia e Qatar são considerados opositores.

Mais cautelosas e neutrais estão Argélia e Itália, ambas receosas de que uma operação militar liderada por Haftar no leste da Líbia traga novo caos às suas portas.

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