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"Não vemos estes 45 anos como uma obra perfeita e acabada. Longe disso"

O Presidente da República discursou no Parlamento na celebração dos 45 anos da Revolução dos Cravos.

"Não vemos estes 45 anos como uma obra perfeita e acabada. Longe disso"
Notícias ao Minuto

11:55 - 25/04/19 por Melissa Lopes

País Presidentes

Marcelo Rebelo de Sousa vincou no seu discurso de 25 de Abril que, apesar da enorme conquista que foi a Revolução dos Cravos,  esse não é um processo perfeito e acabado. Todavia, de uma coisa não tem dúvidas: "Valeu a pena". 

"[Nós, os jovens de 74] não vemos estes 45 anos como obra perfeita, completa, acabada, que nos deixe deslumbrados, auto-contemplativos, realizados. Longe disso", afirmou o chefe de Estado, esta quinta-feira, na Assembleia da República.

"Desejamos muito mais e muito melhor, mas reconhecemos que valeu a pena o passo fundador, o 25 de Abril, mesmo aquilo que ao longo das décadas custou a tantos. Valeu a pena". 

Marcelo recordou os "altos e baixos" da Revolução que trouxe a democracia ao país, sublinhando que "ninguém ousará dizer que, nessas décadas, os jovens de 74 e com eles os mais antigos e mais recentes não viveram uma aventura agitada, exigente, não linear, cheia de altos e baixos"

"Para muitas portuguesas e portugueses" - prosseguiu -  "a descoberta da própria liberdade chegaria com a da democracia, e uma e outra com a conversão de um império colonial de cinco séculos em membro de comunidades que não sendo inéditas nas raízes, o eram nos seus contornos políticos, económicos e sociais". (...) 

"Claro que, por vezes assumimos essa viragem histórica singular, que é encerrar um ciclo de cinco séculos, como se de uma suave natural e pacífica transição sem dor se tratasse. Somos inexcedíveis nesse fazer de conta de que mesmo o mais difícil é fácil e o mais profundamente diversos não passa de um súbtil acidente de percurso", destacou o Presidente, sublinhando que, volvidos 45 anos, os jovens de 74, como o Presidente, continuam a preferir a democracia, mesmo a mais imperfeita, à ditadura". "Preferimos o reformismo, mesmo o mais arrojado, à rotura demagógica feita de basismos ilusórios, de sebastianismos de passado que não voltam", continuou.

Marcelo  definiu os desafios que se colocam à democracia, realçando que "esperamos muito mais da Europa e dos países falantes de língua portuguesa".

"Queremos muito mais da nossa democracia social e cultural, melhor, muito melhor da nossa democracia política e económica, mas não estamos dispostos a esquecer o que fizemos para ultrapassar barreiras, exclusões e discriminações de há quase meio século (...) mas não cedemos a tentações ou marginalizações, nem a xenofobias, nem a traumas pós-coloniais, sejam quais forem os pretextos ou seduções do momento", avisou. 

Presidente pede mais "ambição"

Durante um discurso de 20 minutos, Marcelo comparou ainda as ambições dos "jovens de 1974", como ele, e os jovens de hoje, "os jovens de 2019".

Para o Presidente da República, é preciso "mais ambição no Portugal pós-colonial, mais ambição na democracia, mais ambição na demografia, mais ambição na coesão, mais ambição na era digital e mais ambição na antecipação do futuro do emprego e do trabalho". "Mais ambição na luta por um mundo sustentável", concluiu.

Estes objetivos têm que ser conseguidos, afirmou, "com a economia a crescer, com dependência pelo endividamento a diminuir, sensatez financeira a salvaguardar, com acrescida justiça a repartir".

Num discurso em que fez a pergunta e respondeu a si próprio, e sem nunca nomear diretamente o Governo, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que estes são objetivos difíceis.

"Parece um programa impossível? Talvez, mas a História faz-se sempre de programas, ideais, de sonhos impossíveis. Portugal é uma pátria que nasceu impossível, mas uma impossibilidade com quase 900 anos. Porque haveriam de ser as gerações de hoje as primeiras a renunciar ao impossível?", afirmou, já a finalizar o seu quarto discurso, como Presidente, na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República.

"Porque haveríamos de ser nós a não acreditar em Portugal?", questionou ainda. Os "jovens de 2019 querem respostas inequívocas para algumas perguntas urgentes", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa começou sempre cada frase a perguntar "quando e como" vai Portugal querer "ser uma sociedade a rejuvenescer", pelos que "nascem e pelos que recebe de fora", os imigrantes, ou se vão esbater "mesmo as desigualdades que ainda existem".

"Desigualdades que ainda existem, que continuam a minar a nossa coesão, entre pessoas, entre grupos e territórios, que atrasam o desenvolvimento, juntam novos pobres aos velhos pobres", exemplificou.

É preciso, aconselhou, que se antecipe "o que aí vem nesta era da revolução digital", no emprego e no trabalho, face a "mutações que, em cinco, dez anos, vão mudar os sistemas produtivos" e que podem "dispensar pessoas ou rearrumá-las" nas suas atividades.

No final, aplaudiram de pé as bancadas do PSD, do PS e do CDS-PP, enquanto PCP, BE e PEV optaram por ficar sentados, sem aplaudir.

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