Meteorologia

  • 23 NOVEMBER 2024
Tempo
21º
MIN 13º MÁX 22º

Borba. Nove arguidos, indemnizações e estrada cortada um ano depois

Um ano após a derrocada para o interior de duas pedreiras em Borba (Évora), a estrada 255 continua cortada ao meio, familiares e herdeiros dos cinco mortos foram indemnizados e o inquérito tem nove arguidos.

Borba. Nove arguidos, indemnizações e estrada cortada um ano depois
Notícias ao Minuto

09:50 - 16/11/19 por Lusa

País Borba/Acidente

O alerta para o acidente chegou às autoridades às 15h45 de 19 de novembro de 2018, quando um troço de cerca de 100 metros da Estrada Municipal (EM) 255, entre Borba e Vila Viçosa, colapsou, com um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra a deslizarem para dentro de duas pedreiras contíguas, uma em laboração e outra desativada.

O desastre causou a morte de dois operários da empresa de mármore, na pedreira ativa, quando o aluimento provocou "o deslocamento da retroescavadora" que operavam, e de três homens que seguiam em duas viaturas automóveis na estrada que ruiu e que caíram para o plano de água da pedreira desativada.

A busca e resgate de vítimas começou de imediato e envolveu operacionais de diversos agentes da Proteção Civil, tendo os trabalhos sido dados como terminados a 01 de dezembro.

No local, também estiveram engenheiros do Exército, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e equipas da Marinha, com mergulhadores e um veículo submarino com controlo remoto, para detetar as viaturas submersas nas pedreiras, utilizado pela primeira vez num espaço tão confinado.

Os 13 dias da operação, rodeada de complexidade e que a Proteção Civil chegou a qualificar como tendo "dimensão ciclópica", foram sendo marcados pela retirada dos corpos.

Os primeiros foram os dos operários da pedreira. O de um homem, de 49 anos, residente em Bencatel (Vila Viçosa), um dia após o desabamento da estrada, e o do seu colega, de 58 anos, morador em Vila Viçosa, no dia 24.

Seguiram-se os dos ocupantes dos veículos automóveis. No dia 30, foram retirados os corpos dos dois cunhados que seguiam numa carrinha de caixa aberta, um de 37 e outro de 53 anos, naturais e residentes em Bencatel. A quinta vítima mortal, um homem, de 85 anos, natural e residente em Alandroal, foi resgatada na manhã do 13.ºdia de buscas.

A tragédia levou ao local o então secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro numa "visita relâmpago" sem falar aos jornalistas e, depois, terminadas as buscas, a Vila Viçosa, para um encontro com familiares das vítimas mortais.

O Ministério Público (MP) instaurou um inquérito, ainda em curso, para apurar as circunstâncias da derrocada, dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora, coadjuvado pela Polícia Judiciária (PJ).

Em comunicado recente, para fazer "o ponto de situação" do inquérito, "um ano decorrido" sobre a derrocada, o MP revelou que foram ouvidas 21 testemunhas e constituídos nove arguidos, um deles uma pessoa coletiva.

Para o encerramento do inquérito, em segredo de justiça e com declaração de "excecional complexidade", decorrem diligências para obter "elementos de prova documental" e de "prova pessoal".

Um ano depois, a EM255 continua cortada ao trânsito. O troço que ruiu permanece "esboroado" para o interior dos poços, onde se pode ver terra vermelha, pedras e blocos de mármore, assim como, na pedreira desativada, o fundo com água.

O acesso, do lado de Borba e de Vila Viçosa, está interrompido e as câmaras não anunciaram qualquer intervenção para repor a via.

As empresas de mármores recorrem a uma estrada alternativa para aceder às pedreiras na zona e, para os automobilistas, a opção é a variante entre Borba e Vila Viçosa, que liga à A6, aberta ao trânsito há mais de 15 anos.

A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) abriu um inquérito para apurar as condições de segurança e saúde dos trabalhadores da pedreira ativa, mas desconhecem-se as conclusões, e o Governo pediu uma inspeção urgente às pedreiras situadas na zona de Borba.

Em janeiro, no âmbito do "Plano de Intervenção nas Pedreiras em Situação Crítica", elaborado a nível nacional, o Ministério do Ambiente revelou ter identificado em 13% das pedreiras dependentes do Estado central, ou seja, em 191 casos, "situações críticas", 55 deles no Alentejo, e determinou a adoção de medidas, como sinalização, vedações e estudos de redução de riscos.

Nos dias a seguir ao acidente, empresários do setor alegaram que a Câmara de Borba conhecia os perigos da estrada, por as pedreiras estarem demasiado próximas, e que já tinham defendido o corte da via, mas o autarca António Anselmo negou.

Um ano depois do acidente, o que já está concluído é o mecanismo extrajudicial para pagamento das indemnizações aos familiares e herdeiros das vítimas, decidido em Conselho de Ministros extraordinário no final de 2018 e conduzido pela Provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral

Os 19 familiares e herdeiros das cinco vítimas mortais foram indemnizados pelo Estado num montante global de cerca de 1,6 milhões de euros, cujas ordens de transferência foram concluídas no final de junho.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório