"Tudo leva a crer que cada vez vamos ter incêndios mais graves"
Domingos Xavier Viegas, especialista na temática dos incêndios e responsável pelos estudos das catástrofes de 2017, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.
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País Domingos Xavier Viegas
O ano de 2017 ficará para sempre na memória do país como uma página trágica. Primeiro, o incêndio que devastou Pedrógão Grande e, poucos meses depois, em outubro, outra tragédia assolou Portugal. Vidas perdidas, famílias destruídas e danos materiais incalculáveis foram marcas que um fogo nunca antes sentido deixou para trás.
Domingos Xavier Viegas, professor universitário em Coimbra e responsável pelos relatórios destas duas catástrofes, refere ao Notícias ao Minuto que ainda há muitas lições a tirar e muito a fazer.
Uma aposta na formação, de entidades e populações, é um dos caminhos em que é fundamental apostar para evitar não que os fogos surjam - uma vez que estes são “de tal maneira violentos que não é possível pará-los” - mas para que seja possível, pelo menos, evitar que causem tragédias como em junho e outubro.
Uma conversa - que publicamos no dia em que o Tribunal de Contas defende que o Governo deve alterar a lei sobre planos de defesa da floresta, apontando-lhes "fragilidades estruturais" e registando "aceitação reticente" dos mesmos por parte dos municípios - em que Xavier Viegas faz um balanço do passado mas que aponta ao futuro e ao que está ao alcance de todos nós, enquanto população, fazer.
Temos de dar preparação às pessoas, condições para elas saberem o que fazer. E isso foi uma das coisas que faltou em 2017, principalmente em Pedrógão e, depois, também em parte em outubro A tragédia de Pedrógão Grande já aconteceu há mais de dois anos – em junho de 2017 – e pedia-lhe um balanço. O que, na sua opinião, podia ter sido feito para evitar ou minimizar?
Falamos para o futuro, no passado já não há nada a fazer. Nessa altura, talvez, se pudessem ter feito algumas coisas e ainda estamos a tempo ainda de as fazer. Penso que o essencial é preparar as pessoas porque incêndios florestais, infelizmente, vamos ter. E tudo leva a crer que cada vez vamos ter incêndios mais graves. E também nessas circunstâncias não há a possibilidade de chegar e socorrer cada pessoa, cada casa ou cada aldeia, sequer. O que temos é de dar preparação às pessoas, condições para elas saberem o que fazer. E isso foi uma das coisas que faltou em 2017, principalmente em Pedrógão e, depois, também em parte em outubro, nos vários locais onde morreram pessoas.
Creio que essa prioridade o Presidente e as autoridades já entenderam. As medidas têm de ser as de preparar a comunidade para saberem o que fazer… por exemplo, saber que haverá pessoas que terão de ser retiradas com muita antecedência, aquelas pessoas que estejam doentes, que sejam idosas, as crianças ou aquelas pessoas que não têm condições físicas ou psíquicas para aguentar a passagem do incêndio ou para estar no meio do fumo.
Depois, ver quais são aquelas pessoas que têm condições para ajudar, para defenderem aquilo que é seu e ajudarem os bombeiros a defender o território, as casas e as próprias pessoas. Isto é um trabalho que tem de ser feito ao longo de anos. E deve-se começar o quanto antes. Claro que também se têm de dar condições às pessoas para terem segurança, para terem casas que não estejam localizadas em sítios muito expostos, que não tenham materiais que possam ser facilmente inflamáveis... e tem de se cuidar da limpeza à volta das casas. Esta última é outra medida que tem sido muito publicitada pelo Governo e, felizmente, nota-se uma atitude de resposta por parte das pessoas perante esta chamada. Nas aldeias, vilas e pequenas cidades as coisas estão a melhorar muito em termos de limpeza.
Há um trabalho que é preciso fazer de longo curso que é preparar a floresta E a floresta…
Depois há um trabalho que é preciso fazer de longo curso que é preparar a floresta. Criar aquelas faixas de gestão para que as manchas de combustível florestais sejam quebradas, para qualquer incêndio que venha não progrida sem qualquer interrupção, sem qualquer hipótese de ser parado. Nós sabemos que essas manchas, só por si, não páram os fogos. Elas funcionam havendo pessoas – nomeadamente bombeiros –, havendo condições para estarem ao longo delas para poder parar o fogo ou até fazer um contra-fogo.
Essas faixas não existiam e o que verificamos é que no nosso país há muitas regiões, algumas delas de alto risco de incêndio, em que essas faixas pura e simplesmente não existem. O que é uma falha muito grande. Em muitos incêndios ditos ‘normais’ ou em dias de grande perigo podem funcionar. Penso que estas são as duas grandes medidas: junto das pessoas, das comunidades, e outra, a atuação na floresta.
Além do que já referiu – o trabalho a fazer junto das comunidades e na floresta – também é preciso melhorar em termos de, por exemplo, formação de bombeiros?
Naturalmente. A formação não é como uma luz que se acende e depois se apaga. Tem de manter-se. As pessoas aprendem agora umas coisas e depois têm de voltar passado um ano ou dois para refrescarem aquilo que aprenderam e aprofundarem mais coisas. E isso que se costuma falar para, por exemplo, os bombeiros, os agentes de Proteção Civil, a GNR, os próprios militares que intervêm na floresta, [é necessário] também para a própria população – muita gente que não tem nada que ver com o incêndio pode ser envolvida por este. Muitas pessoas que por acaso lá estavam [em Pedrógão], de repente, estavam envolvidas pelo incêndio, muitas delas sem saber o que fazer. Mesmo essas pessoas têm de receber formação. Há coisas que toda a população deve saber: como evitar comportamentos de risco, evitar atividades que possam pôr a floresta em risco e depois também o que fazer em circunstâncias em que possam estar ameaçadas pelo fogo.
Nunca poderei esquecer o que vi e vivi naquelas horas junto daqueles carros calcinados, daqueles corpos já irreconhecíveisO que mais o chocou quando chegou a Pedrógão Grande e viu o que se tinha passado? E depois, quando trabalhou os factos de junho de 2017?
Estive em Pedrógão logo no dia seguinte, quando estavam a começar a levantar os corpos. E naquele troço da Estrada 232 onde estavam mais de 30 pessoas mortas. Isto claramente foi algo que me causou uma impressão tremenda. Nunca poderei esquecer o que vi e vivi naquelas horas junto daqueles carros calcinados, daqueles corpos já irreconhecíveis. Não só naquele troço da estrada mas, infelizmente, depois quando acompanhei as equipas da polícia e o levantamento de talvez 30 dos 60 corpos. Naquele dia acho que foram levantados 50. Ver aquela quantidade de vidas humanas, famílias inteiras, pessoas…
Pessoas que tentavam fugir.
Que tentavam fugir para onde quer que fosse. E depois falámos com os sobreviventes, com os familiares, amigos, pessoas que estiveram até naquele local e que conseguiram salvar-se e os depoimentos que obtivemos foram exatamente esses. De terror. De estarem numa circunstância em que seja o que fosse que fizessem não os retirava dali. E essa foi, talvez, a segunda coisa que me impressionou neste incêndio: o comportamento que ele teve e que surpreendeu toda a gente, mesmo os próprios residentes. Aquilo foi um incêndio fora do comum. E esse, como digo, foi o segundo aspeto que nos levou, enquanto cientistas, a tentar perceber o que ali se tinha passado. Porque é que aquilo foi uma coisa tão fora do comum. E tivemos de estudar com a ajuda dos nossos colegas do Instituto de Meteorologia para compreender as várias coisas que ali se conjugaram para dar origem àquela tragédia. Desde a origem dos dois focos de incêndio, depois a aproximação da trovoada – o que é que a trovoada ao interagir com os focos de incêndio modificou – e depois como é que os incêndios se desenvolveram e deram origem àquela propagação.
E depois de todo o seu trabalho face ao que aconteceu o que pensa que aprendemos com Pedrógão?
Aprendemos várias coisas nestes campos que lhe disse. Que temos de preparar melhor as pessoas e, já agora, sobre os incêndios de outubro posso dizer-lhe que, além da perda de vidas, tiveram um aspeto característico que foi a destruição industrial, de fóruns empresariais que há em muitas vilas do nosso Interior e que são força de trabalho de muita gente. Devido à falta de proteção e à falta de cuidado, essas áreas foram completamente destruídas. Isto são algumas das lições que retirámos – fizemos dois relatórios e no final têm um conjunto grande de instruções.
Felizmente, os últimos dois anos foram relativamente bons. Não houve incêndios muito grandes mas, como vimos, basta um ou dois dias para termos um cenário completamente diferenteExatamente. No mesmo ano em que ocorreu Pedrógão, houve também incêndios que devastaram uma grande parte da região Centro do país. Como deixámos que duas tragédias acontecessem tão perto uma da outra?
Pois. Isso dá muito que pensar. A resposta que tenho é que estamos muito vulneráveis e podemos dizer que foi uma coincidência. Porque realmente em junho tivemos um conjunto de circunstâncias – nomeadamente aquela onda de calor, um período de seca muito grande, tivemos depois aquela trovoada que causou um incêndio completamente fora do comum – mas em outubro tivemos aquela tempestade tropical, o Ophelia, que trouxe um vento muito forte que fez com que qualquer foco de incêndio que ocorresse nesse dia facilmente se propagasse. Isto são coisas que não dependem da vontade das pessoas. Não dependem da nossa intervenção. E o que a natureza nos mostra é que, de um momento para outro, elas podem aparecer. O facto de terem acontecido a três meses de distância não é uma circunstância qualquer.
Felizmente, desde então, não temos tido mais ocasiões destas mas o que devemos pensar é que podem acontecer um dia destes. Pode acontecer um dia em que as condições sejam catastróficas e possam dar origem a incêndios. Felizmente, os últimos dois anos foram relativamente bons. Não houve incêndios muito grandes mas, como vimos, basta um ou dois dias para termos um cenário completamente diferente. E o que diria, voltando à pergunta, é que temos de estar preparados, se possível, para estes dias fora do comum. A convicção que tenho é que não podemos estar preparados para combater estes incêndios porque eles são de tal maneira violentos que não é possível pará-los. Devemos evitar é que eles causem tragédias como causaram os de junho e de outubro. E creio que não houve tempo para o país e para as pessoas aprenderem sequer as lições de Pedrógão. Parte de nós aprendeu, porque estamos convencidos que muitas pessoas aperceberam-se que, por exemplo, aquela ideia de fugir de casa à última hora não era a melhor solução. E houve muito menos pessoas que morreram a fugir de carro em outubro – mesmo assim houve algumas. Muitas das pessoas com quem falámos disseram que tomaram essa opção [de não tentar escapar de carro] porque se lembraram de Pedrógão.
Houve lições mas ainda há muito mais caminho a fazer: trabalhar com a população em geral, trabalhar com as comunidades de risco, com estas aldeias que estão mais em perigo e torná-las mais seguras, dar mais condições para as pessoas poderem lá estar a viver e não terem receio dos incêndios porque, pelo menos, a sua vida não será posta em risco.
Há coisas que estão melhor no país mas há muita coisa ainda que não está feita e não está preparada. Porque, infelizmente, tendemos a esquecer rapidamente estas tragédias e quanto maior é a distância no tempo e no espaço mais facilmente esquecemosEntão, na sua opinião, ainda corremos o risco de Pedrógão ou de outubro de 2017 voltarem a acontecer?
Sem dúvida. E, nesse sentido, há coisas que estão melhor no país mas há muita coisa ainda que não está feita e não está preparada. Porque, infelizmente, tendemos a esquecer rapidamente estas tragédias e quanto maior é a distância no tempo e no espaço mais facilmente esquecemos. Há algumas pessoas que nem sequer deram conta nem se mentalizaram, por exemplo, que têm de limpar as coisas à volta de sua casa, à volta da sua aldeia, à volta da sua empresa. E pelo país continuamos a encontrar muitas situações. Basta pensar: Se houver um incêndio o que é que acontece? E vai ver que as pessoas não dão conta disso. Dá-me ideia de que tem havido esforços mas que não é, de todo o modo, para ficarmos completamente descansados.
E que áreas do país têm um risco maior – se é que é possível de apontar?
É difícil dizer isso. Confesso que tenho uma certa relutância. Recorde-se que há dois anos houve pessoas e autoridades que começaram a dizer que Monchique e o Algarve era área de risco e, logo a seguir, ardeu. O que quero dizer é que há tantas zonas – e se olhar pela janela de minha casa vejo o vale junto do Mondego e tudo está cheio de árvores… há carros pelo meio. Tudo isto pode estar em risco e como digo aqui digo em muitos outros lados onde temos estas situações.
Quando as autoridades dizem que temos zero mortos não é verdade. Tivemos este ano 12 pessoas que perderam a vida em incêndios. Estou a falar de queimadas, de pessoas que fazem queimas de resíduos e depois acabam por morrer. E também morreu uma pessoa num helicóptero de combate a incêndiosTambém este ano os incêndios estiveram na ordem do dia no verão mas podemos dizer que correu francamente melhor. Como é que caracteriza 2019 em termos de fogos que ocorreram e do combate que foi feito?
Foi realmente melhor. Tivemos um incêndio mais importante que foi o de Vila de Rei e Mação e de resto, felizmente, não houve muitas ignições simultâneas. Isso permitiu que o ataque inicial fosse feito com força e quando isso acontece consegue-se evitar que o incêndio se torne grande. Agora queria só acautelar uma coisa. Quando as autoridades dizem que temos zero mortos não é verdade. Tivemos este ano 12 pessoas que perderam a vida em incêndios. Estou a falar de queimadas, de pessoas que fazem queimas de resíduos e depois acabam por morrer.
Não em incêndios florestais propriamente ditos.
Exatamente. E também morreu uma pessoa num helicóptero de combate a incêndios. Temos de olhar também para esta realidade: pessoas que, por diversas razões, resolvem fazer uma queima sem estarem devidamente acauteladas, sem terem enquadramento, sem terem apoio, e depois as coisas correm mal e acabam elas próprias a arriscar a vida e, em alguns casos, morrer. Isto é uma realidade que passa um pouco ao lado da comunicação social porque muitas vezes não são notícia a nível nacional e muitos destes acidentes ocorrem fora do verão – no outono ou na primavera. A verdade é que todos os anos morrem pessoas. E se nós queremos zero mortos temos também de evitar estas.
E o que o Governo poderia fazer mais no sentido de alertar a população? Já falámos na parte da formação de bombeiros e militares. No caso das populações é necessário um trabalho mais próximo?
Claramente. Foi iniciado um programa o ‘Aldeia Segura Pessoas Seguras’ mas esse programa está praticamente no princípio. Fez-se o lançamento, o anúncio, selecionaram-se umas aldeias – não sei se mil ou duas mil - mas creio que falta exatamente isso, um trabalho de continuação e de proximidade. Porque não basta escolher um oficial de segurança, é preciso preparar as pessoas e as comunidades saber, por exemplo, se houver um incêndio, perigo de incêndio ou outra catástrofe qualquer, onde é que as pessoas vivem, quem são as pessoas que precisam de auxílio, quem são as pessoas que têm de ser retiradas de onde estão e levadas para um sítio mais seguro ou até para fora da aldeia. Porque tudo isto - e vimos em outubro de 2017 - as pessoas tiveram de fazer por si próprias. Se não for preparado, na altura do perigo é um ‘salve-se quem puder’.
Podiam ser evitadas muitas mortes se houvesse um serviço organizado de atenção para com cada pessoa, nomeadamente às pessoas necessitadas, invisuais, com dificuldades em andar, pessoas de idade… tudo isto tem de ser identificado e sinalizado não só pelas autoridades mas pela própria comunidade. Porque muitas vezes as autoridades não têm tempo de chegar lá e têm de ser os próprios vizinhos a saber quem precisa de ajuda e atuar. E isso é um trabalho que tem de ser feito de modo continuado, não é apenas com um evento, uma simulação ou uma demonstração. Tem de ser um trabalho dia a dia, que passa despercebido mas é preciso fazer.
Agora entendo que aquelas golas foram fornecidas com toda a boa vontade no sentido de dar qualquer coisa às pessoas para se protegerem porque qualquer coisa é melhor do que nada. Não era pelo facto de usarem as golas que as pessoas estavam mais em perigoE o que os portugueses deviam exigir que fosse feito imediatamente?
Que as medidas políticas fossem aplicadas criteriosamente, nomeadamente os recursos incluindo os financeiros e até da comunidade europeia, porque a noção que tenho é que o nosso país desperdiça muitos recursos. Nomeadamente esses que a União Europeia nos proporciona para melhorar a nossa floresta e a segurança da nossa população, utilizando-os em coisas que não satisfazem os melhores critérios de segurança e de risco. E, por vezes, as leis que fazemos não são as mais adequadas.
Concretamente em relação a Pedrógão, antes de a tragédia acontecer tenho conhecimento que havia projetos e medidas de prevenção para aquela região mas que o dinheiro não foi para lá, foi para o Alentejo. O dinheiro do programa de prevenção de incêndios por causa de critérios que estavam feitos foi atribuído a propriedades no Alentejo. Não quer dizer que a região não precisasse do dinheiro mas o risco de incêndio é uma coisa diferente e isso deriva muito da legislação e de como as coisas estão feitas.
Mudando um pouco de tema. Outros dos estudos que coordenou foi acerca das golas anti-fumo. Cumpriam o seu propósito? O que falhou – se algo falhou – neste caso?
Nós fomos solicitados pelo Governo e pelas autoridades e tinha um grupo que estava preocupado com o alarme que se tinha criado de que as golas eram inflamáveis. Dava a entender que se uma pessoa tivesse a gola e se aproximasse do fogo, que aquilo começava a arder. Tinha, pessoalmente, a convicção de que isto não era verdade mas queria verificar e foi o que fizemos. Realmente aquele tecido - como qualquer outro tecido que arde - para inflamar tínhamos que chegá-lo mesmo quase em cima das chamas, a menos de um palmo. A essa distância qualquer pessoa não consegue estar, não consegue aguentar. Nem com a gola nem com outro equipamento. Não quero pronunciar-me sobre os processos que houve de encomenda e aquisição porque isso são outras questões, mas sabemos que o material daquele que os bombeiros usam para se proteger são mais fortes mas também são mais caros. Íamos gastar muito mais dinheiro para dar uma proteção efetiva às pessoas.
Agora entendo que aquelas golas foram fornecidas com toda a boa vontade no sentido de dar qualquer coisa às pessoas para se protegerem porque qualquer coisa é melhor do que nada. Não era pelo facto de usarem as golas que as pessoas estavam mais em perigo. Dava-lhes alguma proteção. Não era a proteção total que outro material podia dar mas era melhor do que nada. E o que vejo pela referência que tenho – vejo em muitos incêndios, felizmente em cada vez em menos, mas ainda se continua a ver - pessoas que vão para o fogo em calções, em tronco nu, em chinelos de praia, sem mais nada. E isso é um risco tremendo.
Esta gola e o kit que o Governo e as autoridades forneceram às pessoas eram uma chamada de atenção de que não podem ir dessa maneira, têm de levar alguma proteção. Outro aspeto que também queria comentar é que espero que, com este episódio, e tudo aquilo que possa estar à volta dele, que não se estrague nem destrua um programa que é muito válido e que é necessário que é o ‘Aldeia Segura Pessoas Seguras’. Que todo o alarido que se fez em torno disto que não venha destruir a imagem e o ímpeto que um programa como este deve ter.
Há ainda um setor de todo este sistema que são Serviços Florestais que, infelizmente, nos últimos anos, não têm feito o seu papel. É, quanto a mim, neste momento, um dos pontos fracos de toda esta grande cadeia de entidades, sistemas, de boa vontade de pessoas que estão a trabalhar no sentido de melhorar o problema dos incêndiosFizemos um balanço do passado e queria apontar o futuro. O que espera como especialista e o que a população pode também esperar nesta matéria de incêndios?
Penso que temos esperança no sentido em que as coisas estão melhor. As autoridades estão bem mais sensibilizadas, bem mais preparadas, bem mais atentas para o problema. E quando há pouco me perguntava o que devíamos esperar que as autoridades e o Estado fizessem, há ainda um setor de todo este sistema que são Serviços Florestais que, infelizmente, nos últimos anos, não têm feito o seu papel. E não me parece que tenham, digamos, arrancado para fazerem aquilo que deviam e aquilo que se espera. Tenho esperança que isso possa acontecer e é, quanto a mim, neste momento, um dos pontos fracos de toda esta grande cadeia de entidades, sistemas, de boa vontade de pessoas que estão a trabalhar no sentido de melhorar o problema dos incêndios.
Nestes últimos anos os Serviços Florestais têm falhado, qualquer que seja o nome que tenham tido. Mas estou convencido que, com todas aquelas coisas de que falámos antes, que sejam postas na proteção das pessoas, na defesa das aldeias, das casas, a teoria da gestão da floresta… e evitar aquela situação que vemos nas áreas ardidas em 2017, como por exemplo Pedrógão, em que tudo aquilo que ardeu agora tem eucaliptos perfeitamente selvagens e em que nada ou muito pouco se fez, e que, se continuar assim, estamos ali a criar territórios que irão estar preparados para incêndios iguais ou piores.
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