José Ornelas vê crise na Igreja como oportunidade
O novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou hoje que a crise na Igreja, de que falam alguns cristãos, é uma oportunidade para "reavaliação e reequacionamento das próprias questões, das perguntas que se fazem para poder encontrar caminhos".
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País José Ornelas
"Neste tempo, se não formos capazes de equacionar isto, não significa sermos mais fiéis ao passado. As tentativas de querer voltar para trás são precisamente a negação da fidelidade que se quer aos princípios que se tem", disse José Ornelas em entrevista à agência Lusa, deixando claro que também não é desejável uma Igreja acrítica.
"Não me sentiria bem numa Igreja que vestisse toda a mesma camisa e que fosse toda direitinha. É natural que haja opiniões diferentes dentro da Igreja. Sempre houve e isso é salutar. Muitas vezes há vozes incómodas, mas, mais perigosa do que o incómodo das vozes dissidentes, é a unanimidade acrítica", acrescentou o presidente da CEP e bispo de Setúbal.
Em tempo de pandemia da covid-19, e numa altura em que se verifica o regresso às celebrações religiosas, José Ornelas, eleito para presidente da CEP na terça-feira, acredita que a grande maioria dos cristãos o vai fazer "muita responsabilidade".
"E essa responsabilidade tem a ver precisamente com o valor da dignidade e de primazia que se dá à vida em si mesma", disse.
Para o bispo de Setúbal, essa responsabilidade já está a ser demonstrada no País, incluindo na Diocese de Setúbal, com o apoio de todas as paróquias às pessoas e famílias mais carenciadas, mas também a famílias que tinham a vida bem organizada antes da pandemia.
"Nós temos serviços de atenção e apoio às pessoas às pessoas mais carenciadas em todas as paróquias - e disparou o número de pessoas que buscam auxílio até para o mais elementar, que é a alimentação. Isto aumentou em cerca de 25% (dados de há três semanas)", afirmou.
"Há três semanas estávamos a assistir 17 mil pessoas - cinco mil famílias. Não somos só nós, porque nesta península, graças a Deus, há muitas outras instituições que ajudam pessoas. E são pessoas que, de um momento para o outro, se viram privadas de uma vida que tinham bem organizada", sublinhou.
Apesar das dificuldades do momento, o presidente da CEP espera que, depois da pandemia, possa surgir uma sociedade com outros valores, mais solidários.
"O que interessa saber é que tipo de relação e que tipo de sociedade nós temos. E se a gente conseguir despertar o sentido de solidariedade de respeito e de cidadania, que de uma forma dramática experimentamos neste tempo, isto pode mudar", disse.
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