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Portugal não pode ser "cúmplice de um genocídio" no Brasil, diz Tréfaut

O cineasta lusobrasileiro Sérgio Tréfaut considerou hoje que se Portugal não tomar posição face ao que se passa no Brasil, o segundo país do mundo com mais mortes e casos de covid-19, será "cúmplice de um genocídio", pelo silêncio.

Portugal não pode ser "cúmplice de um genocídio" no Brasil, diz Tréfaut
Notícias ao Minuto

19:06 - 23/06/20 por Lusa

País Sérgio Tréfaut

"Se Portugal não tomar uma posição face ao que se passa no Brasil, com mais de mil pessoas a morrerem por dia, porque o Governo de Bolsonaro não toma medidas para combater a pandemia, então está a ser cúmplice de um genocídio, pelo silêncio, e está, sim a ter uma atitude paternalista e colonialista", afirmou Tréfaut à Lusa.

O cineasta disse ter contactado o gabinete do primeiro-ministro português, enviado uma carta-aberta ao Presidente da República e depois ter tido uma conversa telefónica com Marcelo Rebelo de Sousa, e pedido audiências aos partidos políticos.

Para Sérgio Tréfaut, o que se passa em Portugal é que "há uma consciência do horror" que se está a passar no Brasil, mas existe um receio de intervir e, por isso, "prefere-se o silêncio".

Na opinião do cineasta, uma posição contra o Governo de Jair Bolsonaro "não é uma coisa de esquerda", é uma questão de solidariedade para com os brasileiros que estão "a sofrer" e a "morrer".

Assim, "seria interessante que também as redes humanitárias" entendessem isso e se solidarizassem com o povo brasileiro.

Sérgio Tréfaut, filho de um português e de uma francesa, nasceu em São Paulo, mas estudou e viveu muito anos em Portugal, distinguindo-se como cineasta, na área do documentário.

O seu filme "Lisboetas", sobre os novos imigrantes na Lisboa de hoje, recebeu o prémio de melhor filme português no IndieLisboa 2004.

Uma petição lançada em 09 de junho, dirigida ao presidente do parlamento pede ao Estado português que assuma, "em todas as instâncias internacionais", uma posição de solidariedade para com o povo brasileiro, a defesa dos direitos humanos, e a "condenação" do Governo de Jair Bolsonaro.

A petição conta com mais 1.200 assinaturas, entre elas as de Alice Vieira, Ana Benavente, Anabela Mota Ribeiro, Cristina Reis, Eduardo Paz Ferreira, Fernando Rosas, Francisco Louçã, Inês Gonçalves, Inês Pedrosa, Irene Flunser Pimentel, Jacinto Lucas Pires, Joana Mortágua, João Arsénio Nunes, José Manuel Costa, Maria de Medeiros, Mário de Carvalho, Miguel Vale de Almeida, Odete Ferreira, Pilar del Río, Richard Zimler, Rita Cabaço, Rita Rato, Rui Vieira Nery, Rui Zink, Susana de Sousa Dias, Teresa Villaverde, Tiago Rodrigues e Zeferino Coelho.

A Casa do Brasil, o Coletivo Andorinha, a Rede sem Fronteiras e a plataforma Brasilemluto.pt convocaram uma conferência de imprensa para quarta-feira, na Casa do Alentejo, em Lisboa, para apresentar a petição, que tem por objetivo chegar às quatro mil assinaturas para ser discutida na Assembleia da República.

Mas, no seguimento das novas orientações das autoridades relativamente à pandemia de covid-19 em Portugal, foi suspensa a iniciativa presencial.

A petição, também promovida por Sérgio Tréfaut, tem como título "Pela democracia e contra o genocídio no Brasil".

"O Brasil, suas instituições, seu povo não podem continuar a ser agredidos por alguém que, ungido democraticamente ao cargo de Presidente da República, exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático, atentando, a um só tempo, contra os poderes legislativo e judiciário, contra o Estado de direito, contra a saúde dos brasileiros", refere o texto.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 472 mil mortos e infetou mais de 9,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.540 pessoas das 39.737 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados e de mortos (mais de 1,1 milhões de casos e 51.271 óbitos), depois dos Estados Unidos da América.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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