Acreditar de Lisboa é 'casa' para pais de crianças com cancro há 20 anos
Desde que abriu portas há 20 anos, a Casa Acreditar de Lisboa tornou-se um porto de abrigo para quase 500 famílias que tiveram de deixar as suas casas para acompanhar os filhos em tratamento no Instituto Português de Oncologia.
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País Acreditar
O sonho de construir esta casa junto ao IPO de Lisboa nasceu há cerca de 30 anos quando um grupo de pais que acompanhavam os seus filhos internados na instituição se apercebeu de que muita coisa poderia ser melhorada para dar mais conforto, mais apoio e mais informação a estas famílias, contou à agência Lusa Ansfriede Zwaagstra, uma das fundadoras da Acreditar.
Foi nessa altura que começou o movimento que levou à criação da Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro e mais tarde à abertura das casas em Lisboa, Porto e Coimbra.
Os pais que começaram o projeto eram de Lisboa, mas viam à sua volta famílias que tinham de fazer longas viagens para ir a uma consulta ou fazer tratamentos no hospital.
"Ir a uma simples consulta com o filho quando vivemos em Trás-os-Montes, Moura, Beja, ou Faro é uma saga. Temos de sair muito cedo de ambulância com uma criança em jejum para chegar a um laboratório de análises no IPO de Lisboa, Porto, Coimbra seja onde for", disse Ansfriede Zwaagstra, holandesa, que vive em Portugal há 40 anos.
Portanto, disse, era preciso fazer alguma coisa para ajudar estas famílias que tinham de ficar em hotéis, nos carros ou em casas de familiares ou amigos para acompanhar os filhos. Foi deste anseio que nasceu a Casa de Lisboa em abril de 2003, com a ajuda de "um enorme donativo" de um banco e da autarquia que cedeu o terreno.
Sofia Maciel, cuja filha esteve em tratamento no IPO há 11 anos, viveu quase um ano na Casa Acreditar, que continua a ser "o porto de abrigo" da família quando vem de Viana do Castelo para uma consulta de rotina no IPO.
Tudo começou no Hospital de Viana do Castelo, seguindo-se o Hospital São João, no Porto, e por último o IPO de Lisboa, um percurso que obrigou a família a andar de hotel em hotel e com as malas sempre dentro do carro.
"Estivemos em hotéis no Porto, em hotéis em Lisboa, mas era uma situação insustentável em termos de custos. Quando nos apercebemos do diagnóstico e do que nos esperava, pedimos ajuda no IPO e fomos encaminhados para a Acreditar, onde fomos logo recebidos e tivemos um quarto", contou à Lusa.
A filha estava internada, mas como a casa é mesmo ao lado do IPO, os médicos deixavam-na sair. "Era essa a vantagem", comentou, notando "o conforto enorme" de estar junto ao hospital.
Outra vantagem é o que se aprende com a experiência das famílias que já vivem na casa. "Lembro-me de estar lá em tratamentos com a Mara e já conhecermos pessoas que vinham só para consultas e hoje já somos nós que vamos só para consultas e ajudamos as famílias que estão para ficar".
"Tenho uma filha exemplar nesse aspeto, ela chega e enche logo o coração de toda a gente de esperança pelo bem que está e pela forma especial como continua a tratar todos os meninos", contou Sofia Maciel.
A mãe de Mara destacou também a importância desta residência gratuita para as famílias numa altura em que "as vidas param" e as "contas em casa continuam a cair", bem como a possibilidade de dar às crianças "todas as experiências possíveis" como ir ao teatro ou assistir a um concerto da Xana Toc Toc.
"Todas essas experiências seriam impossíveis e impensáveis até pela nossa disposição enquanto pais se estivéssemos sozinhos", disse, rematando: "Às vezes os adultos também precisam deste miminho".
Neste momento, a casa está a ser ampliada para acolher 32 famílias em simultâneo e alargar o apoio até aos 25 anos.
Ansfriede Zwaagstra salientou as "condições fantásticas" da casa e o "grande apoio" que é para o IPO, que pode enviar as crianças para casa, "sabendo que se houver algum problema é mais rápido atravessar a rua do que ir de um pavilhão para outro".
As famílias são referenciadas para a Acreditar por uma assistente social e vêm de locais distantes, principalmente da Madeira, Açores, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e do sul do país.
O tempo médio de estada são 35 dias, mas há famílias que ficam uma ou duas noites e outras mais de dois anos.
Muitas vezes, contou Ansfriede, a mãe está a acompanhar a criança no internamento, mas tem o quarto na Acreditar: "Quando pode vai para casa, cozinha, faz o almoço, o jantar, toma banho, trata da roupa... Sai, porque ficar 24 horas dentro de um quarto, eu estou a falar por experiência própria, é insuportável, é para ficar doida".
Além disso, a mãe pode trazer para a casa o resto da família.
"A distância cria angústia, ansiedade. Muitas vezes, os irmãos sentem-se excluídos porque a atenção vai toda para a criança doente e assim podem estar juntos".
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