Maddie? Encontrar vestígios identificáveis é "hipótese bastante remota"
O Notícias ao Minuto conversou com Filipe Santos, sociólogo e autor do livro 'Do Meia Culpa a Madeleine McCann: Casos mediáticos e genética forense em Portugal', que considera que a hipótese de se encontrar restos mortais de Madeleine McCann é "bastante remota".
© Horacio Villalobos/Getty Images
País Madeleine McCann
Foi na segunda-feira que foi noticiado que as autoridades iriam realizar buscas, entre terça e quarta-feira (entretanto prolongadas até quinta-feira), na barragem do Arede, em Silves, no âmbito do desaparecimento de Madeleine McCann. Passados mais de 16 anos desde que a criança foi vista pela última vez na Praia da Luz, o que será expectável encontrar?
Ao Notícias ao Minuto, Filipe Santos, sociólogo do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e autor do livro 'Do Meia Culpa a Madeleine McCann: Casos mediáticos e genética forense em Portugal', explicou que será possível identificar a criança britânica se forem encontradas ossadas. No entanto, trata-se de uma hipótese já "bastante remota".
"Poderão eventualmente conseguir encontrar alguma parte do osso que contenha medula, que possa ajudar a identificar… Mas é uma hipótese bastante remota", sublinhou.
O investigador lembrou outros casos, como as vítimas da Guerra dos Balcãs e do 11 de Setembro, que estão a ser identificadas "com recurso a tecnologias de certificação de perfis de ADN". Nestes casos, como poderá acontecer com Madeleine McCann, o objetivo será "não identificar o indivíduo, mas, através do ADN familiar, identificar uma linha materna ou paterna que possa levar à verificação das pessoas".
No entanto, "mesmo com muito tempo, é um processo realmente complexo" e "longo", que acrescenta ao facto de, "numa barragem, existirem sempre vestígios, resíduos, ou até ossadas de animais que faleceram".
"Se encontrarem ossadas, primeiro vai ser preciso determinar a espécie, depois é necessário encontrar material que seja fiável [para a sua identificação]", sublinhou Filipe Santos, acrescentando que "há muitos fatores envolvidos na degradação de material biológico, como a humidade e o oxigénio".
"O tempo é o pior inimigo da investigação criminal"
De acordo com o especialista, "o tempo é o pior inimigo da investigação criminal, não só na memória das testemunhas - que se esquecem -, mas também nos vestígios - que desaparecem". E, no caso de Maddie, "já passaram muitos anos".
"O tempo é sempre o pior inimigo da investigação criminal. Passarem dois dias é mau, passarem 16 anos é ainda pior", destacou.
Filipe Santos sublinhou, contudo, que "só a procuradora alemã sabe o que procura" e lembrou que o suspeito pelo desaparecimento de Maddie, Christian Brueckner, "cometeu vários crimes em Portugal".
Lembrou ainda que em 2008 foram realizadas buscas, a título privado, no mesmo local "e um outro investigador que lá esteve com máquinas nada encontrou".
Sobre a possibilidade de as autoridades estarem a realizar buscas no sentido de encontrarem roupas da criança, Filipe Santos questionou "que vestígios poderão existir". "A menos que houvesse uma camisola com um bordado a dizer ‘Madeleine McCann’...", sublinhou.
O especialista questionou ainda se as autoridades estão a ter em conta "o nível da água", que "varia", e o "tempo" que já passou desde o desaparecimento da criança, sublinhando que "as barragens são muito complicadas para recuperar seja o que for".
O caso do 'serial killer' de Santa Comba Dão, que colocou duas vítimas em barragem
Neste sentido, recordou o caso do 'serial killer' de Santa Comba Dão, referindo-se ao ex-GNR António Costa, que matou três jovens e se desfez dos corpos. Neste caso, uma das vítimas "foi envolvida em sacos e atirada ao mar". Passados uns dias, o "corpo deu à costa porque o mar devolve".
Já no caso das outras vítimas, que foram colocadas numa barragem, o caso foi diferente. Numa das vítimas, apenas foi encontrada uma "peça de roupa e um fémur" seis meses após o seu desaparecimento, durante trabalhos de limpeza da barragem. Os restos mortais da última jovem foram encontrados a três quilómetros de distância do local indicado pelo homicida.
"Se no caso da Maddie estão à procura no sítio onde ele diz ter estado ou onde esteve a carrinha e, imaginando que ele enterrou o corpo ou o meteu na água, estamos com 16 anos de água que mexe, que enche, onde há movimento, o corpo pode estar bastante longe", sublinhou Filipe Santos.
As buscas foram desencadeadas por uma investigação da polícia alemã, que suspeita do envolvimento de Christian Brueckner, detido no país de origem por violação, no desaparecimento da criança britânica na Praia da Luz, em Lagos, em 2007.
A operação está a ser realizada pela Polícia Judiciária, em conjunto com as autoridades alemãs e inglesas.
A polícia alemã suspeita que Christian Brueckner esteve envolvido no desaparecimento da criança, que em 2007 tinha três anos, e as pesquisas policiais incidem numa zona da barragem do Arade que terá sido frequentada pelo cidadão alemão durante a sua estadia em Portugal.
[Notícia atualizada às 07h26 de quinta-feira]
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