Mãe de Lucas Miranda "espera que a justiça seja realizada" no julgamento
A leitura da sentença dos dois jovens acusados do homicídio do jovem, em Setúbal, foi na quarta-feira adiada devido à greve dos funcionários judiciais.
© Carlos Pimentel/Global Imagens
País Tribunais
Na sequência do (novo) adiamento do julgamento dos jovens Leandro Vultos e Ricardo Cochicho, na quarta-feira, pela morte de Lucas Miranda, em outubro de 2020, o Notícias ao Minuto entrou em contacto com o consultor forense João de Sousa, que falou em representação da mãe adotiva da vítima, Jéssica Nova.
"A Jéssica está ansiosa. Está a ser um processo difícil, de desespero total e espera que a justiça seja realizada", começou por dizer o consultor, confirmando o adiamento do julgamento.
Nas suas redes sociais, a mãe do jovem, então com 15 anos, mostrou-se revoltada com a situação. "Isto é uma vergonha! Agora não se sabe quando será...", escreveu numa publicação na rede social Facebook.
Segundo o consultor, o juiz afirmou-se "surpreendido" pela greve dos funcionários judiciais e terá informado os advogados de uma alteração não substancial dos factos.
Apesar da aproximação das férias judiciais, no mês de agosto, João de Sousa tem esperança que a leitura da sentença ocorra antes desse período, uma vez que, com a alteração das acusações dos arguidos, "há risco sério" de fuga.
A procuradora do caso pede entre 21 e 23 anos de prisão efetiva para os jovens Leandro Vultos e Ricardo Cochicho.
Jéssica Nova apresentou "um requerimento ao Tribunal do Juri, solicitando novas diligências e a acusação pela assistente". Assim, juntou a acusação particular ao despacho de acusação do Ministério Público contra os dois jovens suspeitos e pediu uma nova autópsia, por entender que "existem incongruências entre a análise e fundamentos dos relatórios e as suas conclusões, nomeadamente relativamente a qual a causa, ou quais as causas, de morte".
A acusação da assistente sustenta ainda que, depois de o arguido Leandro ter aplicado um golpe de mata-leão (uma técnica de estrangulamento) que deixou Lucas Miranda inanimado, "os arguidos agrediram violentamente o crânio de Lucas Miranda, com socos, com paus e outros objetos contundentes, tirando-lhe, desse modo, a vida".
"Existe contradição (que pode ser meramente aparente, razão pela qual é necessária nova perícia ou, pelo menos, análise colegial dos relatórios entre peritos e o consultor técnico indicado pela assistente), entre a análise e a fundamentação dos relatórios e o que consta das suas conclusões como causa de morte, que urge esclarecer tendo em vista a descoberta da verdade material", defende ainda a acusação da assistente no documento a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
O Ministério Público acusou então Leandro Vultos dos crimes de homicídio qualificado e profanação de cadáver, enquanto Ricardo Cochicho está acusado de ser cúmplice na prática do crime de homicídio qualificado e coautor de profanação de cadáver.
De recordar que, aquando da sua morte, Lucas Miranda estava institucionalizado no Centro Jovem Tabor, em Lisboa, juntamente com os seus alegados homicidas.
Relembre o caso
O jovem Lucas Miranda foi acolhido no Centro Jovem Tabor em 2 de outubro de 2020, por decisão da mãe adotiva, o que o terá feito sentir-se rejeitado e manifestar a outros jovens da instituição o desejo de morrer, alegando que só não se suicidava por falta de coragem.
O homicídio de Lucas Miranda ocorreu numa altura em que os três jovens, a vítima e os dois arguidos, se encontravam nas imediações do Centro Jovem Tabor, uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) sob a dependência da Diocese de Setúbal da Igreja Católica, que acolhe jovens com dificuldades de inserção na sociedade e onde a vítima e os dois arguidos estavam institucionalizados.
De acordo com a acusação do Ministério Público, Lucas Miranda terá sido assassinado na manhã do dia 15 de outubro de 2020, por asfixia mecânica, depois de o arguido Leandro Vultos, que estava acompanhado por Ricardo Cochicho, lhe ter aplicado um golpe de mata-leão.
O Ministério Público sustenta também que, depois de consumarem o crime de homicídio, os dois arguidos terão tentado criar um cenário que desse a ideia de um suicídio por enforcamento, mas acabaram por abandonar essa ideia e esconderam o cadáver de Lucas Miranda, atirando-o para o interior de um poço seco perto do Centro Jovem Tabor.
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