Indústria de curtumes atravessa "dificuldades" mas espera retoma em 2025
A indústria de curtumes está a atravessar dificuldades devido à crise no setor do calçado, mas permanece confiante na retoma das encomendas já em 2025, disse à Lusa a associação portuguesa do setor.
© Reuters
País Associação
A Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes (APIC) levou cinco empresas à mais importante feira asiática de couro, acessórios e componentes para calçado, a Asia Pacific Leather Fair (APLF) 2024, que decorreu entre terça e quinta-feira em Hong Kong.
O secretário-geral da APIC, Gonçalo Santos, disse que houve muitas empresas que escolheram não participar na feira "porque estão a ter algumas dificuldades financeiras resultantes da falta de encomendas".
O principal destinatário da produção da indústria portuguesa de curtumes, com uma quota de cerca de 50%, é o setor do calçado. Mas as exportações portuguesas de calçado caíram 8,2% em 2023, para 1,84 mil milhões de euros.
"Infelizmente temos já várias empresas de calçado que apresentaram falência. O mercado colocou as empresas em Portugal em dificuldade e depois, naturalmente, nós também ficamos em dificuldade", lamentou o secretário-geral da APIC.
Mas Gonçalo Santos, que participou em Hong Kong numa reunião do Conselho Internacional de Curtidores, sublinhou que "esta é uma crise mundial". "Todos os países fecharam o ano passado com quebras nos volumes quer de faturação, quer de produção", acrescentou.
O dirigente apontou como fatores o impacto da guerra na Ucrânia, o aumento dos custos energéticos, a subida das taxas de juro e o crescimento da inflação, mas disse que o principal desafio tem a ver com o excesso de inventário das grandes marcas internacionais de moda.
O secretário-geral da APIC disse que 2024 "será um ano para aguentar, para as empresas terem muita atenção ao controlo dos custos e conseguirem obter as encomendas que são necessárias para manter a estrutura a funcionar".
A indústria portuguesa de curtumes, que fornece também setores como a marroquinaria, o mobiliário e transportes, fatura uma média anual de 410 milhões de euros e emprega, direta e indiretamente, cerca de 3.500 trabalhadores.
Gonçalo Santos disse acreditar que em 2025 poderá haver uma retoma, para a qual "o mercado asiático e a China em particular são fundamentais".
Mas o dirigente associativo avisou que "as empresas deverão procurar, dentro das suas possibilidades, estruturarem-se para acompanhar o mercado asiático com mais permanência, através de agentes e de estruturas comerciais locais".
A APLF regressou à região semiautónoma de Hong Kong após um interregno de três anos, que incluiu duas edições no Dubai, devido às restrições impostas pela China à entrada de visitantes devido à pandemia de covid-19.
Gonçalo Santos sublinhou a importância do contacto cara-a-cara com compradores asiáticos de um material "que é muito sensorial, tem de se tocar a pele para se sentir a textura, o brilho".
O regresso a Hong Kong também ajudou o setor português dos curtumes a confirmar que continua a ser competitivo, apesar de haver rivais asiáticos, como a Indonésia, Vietname e Myanmar (antiga Birmânia), onde os salários e custos são muito baixos, disse o dirigente.
Gonçalo Santos defende que Portugal tem de aproveitar "o grande know-how" para afirmar a sua produção através do design e da inovação, assim como da garantia da proteção ambiental e "do respeito pela pessoa humana".
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