Ex-FP-25 reconhecem que projeto "falhou" mas recusam arrependimento
Três ex-membros das FP-25 assumem hoje que o projeto que defenderam com armas nos anos 1980 não vingou e foi derrotado, mas recusam arrependimento, apelando a que se avalie a sua ação no contexto da época.
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País 25 de Abril
No âmbito dos 50 anos do 25 de Abril, três ex-membros das Forças Populares 25 de Abril (FP-25) aceitaram falar à Lusa sob a condição de manterem o anonimato, por terem hoje vidas estabelecidas, com filhos e empregos, e estarem plenamente integrados na sociedade portuguesa.
Responsáveis por 13 mortes e dezenas de atentados e assaltos a bancos ao longo de sete anos, as FP-25 protagonizaram a sua primeira ação no dia 20 de abril de 1980, com a explosão de petardos em todo o país e a divulgação de um "Manifesto ao Povo Trabalhador" que servia como declaração de intenções da organização.
Nesse documento, a organização considerava que o 25 de Novembro de 1975, "levado a cabo pelas forças da burguesia, apoiadas pelo imperialismo, conseguiu travar o avanço dos trabalhadores e as suas conquistas" e era necessário "impedir a caminhada a passos largos para o restabelecimento do poder dos 'velhos senhores'".
"Assim, militantes que de armas na mão lutaram contra a ditadura, o imperialismo e o colonialismo, integrados em várias organizações, entenderam ser este o momento de, com a força que lhe advém da razão e justeza da sua luta, responder com violência revolucionária à violência que diariamente se abate sobre quem trabalha", lia-se nesse manifesto.
À Lusa, um dos ex-membros das FP-25 salienta que o objetivo da organização era "ir além do golpe militar" de 25 de Abril de 1974 e, com a abertura criada pela revolução, "instaurar um regime de poder popular, em que as pessoas fossem eleitas diretamente das bases, não por representação, nem pelo tempo de antena que tinham, para os órgãos de poder".
"Fomos derrotados. Tivemos de reconhecer que não conseguimos o que queríamos, e chegou-se a um consenso de pacificar e de não continuarmos a atividade", admite um antigo operacional, condenado a 15 anos de prisão no julgamento de Monsanto.
Apesar de utilizarem formulações diferentes para reconhecer a derrota do projeto - "falhou nitidamente", "não adiantámos muito", "os nossos objetivos não foram de maneira nenhuma conseguidos" -, os três antigos membros são também unânimes em recusar qualquer arrependimento por terem participado nas FP-25, pedindo que se contextualize a sua ação no período histórico.
Na época, apenas cinco anos após o PREC, assistia-se ao esmorecimento de forças e figuras da extrema-esquerda que, anos antes, tinham sido centrais na vida política portuguesa, como Otelo Saraiva de Carvalho, que apenas obteve 1,46% nas presidenciais de 1980 e que, depois, se tornaria alegadamente membro das FP-25, o que sempre recusou.
Em sentido contrário, a democracia representativa começava a consolidar-se, assim como partidos de centro-direita e de direita, como o PPD/PSD e o CDS-PP, que formaram o seu primeiro governo precisamente em 1980, liderado pelo então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro.
"Hoje em dia, é difícil perceber o que se passou naquela altura, porque os tempos eram conturbados e não havia a pacificação que hoje em dia se diz que havia. Havia bastantes lutas e não havia paz social, havia uma tentativa de avanço de forças da direita que nós tentámos travar", contextualiza um dos antigos membros das FP-25, que compara a situação com a de figuras como o ex-primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que, após o 25 de Abril, foi dirigente do MRPP.
Outro, que foi julgado como dirigente das FP-25, considera que as ações da organização, apesar de "todos os erros, se justificaram plenamente", porque incentivaram o poder político a encetar reformas como o fim das barracas, dar mais direitos aos trabalhadores nas fábricas ou assegurar que os fundos da CEE eram efetivamente investidos nas empresas e não em interesses particulares.
"Nós marcámos um pouco a história deste país e, aliás, naquela altura e naquelas condições, fizemos aquilo que tinha de ser feito", destaca, salientando que as FP-25 não eram compostas por uns "arrivistas e uns revolucionários que só queriam andar com armas nas mãos", mas por gente "extremamente simples" que lutava "por um projeto, um princípio e tinha um objetivo".
Quanto ao recurso à violência como método de ação política, uma das poucas mulheres que pertenceu às FP-25 diz à Lusa que, com a idade atual, percebe quem considera que não se justificou, mas salienta que "é tudo uma evolução".
"As FP-25 foi um sonho de tentar mudar este país que estava a cair para um lado que não estava muito bem. Nós éramos muito jovens e cheios de garra e, quando nós somos jovens, temos uma força de vida e uma vontade de fazer aquilo que pensamos e achamos que está correto. Depois, as coisas vão mudando com a idade", afirma.
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