Palestina insta governo português a "apoiar verdadeiramente os palestinianos"
O embaixador da Palestina em Lisboa instou hoje o governo português a "apoiar verdadeiramente os palestinianos", juntando-se aos países europeus que reconheceram um Estado palestiniano independente e soberano.
© Lusa
País Palestina
Nabil Abuznaid saudou o reconhecimento hoje dado nesse sentido pela Espanha, Irlanda e Noruega, admitindo que não espera que Portugal o faça em breve e que "não gosta" de ver as autoridades portuguesas "no fim da lista" dos Estados que irão reconhecer, em breve, a Palestina.
"Não há nenhuma razão para que Portugal não esteja no topo da lista. Porque é que não está hoje ao lado da Palestina? Espero que não seja demasiado tarde para o fazer e tenho a certeza de que os palestinianos não esqueceriam essa posição de Portugal em relação à Palestina. Mas, infelizmente, ainda não aconteceu e instamos o governo português a fazê-lo e a apoiar verdadeiramente os palestinianos", afirmou o diplomata em entrevista à Lusa.
"Portugal não o vai fazer em breve. Não gosto de ver Portugal no fim da lista porque temos boas relações com Portugal", acrescentou Abuznaid, lembrando que a "mensagem" hoje enviada por Espanha, Irlanda e Noruega é destinada sobretudo ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, avisando-o de que se trata de território palestiniano.
Mas a mensagem em que Portugal "falha", prosseguiu, é também destinada "aos povos oprimidos de todo o mundo" e ainda aos ocupantes, que "devem pôr fim à ocupação e todas as pessoas devem ser livres nas suas vidas, todas as pessoas têm direito a uma pátria, a um país, à liberdade".
Questionado pela Lusa sobre se Portugal tem medo de Israel, o diplomata palestiniano lembrou que "é bom ter amigos", mas dos verdadeiros, que dizem para não conduzirem quando estão bêbedos.
"[Portugal] sabe o que Israel está a fazer e conhece o governo e diz que Israel está a violar todas as leis internacionais, todas as leis humanas. E é por isso que devem aconselhar os seus amigos a parar. Já chega. É por isso que Portugal precisa mesmo de falar seriamente com os seus amigos. É como um filho. Gostamos que o nosso filho se comporte bem e que faça o que é correto. Não podem simplesmente ignorá-lo porque ele é vosso filho", respondeu.
Portugal "tem de ser honesto" com Israel e dizer-lhe "sim, tens de mudar o teu comportamento", frisou Abuznaid, lembrando que o regime de Netanyahu, alicerçado na extrema-direita e nos judeus ultraortodoxos, violou todas as leis nacionais e internacionais.
"Portugal sabe e, por isso, está na altura de o dizer, de reconhecer a Palestina, de dizer a Netanyahu que deixe de confiscar terras. Mas deve dizê-lo claramente. [...] É altura de Portugal usar a sua influência para manter boas relações com a América, com Israel, e dizer-lhes que já chega. Deixem os palestinianos viver em paz. E esta é a única maneira de Israel viver em paz", acrescentou.
Espanha, Noruega e Irlanda reconheceram hoje formalmente a Palestina como Estado, juntando-se a mais de 140 países que já o fizeram em todo o mundo num momento em que Israel tem em curso, desde outubro, uma ofensiva militar na Faixa de Gaza.
O conflito foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita de 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que provocou mais de 36.000 mortos e uma grave crise humanitária, segundo o Hamas, que governa o enclave palestiniano desde 2007.
O Governo israelita condenou Espanha, Irlanda e Noruega, argumentando que estes países enviam a mensagem aos palestinianos de que "o terrorismo compensa".
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