Investigação alerta para urgência de reduzir impacto humano no meio aquático
Reduzir o impacto humano no meio aquático permite evitar a libertação de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, contribuindo para controlar as alterações climáticas, concluiu uma investigação onde participaram 150 investigadores de 40 países, foi hoje anunciado.
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Liderada por investigadores norte-americanos de universidades e instituições científicas de Oakland, Geórgia, Utah, Virgínia e Estadual de Kent, a investigação, agora publicada na revista Science, incidiu sobre 550 rios em todo o mundo e teve a participação de três cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
"Precisamos de minimizar os impactos humanos nas águas doces para gerir de forma mais eficaz o ciclo global de carbono", alertaram os investigadores da FCTUC, citados numa nota de imprensa hoje enviada à agência Lusa.
O comunicado frisa ainda que o estudo estimou as taxas de decomposição de matéria orgânica em ecossistemas de água doce -- que são uma fonte de emissões de carbono -- a nível global.
"A decomposição de matéria orgânica produzida pela floresta que ladeia os cursos de água é um processo fundamental nos ribeiros florestados, estando na base das teias alimentares aquáticas", enfatizou.
No trabalho de campo realizado nos 550 rios a nível mundial, os cientistas realizaram "um ensaio padronizado para avaliar a taxa de decomposição de pequenos pedaços de tecidos de algodão (constituído maioritariamente por celulose, um composto vegetal muito abundante na Terra)", assinalou a UC.
Com base nestes testes, os investigadores utilizaram modelos preditivos e algoritmos de aprendizagem automática (machine learning, em inglês, uma das principais técnicas utilizadas na inteligência artificial) "para estimar as taxas de decomposição de celulose e de folhas de várias espécies em várias áreas do globo", explica o comunicado.
Acrescenta que os resultados da investigação "mostraram maiores taxas de decomposição em áreas agrícolas densamente povoadas (Estados Unidos, Europa e Sudeste Asiático)", sendo que aquilo que resulta dos escoamentos agrícola e urbano "é um dos principais contribuidores para o aumento das emissões de carbono responsáveis pelas alterações climáticas".
"Quando pensamos em emissões de gases de efeito de estufa, tendemos a associar às emissões dos automóveis e da indústria, mas os ecossistemas aquáticos também libertam dióxido de carbono e metano, em resultado dos processos naturais que lá ocorrem", revelou, citada na nota, Verónica Ferreira, investigadora do departamento de Ciências da Vida (DCV) e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da FCTUC.
Por seu turno, Cristina Canhoto, professora do DCV e investigadora no Centro de Ecologia Funcional, vincou que a decomposição de detritos vegetais é um processo fundamental nos ecossistemas de água doce.
"Mas quando as atividades humanas adicionam nutrientes (como fertilizantes), elevam a temperatura dos cursos de água e as taxas de decomposição também aumentam, levando à libertação de mais CO2 para a atmosfera", observou a cientista.
O comunicado da FCTUC notou ainda que a investigação mundial "aponta, de forma inequívoca, para o impacto determinante que os seres humanos estão a ter nas taxas de decomposição da matéria orgânica nos rios à escala global".
Esta descoberta está ilustrada nos mapas apresentados no artigo científico, que podem ser consultados, com acesso gratuito, numa página construída pelos principais autores do estudo, disponível em https://shiny-bsci.kent.edu/CELLDEX/.
"Esta ferramenta de mapeamento 'online' permite que qualquer pessoa perceba com que rapidez os diferentes tipos de folhas se podem decompor nos rios locais", assinalou o investigador do MARE Manuel Graça, acrescentando que a sua utilização "permite obter uma estimativa das taxas de decomposição foliar mesmo em rios que não tenham sido alvo de investigação prévia".
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