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Abusos. Dados da comissão independente destruídos por questões de sigilo

O coordenador da extinta comissão independente que estudou os abusos sexuais na igreja católica reagiu hoje às críticas do Grupo VITA sobre dificuldades de acesso a dados, esclarecendo que por questões de sigilo os dados foram destruídos.

Abusos. Dados da comissão independente destruídos por questões de sigilo
Notícias ao Minuto

20:17 - 18/06/24 por Lusa

País Grupo VITA

"Como o próprio Grupo VITA sabe e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi informada e concordou, os nossos dados foram sempre em registo anónimo e posteriormente destruídos pela nossa parte, a fim de garantir o sigilo pessoal, sempre por nós assegurado desde o inicio do estudo a toda e qualquer pessoa que nele participasse com o seu testemunho", esclareceu o pedopsiquiatra Pedro Strecht, em resposta à Lusa.

Segundo Pedro Strecht, o acesso informático à base de dados era "mega blindado, algumas vezes alterado e nunca nenhum membro da comissão independente teve acesso pessoal ou exclusivo ao mesmo, durante ou depois do estudo, cumprindo rigorosamente regras internacionais de proteção de dados neste tipo de estudo".

O Grupo VITA adiantou hoje estar a sentir dificuldades no acesso a informações sobre as vítimas ouvidas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que apresentou o seu relatório em fevereiro de 2023.

Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa e que entrou em funcionamento em maio de 2023 com o objetivo de acompanhar as vítimas de violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal, disse hoje, em Fátima, que ainda não receberam "qualquer informação da Comissão Independente".

"Ainda antes de entrarmos em funcionamento (...) fizemos uma série de diligências e iniciativas e uma delas foi exatamente uma reunião de todos nós [Grupo VITA] com todos os elementos da Comissão Independente e salientámos a necessidade de partilha de informação", disse Rute Agulhas, na sessão de apresentação do segundo relatório de atividades da estrutura que lidera.

A psicóloga adiantou que, depois disso, houve duas vítimas que, ao contactarem com o Grupo VITA, disseram "'eu já partilhei com a comissão independente e eu autorizo, eu consinto, e vou pôr por escrito esse consentimento para que a Comissão Independente partilhe com o Grupo VITA a informação de que dispõe'".

"Numa dessas situações nós não recebemos nada e na outra situação recebemos um parágrafo de informação. Manifestamente pouco para o que necessitamos de recolher", adiantou, sublinhando que o Grupo VITA não sabe onde estão esses dados que "são dados sensíveis, que são propriedade da Igreja em bom rigor, porque foi a Igreja que encomendou esse estudo".

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal iniciou a recolha de testemunhos de vítimas em 11 de janeiro de 2022, tendo validado, até ao final de outubro desse ano, 512 denúncias das 564 recebidas, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas desde 1950.

Aquando da apresentação do seu relatório, em 13 de fevereiro de 2023, a equipa liderada por Pedro Strecht defendeu a constituição de uma nova "comissão para continuidade do estudo e acompanhamento do tema", com membros internos e externos à Igreja.

Neste contexto, a Conferência Episcopal procedeu à criação do Grupo VITA.

Leia Também: Grupo VITA com dificuldades em aceder a dados da Comissão Independente

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