Autarca da Amadora pede que "Governo tome posição" sobre desacatos
O presidente da Câmara da Amadora, Vítor Ferreira, pediu hoje ao Governo que tome uma posição sobre os tumultos em bairros da Área Metropolitana de Lisboa (AML), salientando que os desacatos já ultrapassaram o território do seu município.
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País Amadora
"É preciso e é urgente que o Governo tome uma posição também sobre isto. A própria PSP [Polícia de Segurança Pública] precisa que o Governo se envolva nestas matérias", disse o autarca.
Vítor Ferreira (PS) falava à agência Lusa a propósito dos desacatos que surgiram na sequência da morte de um morador no bairro do Zambujal, no concelho da Amadora, distrito de Lisboa, após ter sido baleado pela PSP, na segunda-feira.
Notando que os desacatos começaram no seu município, mas já ultrapassaram "todo o território da Amadora", o presidente da Câmara disse que se está agora a falar de "vários problemas em bairros da AML", sendo por isso necessário que "o Governo tenha aqui uma posição".
O autarca disse ainda ter falado hoje de manhã com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "relativamente aos problemas que estão a acontecer na cidade" e sobre os quais acredita que "a própria ministra [da Administração Interna] estará atenta".
Vítor Ferreira lembrou que o "incidente está a ser alvo de investigação pelas entidades competentes" e frisou que tudo fará "para que tudo fique esclarecido, doa a quem doer".
"Ainda hoje de manhã tive uma reunião com o comandante do Comando Metropolitano de Lisboa [da PSP] e deixei isto presente: nós tudo faremos para que este inquérito chegue o mais rapidamente ao fim para que haja tranquilidade, custe a quem custar", afirmou.
Questionado acerca do trabalho que tem sido desenvolvido junto dos bairros do concelho de Amadora, o autarca considerou que se tem desenvolvido "um trabalho ativo com as várias associações que estão nesses territórios, com as juntas de freguesias, a PSP e com serviços de ação social".
Quanto ao trabalho da PSP, assegurou que tem "feito um trabalho de articulação profunda com o município da Amadora e com as freguesias envolvidas".
Referindo-se ainda aos desacatos que acontecem há duas noites em alguns bairros do concelho da Amadora, Vítor Ferreira classificou-os de "atos de vandalismo" e deixou apelos à paz e tranquilidade.
"Repugnar claramente estes atos de vandalismo, gratuitos, de poucas pessoas que moram nestes bairros, onde residem pessoas trabalhadoras, pessoas honestas, portanto, apelar aqui à paz e tranquilidade dos moradores da Amadora", disse.
"São atos inusitados, que em nada retratam o bairro [do Zambujal]. Residem lá entre cinco a seis mil pessoas. Nada disto reflete o espírito do bairro do Zambujal. Esta noite também houve atos de vandalismo no Casal da Mira e no Casal da Bôba", acrescentou.
Para o autarca, havendo um processo de inquérito, há que esperar pelos resultados porque se vive "num país democrático e a ordem pública tem de prevalecer sobre todos os outros atos".
"Este processo de investigação, custe o que custar, doa a quem doer, tem de ser clarificado ao máximo e o mais rapidamente possível para que não haja dúvidas relativamente a esta matéria", insistiu.
Num balanço aos danos causados esta noite, o presidente da Câmara da Amadora disse terem sido danificados 132 equipamentos de deposição de lixo, como caixotes e ecopontos, num prejuízo avaliado em cerca de 90 mil euros.
O autarca acrescentou que não tem ainda condições para calcular os outros danos, como paragens de autocarro e carros particulares.
Vítor Ferreira lamentou a morte de Odair Moniz, "um cidadão da nossa cidade, morador no Bairro do Zambujal", e apresentou condolências à família.
Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria a isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
[Notícia atualizada às 15h09]
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