Novo adiamento do fim do inquérito? "Não me espantaria nada"
O ex-primeiro-ministro José Sócrates disse hoje não ficar "nada espantado" se o Ministério Público adiasse novamente a conclusão do inquérito "Operação Marquês", observando que, após 44 meses de investigação, ainda não lhe apresentaram "nenhuma prova".
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"Não me espantaria nada que adiassem outra vez [a conclusão do inquérito]", disse ontem José Sócrates à saída do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), onde foi foi interrogado, pela terceira vez, pelos procuradores do Ministério Público que dirigem a investigação.
O antigo líder do PS considerou "absolutamente escandaloso" que o Ministério Público "possa não respeitar os prazos" processuais que "estão nos códigos e que é igual para todos".
Sócrates lamentou que, ao fim de 44 meses de investigação e depois de ter sido detido e preso, o Ministério Público "não tenha evidências, nem elementos, nem factos, nem provas", a não ser uma "teoria absurda", traduzidas em suspeitas "falsas e injustas" de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
"Fiquei espantadíssimo porque o Ministério Público não foi capaz de apresentar nada, a não ser uma escuta aqui, uma escuta ali, como se isso pudesse servir de base a qualquer suspeição", declarou o antigo primeiro-ministro, que criticou ainda o facto de os responsáveis da "Operação Marquês" estarem a conduzir uma investigação penal através da comunicação social.
Quanto às imputações que o relacionam com os negócios e as decissões da PT, Sócrates replicou que tais suspeitas "são absurdas" e "espatafúrdias" porque "não têm o mínimo de sustentação na realidade", aludindo, nomeadamente, à alegada intervenção que teria tido para influenciar que a OPA da SONAE não tivesse tido sucesso.
O antigo chefe do Governo socialista reiterou que a única intervenção que teve na PT, através da 'Golden Share', colidiu precisamente com os interesses de Ricardo Salgado e do BES.
"O negócio da fusão (da PT) com a OI (operadora brasileira) foi feita, muito mais tarde, em 2013. Podem pedir responsabilidades ao governo de Passos Coelho que tomou a decisão de abdicar da Golden Share", enfatizou Sócrates, observando que essa "história" em que o pretendem envolver "está muito mal contada".
Sócrates transmitiu ainda a ideia que, ao ser novamente interrogado pelo Ministério Público, desafiou os procuradores a apresentar provas daquilo que lhe imputam, mas que estes não têm factos, nem provas e que o seu "padrão" de atuação passa pela "encenação mediática" e as "campanhas de difamação" contra si, através da comunicação social.
A inquirição do ex-primeiro-ministro ocorreu dias depois de o Ministério Público ter interrogado Carlos Santos Silva, empresário e amigo de longa data de Sócrates, a quem os procuradores atribuem o papel de "testa de ferro" e fiel depositário de vários milhões de euros de 'luvas', cujo destinatário final seria o antigo líder socialista.
A ex-mulher de Sócrates, Sofia Fava, vai ser interrogada na quarta-feira e Joaquim Barroca, gestor do Grupo Lena, na quinta-feira, numa maratona de inquirições até à próxima sexta-feira, que tem aumentado as dúvidas sobre se o Ministério Público conseguirá ou não concluir a investigação no prazo (17 de março) concedido pela Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal.
A Operação Marquês, conta até ao momento, com 25 arguidos - 19 pessoas e seis empresas, quatro das quais do Grupo Lena.
Entre os arguidos estão Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, ex-administradores da PT, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia.
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