Português condecorado no Reino Unido homenageia esposa falecida
O português Lino Pires recebe na quarta-feira a Medalha da Ordem Império Britânico por beneficência e serviços prestados à comunidade, mas com pena, confessa à Lusa, por a mulher Augusta, falecida há cinco anos, não estar presente.
© Reuters
País Medalha
A distinção, atribuída pela rainha Isabel II na lista de condecorações do Ano Novo, será entregue pelo Lord-Lieutenant of Warwick, representante da rainha no condado de Warwickshire, onde este beirão, natural de Vinha, Castelo Branco, está instalado há mais de 40 anos.
Quando receber a medalha, diz Lino Pires à agência Lusa, vai pensar na companheira de mais de meio século, vítima de cancro, a quem também atribui mérito no sucesso do restaurante Butcher's Arms.
"Porque ela fez mais para a medalha do que eu", homenageia, aludindo ao "coração bondoso" e à disponibilidade da mulher para ajudar instituições locais, como a igreja, escola e grupo desportivo.
Organizaram também no restaurante eventos de angariação de fundos para instituições como a NSPCC, que apoia crianças vítimas de violência, a Associação de Doenças dos Neurónios Motores, para a Cruz Vermelha e para a unidade de investigação sobre o cancro do hospital Royal Marsden.
Uma carta deste hospital em Londres, o qual Lino Pires considera ter salvado a vida do filho Peter, contabilizava no ano passado em cerca de 268 mil libras (316 mil euros) as receitas recebidas, incluindo aquelas revertidas pela venda de mel que produz e da biografia do próprio Lino Pires, intitulada "Fantastic".
O português, de 80 anos, considera que a palavra resume bem o seu percurso com origem numa família humilde no interior do país e que culminou no restaurante que continua a dirigir em Priors Hardwick, uma aldeia a cerca de 140 quilómetros a noroeste de Londres.
Conta que comprou o pub ao cliente de um bar em 1973 às duas da manhã, selado com um aperto de mão antes de saber a localização.
"Isto não era restaurante, era uma taberna, só para 10 ou 12 clientes. Até havia indivíduos que traziam o cavalo para dentro quando vinham beber, tinham uma porta grande para isso", recorda.
Ao primeiro edifício, que remonta ao século XIV, juntaram-se mais de 20 anexos e em redor tem um jardim cuidado que o casal sempre fez questão de tratar.
A comida, admite, não é elaborada e continua a ser feita de forma tradicional "porque é a maneira como os clientes foram habituados".
Mas a qualidade da ementa, que inclui vinhos portugueses e bacalhau assado, tornou o restaurante famoso nas redondezas, atraindo personalidades da indústria automóvel da região, aristocratas, artistas e políticos.
Entre muitas recordações, Lino Pires tem fotografias junto ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, e ao antecessor John Major, uma carta de condolências da atriz Julia Andrews pela morte da esposa e uma roseira doada por John Profumo, ministro da Guerra caído em desgraça em 1963 devido a um escândalo político.
"Não há segredo, é paixão. A minha mulher tinha paixão de servir as pessoas, as crianças, as pessoas velhas. [Para] as pessoas com dificuldade em cortar o bife, ela já trazia tudo cortado e ajeitado. Foi assim que conseguimos ter clientes [habituais] há 40 ou 50 anos", sublinha.
Na imagem do restaurante, as bandeiras de Portugal e Reino Unido aparecem sempre lado a lado e à entrada é lembrada a aliança entre os dois países, firmada em 1373 e considerada a mais antiga do mundo.
Na decoração não faltam objetos tradicionais da Beira Baixa, como rocas de fiar o linho ou rodilhas para acarretar cântaros de água na cabeça.
O octogenário garante não se cansar de promover o seu país, em termos de turismo ou através dos vinhos e produtos que serve, mas admite hesitar quando as duas seleções nacionais se enfrentam no futebol, confessando: "Fico dividido".
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