"A aeronave que mudou a minha vida". Relato de uma mãe que lá esteve
Maria Ana Ferro, autora do blog 'A mãe já vai', descreveu, num testemunho emocionado, a sua experiência na praia onde a aeronave aterrou, vitimando mortalmente um adulto e uma criança.
© Global Imagens
País Caparica
O dia de ontem, quarta-feira, ficou marcado pela aterragem de emergência de uma aeronave na Praia de São João, na Costa da Caparica, e pela consequente e trágica morte de duas pessoas, entre elas uma criança de oito anos.
A autora do blog ‘A mãe já vai’ estava no local quando tudo aconteceu e foi de ‘coração nas mãos’ que escreveu um texto sobre o tema, intitulado “a aeronave que mudou a minha vida e que levou duas outras”.
A blogger dirigiu-se à praia com os três filhos, onde estiveram algumas horas e ponderavam ficar mais umas tantas, recordando que aquele podia ser “só um dia de praia que prometia o do costume”.
“Encontrámos uns amigos. Os miúdos andavam entre areia seca, o enrolar na toalha, a reposição de creme e os dentes a tremer”, escreveu, referindo que enquanto dois dos filhos estavam à beira mar, ela brincava um pouco acima.
“A Leonor subiu para pôr creme e disse-lhe: ‘mais um bocadinho e voltem para cima… Estou de pé a olhar para eles e do nada surge uma aeronave a um metro do chão. Põe as rodas na areia, levanta as rodas, volta a pôr, aterra e desliza”, conta a autora do blog ‘A mãe já vai’.
“Atirei a Luísa para o meu colo e corri. Aos gritos. Descontrolada. Fora do meu corpo. Os meus filhos! Os meus filhos! Não vejo os meus filhos! Foi isto que gritei enquanto corri. Vejo o Zé Maria primeiro, depois a Leonor e arrasto todos para a areia seca”, recorda, num texto emotivo e ao qual é difícil ficar indiferente.
Maria Ana Ferro relembra que todos os que ali estavam gritavam, choravam e procuravam alguém. “Entre os gritos e as lágrimas, a 10 metros dos meus filhos estava alguém. Deitado sem se mexer. Morto. A Leonor diz que o viu a cair de cabeça e a desmaiar. Dissemos-lhe que ele estava bem. 30 metros depois uma criança e depois a aeronave”.
A reação foi sair dali o “mais rapidamente possível”, entre lágrimas e abraços. “Questionei e agradeci e pensei naquele homem sozinho deitado ali sem um braço e nos dele que o procuravam. E na outra pessoa que eu ainda não sabia que era uma menina de 8 anos e que tinha a mãe ali. A viver o que eu só temi”, escreve.
“A minha noção da vida deles e do tamanho que ocupam em mim mudou para sempre”, remata, realçando que jamais esquecerá aquele dia trágico.
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